A Petrobras manteve o curso ao atualizar seu plano de negócios para os próximos cinco anos, com foco na produção de óleo em campos de alta produtividade, com redução da intensidade de emissões.
Isto é, a estratégia de elevação da lucratividade, de uma gestão marcada pela forte distribuição de lucros.
Publicado nesta quarta (30/11), às vésperas do novo governo Lula, o plano nasce com a promessa de revisão, para ampliar os aportes em áreas com menos espaço no orçamento.
Os projetos totalizam um investimento de US$ 78 bilhões entre 2023 e 2027, uma elevação de US$ 10 bilhões em relação ao ciclo anterior.
O aumento reflete principalmente a disparada dos preços do óleo, elevação do câmbio e a inclusão de novos projetos de produção de óleo e escoamento de gás em 2027 e contratação de FPSOs próprios para entrada em operação pós-2027.
O plano anterior, fechado ainda no rebote da pior fase da pandemia, tinha por premissa um barril de petróleo entre US$ 65 e US$ 55, até 2027. O novo é calculado sobre um óleo variando de US$ 85 a US$ 65 no período.
Destaques do plano de negócios da Petrobras
- Os US$ 78 bilhões estão distribuidos em exploração e produção (83%); refino (10%); gás e energia (2%); em comercialização e logística (2%) e investimentos corporativos (3%).
- Diluido nas áreas, há US$ 4,4 bilhões (6% do total) para descarbonização, a maior parte para produzir óleo e gás e produtos refinados com menor intensidade de carbono;
- Meta é elevar a produção de 2,6 milhões de barris equivalentes de óleo e gás (boe) por dia, em 2023, para 3,1 milhões em 2027.
- US$ 64 bilhões são destinados ao aumento de produção – instalação ou contração de 20 novos FPSOs; construção de poços; e exploração das bacias do Sudeste, com foco no pré-sal, e na Margem Equatorial, onde a companhia espera conseguir a licença para perfurar na Foz do Amazonas.
- US$ 9,2 bilhões para o refino, que inclui unidades de biorrefino, aumento da produção de S10 e ampliação de capacidade com aportes em refinarias, além da construção do segundo trem da Rnest (PE), ainda em análise de viabilidade.
- Programa de biorrefino prevê atingir 154 mil barris/dia de capacidade de entrega de diesel R5 (5% de parcela renovável) por coprocessamento, além de 6 mil barris/dia de R100 e outros 6 mil barris/dia de bioQAV. Prazos não foram detalhados.
- No gás natural, conclusão do Rota 3, e construção dos gasodutos de Sergipe e do BM-C-33 (em análise) podem adicionar 55 milhões de m³/dia de capacidade de escoamento offshore (projetos do orçamento de E&P).
- Na geração de energia, plano é substituir térmicas por novas a gás, incluindo no antigo Comperj, em Itaboraí (RJ), mais um projeto em análise para depois de 2027.
- A apresentação do plano, na íntegra (.pdf)
Promessa de Lula é ampliar investimentos
A depender do interlocutor no gabinete de energia, as prioridades mudam, mas em geral a promessa de campanha do PT é priorizar investimentos, antes dos dividendos.
E voltar a construir refinarias, além de incorporar no portfólio projetos de geração de energia renovável, que a companhia optou por excluir de seus últimos planos.
Enquanto na campanha fala-se em usar a Petrobras como uma das alternativas de indução do desenvolvimento, membros do partido defendem que é preciso buscar a autossuficiência em refino, para elevar a garantia do abastecimento.
Transição energética
Outras frentes são as eólicas offshore e sua associação com a produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono, além do próprio biorrefino.
Eólicas offshore e hidrogênio, além da captura de carbono entraram no plano deste ano, mas ainda na fase de estudos. O programa de biorrefino, por sua vez, foi anunciado em 2020.
- O plano da Petrobras é investir na produção de diesel com parcela renovável, a partir do coprocessamento de biomassa. O diesel Rx ou Hbio, como era chamado, já é produzido na Repar (PR).
- Até 2030, o que está em curso é a instalação de uma planta dedicada na RPBC (SP) e estudos para uma segunda. O objetivo é ofertar diesel renovável e bioQAV (combustível sustentável de aviação, ou SAF).
São temas defendidos por membros da transição petista, como o senador Jean-Paul Prates (PT/RN) e o ex-secretário-executivo de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim.
Ao todo, a previsão é de aporte em transição energética é de US$ 4,4 bilhões, mantendo o foco em descarbonização do óleo produzido e refinarias.
São US$ 3,7 para reduzir emissões de escopos 1 e 2; US$ 600 milhões no programa de diesel renovável e bioQAV; e US$ 0,1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Fim da ‘vaca leiteira’?
