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Editada por André Ramalho e Gustavo Gaudarde
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EDIÇÃO APRESENTADA POR
PIPELINE Petrobras fecha, com a SCGás, seus primeiros contratos de fornecimento de gás sob as novas condições comerciais. Petroleira reduz preços em relação aos últimos contratos, mas nada de “choque de gás barato”.
Lula reforça que gás para fertilizantes é prioridade do governo. Defasagem no quadro de servidores da ANP chega a 16%. Governo do Rio quer corredor azul na Via Dutra e mais. Confira:
SEM CHOQUE DE GÁS BARATO
A Petrobras anunciou esta semana dois novos contratos de longo prazo, para fornecimento de gás natural à distribuidora catarinense SCGás. São os primeiros acordos desde que ela lançou, em maio, novos tipos de contrato, de olho nas chamadas públicas das concessionárias de gás canalizado.
A estatal prometeu preços mais competitivos e, de fato, tem apresentado propostas mais vantajosas que seus contratos mais recentes – e que a própria concorrência, em alguns casos.
Mas para por aí. Não se trata de um “choque de energia barata” – promessa do governo passado, com o Novo Mercado de Gás, e que tem sido repaginada pelo atual governo, sob a promessa de um choque de oferta de gás competitivo para a reindustrialização.
Aliás… Um dado revelador sobre a baixa competitividade do gás natural na indústria. O Balanço Energético Nacional, divulgado esta semana pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mostra que a participação do gás na indústria patinou nos últimos dez anos: em 2022, respondeu por 10,5% do consumo industrial, ante os 10,3% de 2021 e 11% de 2013.
Em Santa Catarina, inclusive, a indústria cerâmica tem buscado novas fontes de energia para substituir o gás, devido ao aumento de custos com a molécula. Portinari e Ceusa, pertencentes à Dexco, estão testando pellets (prensados de madeira) para a produção de energia térmica usada na fabricação de revestimentos. (Valor)
COM A SCGÁS
A Petrobras celebrou dois contratos de longo prazo: o primeiro de onze anos, de 2024 a 2034; e outro de nove anos, válido de 2026 a 2034. Os volumes são complementares àqueles já contratados pela distribuidora.
As duas empresas também celebraram aditivos para ajustar condições de preços e volumes de contratos mais antigos – que envolvem diferentes prazos, com vencimentos no curto (2023), médio (2025) e longo (2032) prazos.
Abre-se, aqui, uma brecha para que outras distribuidoras peçam a renegociação dos contratos vigentes – que, em muitos casos, como no Rio de Janeiro, foram alvo de judicialização e se encontram em litígio.
Os novos contratos entre Petrobras e SCGás são um termômetro para o mercado, ao indicar que comportamento esperar da petroleiras nas novas negociações. Ainda não estão públicos.
Múltiplas fontes relatam, no entanto, que o percentual do Brent (cotação do petróleo) ao qual o preço do gás está indexado está um pouco abaixo dos 12%, nos compromissos de mais longo prazo – que, em tese, são os tipo de contrato com fator Brent mais competitivo.
TRAJETÓRIA
Mais importante que os números, contudo, é o movimento: o piso que a Petrobras tem oferecido às distribuidoras, por ora, é algo muito próximo de seus patamares históricos.
Para efeitos de comparação, o percentual de Brent nos contratos que vencem no fim deste ano (2020-2023) está na faixa dos 11,6%.
É melhor, claro, que os valores praticados pela Petrobras em anos recentes: nos acordos assinados no fim de 2021, por exemplo, a petroleira embutiu o aumento dos custos com importação do GNL durante a crise hídrica e elevou, então, o fator Brent para 16,75% em 2022 e 14,4% em 2023.
Na safra de contratos de longo prazo mais recentes, com distribuidoras como Gasmig (MG), Compagas (PR), Sulgás (RS) e Potigás (RN), esse percentual ficou em 12,9%.
É também mais competitivo que alguns mais recentes da concorrência: como os 12,4% previstos no contrato entre Equinor e Bahiagás (BA) até 2026; e entre Galp e Gasmig (12,45% até 2025); e entre a portuguesa e a Sulgás (12,6% até 2026).
E aí vale a lembrança: como agente dominante, a Petrobras funciona como um importante formador de preço, estabelecendo as condições de base para os demais supridores. Um posicionamento como esse movimenta os demais agentes.
Procuradas, Petrobras e SCGás não quiseram se manifestar sobre as condições de preços e volumes previstos nos novos contratos.
A distribuidora catarinense esclareceu, contudo, que os novos acordos firmados com a petroleira contemplam indexação mista, com Brent e Henry Hub, conforme a disponibilidade do supridor.
E ESSE TAL DE HENRY HUB
Indexar o preço aqui às flutuações do mercado americano é uma composição que ajuda a reduzir a volatilidade.
Nem sequer é uma opção inédita, mas o mercado e a própria área de comercialização da Petrobras entendem que a flexibilidade ajuda a compor as estratégias, caso a caso.
Já indexar ao Brent tem sua lógica para o consumidor. O gás natural concorre com outros combustíveis que acabam afetados também pelo preço do óleo.
