Gás Natural

“Petrobras não sonega gás natural”; Prates afirma que toda reinjeção é necessária e que é preciso ampliar reservas

Governo trabalha na edição de um projeto de lei para criar um programa de oferta do energético, por meio da PPSA

Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT/RN), durante entrevista coletiva (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)
Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT/RN), durante entrevista coletiva (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

BRASÍLIA – O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou categoricamente que toda a produção de gás natural da Petrobras comercialmente viável está sendo entregue ao mercado.

“É reinjetado porque tem que ser (…) Não tem gás [natural] sobrando e a Petrobras não sonega gás. O que tem está no mercado”, disse nesta quarta (14/6).

Ele falou com a imprensa ao chegar para a primeira reunião do Confert, conselho interministerial que será responsável pela revisão do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), iniciado no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Diversos agentes do mercado consumidor e, mais recentemente, o próprio ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira (PSD), afirmam que há desperdícios na produção nacional de gás natural, em razão da falta de investimentos em infraestrutura, que levam o gás a ser reinjetado nos campos.

A posição da Petrobras e outros operadores offshore sempre foi que a reinjeção é técnica, serve para elevar a produção de petróleo em campos em que o gás natural é associado ao óleo – como ocorre em todos os grandes ativos do país.

“Não tem gás para tudo”

Questionado se o gás natural comercializado pela Petrobras, contudo, poderia ser utilizado nos planos em discussão no governo federal para elevar a produção doméstica de fertilizantes, Prates repetiu que todos os volumes possíveis estão disponíveis no mercado.

“O que tem gás está aí no mercado. O que a gente tem que saber é o que fazer com ele. Se vai fazer fertilizantes, se vai colocar na térmica, se vai botar no carro, se vai botar na indústria. Não tem gás para tudo”, disse o executivo.

Nos bastidores, a Petrobras argumenta com o governo – desde gestões passadas – que comprometer a produção de petróleo em favor do gás tem um saldo negativo para o país, em arrecadação, royalties e divisas.

“O país é um país petrolífero. Infelizmente, o gás é associado ao petróleo. Nós precisamos do gás para produzir o petróleo. Se alguém quiser produzir mais gás do que petróleo, todos nós vamos perder dinheiro. Não só a Petrobras, mas o país”, reforçou Jean Paul Prates.

Gás da União vs gás da Petrobras

Hoje o governo trabalha na edição de um projeto de lei para criar o Gás para Empregar, um programa de oferta do energético, por meio da Pré-sal Petróleo (PPSA), estatal que vende a produção da União na partilha.

Os setores químico e de fertilizantes são prioritários para o MME, de Silveira. Nesse programa, a intenção do ministério é fazer a permuta de óleo da União por volumes adicionais de gás natural.

A previsão é que o pico da União na segunda metade da década será de 3,2 milhões de m³/dia, pouco para atender a demanda de plantas industriais desse segmento.

O ministro Silveira, contudo, afirmou que a pasta calcula que a Petrobras pode reduzir os preços do seu gás natural.

“Os estudos do ministério demonstram, claramente, que quem deve priorizar essa política de diminuição de preço do gás natural é a Petrobras”, disse Silveira na semana passada.

Segundo ele, o programa do governo é uma política de médio prazo, para aumento da oferta e redução de preços do gás natural.

No curto, “é possível sentar na mesa e discutir, para que o gás tenha um preço mais razoável no Brasil”, disso. Segundo ele, o preço hoje é “predatório”.

Na gas week de sábado (10/6), newsletter especializada no mercado de gás natural da epbr, André Ramalho explica quais são as janelas para oferta regulada do energético, da União (Gás para Empregar) e da Petrobras, por meio de um programa de gas release. Veja na íntegra.

Brasil precisa explorar novas reservas, inclusive no exterior

Jean Paul Prates afirmou ainda que o Brasil precisa explorar novas reservas de óleo e gás natural. Chegou a citar a Rússia, grande fornecedora de fertilizantes nitrogenados.

“Temos 12 TCFs de gás de reserva [no Brasil]. A Rússia tem 1.300 [TCF]. Olha a diferença. Então, para você chegar com competitividade para fertilizantes e tudo, você precisa fazer um esforço muito grande e consertado entre consumo e produtor”, disse. “Não adianta só acusar a Petrobras de sonegar gás. Não é verdade.”

TCF é sigla em inglês para trilhão de pés cúbicos de gás natural, unidade de medida padrão do mercado internacional.

Segundo o presidente da Petrobras, não há divergências com o governo. “Precisamos juntar esforços para ir a novas fronteiras, retomar investimentos em países vizinhos, como a Bolívia, que tem reserva”.

“Não é questão política, é uma questão prática. Voltamos as costas para isso. O perfil de produção de gás natural da Bolívia caiu muito. Nós temos condições de ajudá-lo? Vamos lá ver. Não sabemos se é possível. A gente vai ver se é possível investir lá”, disse.

“Guiana, Suriname, Margem Equatorial em geral tem potencial também de gás, sempre associado com o petróleo. A Argentina tem potencial de gás”, enumerou o executivo.

Reunião com Luis Arce

Prates se reuniu com o presidente da Bolívia, Luis Arce, no fim de maio e discutiu investimentos em exploração de gás e petróleo na América do Sul.

O encontro ocorreu durante a reunião de líderes dos países da América do Sul, realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

Eles terão uma nova reunião no segundo semestre, na Bolívia, com data a definir, para discutir os acordos comerciais entre os países.

“Estamos preparando a Petrobras para uma nova fase em refino. Queremos revisitar países vizinhos, como Bolívia, Venezuela e Guiana, e debater alguns pontos como os termos contratuais, novas potencialidades de exploração de gás e a preparação das empresas para a transição energética”, disse Prates, à época.

Em abril, Prates já havia afirmado que a companhia tem interesse em discutir eventuais parcerias com a Bolívia, para exploração de novas reservas de gás natural no país vizinho.

Ele destacou que o gás boliviano é uma fonte “muito importante” para o mercado brasileiro e que “não é cara”.

“Temos potencial e possibilidade de ajudar nossos companheiros bolivianos a entender por que a queda da produção se deu. Provavelmente, falta capacidade de financiamento”.