Em nota nesta quarta (30/11), Deyvid Bacelar, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e membro do subgrupo de óleo e gás na transição, defendeu ainda o retorno de políticas de conteúdo local e investimentos em biocombustíveis.
“[O plano] será revisto pelo governo Lula, para incluir investimentos em aumento da capacidade de refino, em projetos de transição energética, com estímulos a fontes renováveis, como biocombustíveis, e encomendas à indústria naval brasileira, com a construção de plataformas e embarcações no país, gerando emprego no Brasil”, diz a nota da FUP.
A própria transição entende, contudo, que a revisão da curva de investimentos será lenta e começará a ser estudada após a definição do novo comando da Petrobras no governo Lula.
Para entrar no plano, revisto ao fim de cada ano, os projetos precisam ser estruturados e aprovados pela governança interna da companhia.
A elevação dos investimentos, combinado com projetos de menor rentabilidade em comparação com o óleo, como o refino e a geração de energia, tem sido um dos principais pontos de crítica do mercado financeiro, que se beneficia junto com a União dos pagamentos bilionários de dividendos.
Prates tem afirmado, por exemplo, que a Petrobras precisa deixar de ser uma “vaca leiteira” voltada apenas à distribuição de lucros.
E defende que a companhia precisa investir para garantir sua sustentabilidade no futuro, não apenas no desenvolvimento de novas tecnologias e transição energética, mas na descoberta de novas reservas de petróleo e gás.
Foco na exploração e produção
No plano 2023-2027 são US$ 64 bilhões (83%) dedicados à exploração e produção e US$ 9 bilhões (12%) para gás e refino de petróleo. Participações em linha com o plano anterior, de 2022-2026.
Novos projetos passam pela elevação de 15 para 18 FPSOs a serem instalados no intervalo de cinco anos, com a inclusão da segunda plataforma de águas profundas para Sergipe-Alagoas, a revitalização de Albacora e o BM-C-33 (Pão de Açúcar), projeto operado pela Equinor, todos com primeiro óleo marcado para 2027.
São projetos conhecidos do mercado. Uma diferença é que após a tentativa este ano de contratar a primeira plataforma de Sergipe como uma unidade própria, o plano prevê que as duas serão afetadas.
O mesmo caso de Albacora e do BM-C-33, ambos na Bacia de Campos. Albacora é um campo em produção, no pós-sal, onde há descobertas de óleo na camada pré-sal, a ser desenvolvida com a nova FPSO de 120 mil barris/dia.
Além disso, há previsão de licitação para duas unidades, Atapu 2 (P-84) e Sépia 2 (P-85), plataformas próprias, 100% eletrificadas e com sistemas de flare fechados, para evitar a queima de gás de rotina. As contratações demandam US$ 3 bilhões adicionais no plano de investimento até 2027.
Os projetos operados ou em que a Petrobras é sócia representam metade da demanda global por novos FPSOs no período do plano, um mercado que não escapou dos efeitos da covid-19 nas cadeias de produção e da alta instabilidade dos preços do petróleo, agravada este ano pela guerra na Ucrânia.
Novos campos de gás natural
São previstos US$ 5,2 bilhões para construção das três novas rotas de escoamento de gás offshore, totalizando 55 milhões de m³/dia de capacidade.
Também são projetos conhecidos: o Rota 3, do pré-sal para Itaboraí (RJ), que atrasou e ficou para 2024, Sergipe e BM-C-33, ambos para 2027.
O BM-C-33, onde a Petrobras tem 30% do ativo, possui grandes reservas de gás natural e além da plataforma afretada de 126 mil barris/dia, contempla a construção do gasoduto de escoamento para Cabiúnas, em Macaé (RJ).
O consórcio liderado pela Equinor (35%), em parceria também com a Repsol Sinopec (30%), trabalha com a opção de construir por conta própria o gasoduto de escoamento.
Nos últimos anos, houve iniciativas e estudos para o desenvolvimento de um mercado de midstream de gás no offshore, o que ainda não se materializou.
Segundo a Petrobras, a construção da rota do BM-C-33, com 16 milhões de m³/dia de capacidade, ainda está em análise de viabilidade técnica e econômica. Os campos descobertos no BM-C-33 ainda precisam ser formalmente delimitados.
Em Sergipe, é a abertura da nova fronteira de produção de gás offshore, fora do Sudeste. O início da produção estava programado para 2026, mas a contratação da primeira unidade adiou, em razão dos preços apresentados pelo mercado.
Quando sair do papel, serão mais 18 milhões de m³/dia de capacidade de escoamento e dois FPSOs de 120 mil barris/dia.
Tanto em Sergipe, como no BM-C-33, as petroleiras apostam em módulos de processamento embarcado, reduzindo a demanda por investimentos em terra.
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