Funciona como um facilitador. O gás natural, seja na energia ou matéria-prima, é insumo para a indústria.
O EMBATE COM O MME
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), tem feito críticas públicas à estratégia comercial da Petrobras para o gás.
A cruzada do ministro se concentra, sobretudo, nos níveis de reinjeção praticados pela petroleira nos campos offshore, mas passa pela questão dos preços da companhia.
“Entendo que é possível que esse gás chegue em maior quantidade e de imediato em menor preço”, afirmou o ministro, em junho, ao citar o fechamento das fábricas de fertilizantes da Unigel.
A estatal, por sua vez, descarta conceder subsídios às fábricas de fertilizantes arrendadas à Unigel. E fontes da petroleira afirmam que não há pressão objetiva, neste momento, para um corte em uma canetada.
Esses contratos com as distribuidoras são a materialização do que, nos bastidores, a companhia tenta ponderar com o governo: o preço vai cair, em troca de prazos mais longos, mas sem a Petrobras abrir mão de praticar “preços de mercado”.
CONVENCE EM PARTE
Há quem chame a prática de “um PPI para o gás natural”. A Petrobras é a empresa dominante e, de fato, o mundo mudou: vendeu as distribuidoras, duas das três transportadoras de gás natural e o mercado vem experimentando uma nova fase do acesso à infraestrutura, cujo objetivo maior é a concorrência na oferta.
Mas há limites, na visão de clientes e agentes públicos envolvidos nas discussões. O Nordeste é hoje um mercado supridor, de fato, pulverizado, mas o Centro-Sul ainda tem desafios que são superados pela Petrobras: trazer o gás da Bolívia e contratar, portanto, a entrada no Gasbol (que ela desistiu de vender).
Quanto a aumentar a oferta, as novas rotas de escoamento (Rota 3, Sergipe Águas Profundas e BM-C-33), de fato, vão levar a um aumento de gás nacional – mas parte do volume virá para compensar o declínio dos campos maduros e das importações da Bolívia.
Internamente, equipes técnicas que participam das discussões com o governo rejeitam um papel por vezes atribuído à companhia, de garantidora do suprimento nacional.
E têm defendido em Brasília que é preciso explorar: abrir novas fronteiras e voltar a olhar o desenvolvimento da indústria em terra, não necessariamente com protagonismo da Petrobras.
GÁS NA SEMANA
Os fertilizantes. Se havia alguma dúvida, Lula deixou claro no lançamento do Plano Safra que a produção doméstica de fertilizantes a partir do gás natural é uma prioridade do seu terceiro mandato.
“Temos que ter capacidade, competência e disposição política de transformar esse país num país autossuficiente. Inclusive de nitrogenados”, disse. “E nós vamos fazer, estejam certos”. Mais sobre essa história do “choque de gás barato” no site: Lula deixa claro que gás para fertilizantes é prioridade;
– O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, por sua vez, afirmou que um primeiro “ajuste” na revisão do plano estratégico deve ocorrer entre julho e agosto, “com um pouco de petroquímica, fertilizantes, [com] investimento mais forte em transição energética”. (Folha de S.Paulo)
Dutra Azul. O governo do Rio de Janeiro está desenvolvendo um plano para instalação de pontos de abastecimento de alta capacidade para criar um corredor azul de GNV, GNL, biometano e, futuramente, hidrogênio. O estado vê na demanda doméstica de SP e MG um caminho para a indústria do hidrogênio. O gás, nesse plano, é a ponte (epbr).
Projeto na Alerj prevê benefício para hidrogênio azul. Proposta da deputada Zeidan (PT) prevê diferimento de ICMS na lei que disciplina benefícios fiscais no Rio para extração de minerais e outras atividades que consumam H2 produzido a partir de eletrólise da água (verde), gaseificação ou biodigestão de biomassas e gás natural com CCS. (epbr)
Menos despacho termelétrico no radar. Brasil deve terminar período seco em condições mais favoráveis dos últimos 12 anos, avalia a Thymos Energia. Segundo a consultoria, o SIN deve chegar a novembro com armazenamento médio de 65% nos reservatórios das hidrelétricas. (epbr)
Defasagem no quadro pessoal da ANP. Agência encaminhou ao Ministério da Gestão, em maio, um pedido para realização de concurso público, com 128 vagas. O número representa 16% do quadro de servidores efetivos, mas ainda pode aumentar, já que há 40 servidores aptos a se aposentar. (epbr)
- Opinião | A hora da estocagem subterrânea de gás no Brasil A estocagem subterrânea de gás natural pode ser componente essencial para uma efetiva liberalização do mercado de gás, escrevem Ivan Londres e José Roberto Faveret
Vaca Muerta. Virtual fonte futura de gás para o Brasil, se a integração energética Bolívia-Brasil-Argentina sair do papel, a expansão do gasoduto Nestor Kirschner voltou a ser assunto na 4ª visita de Alberto Fernández a Brasília. Lula enquadrou um eventual financiamento do BNDES ao projetos como suporte às exportações brasileiras (epbr)