Os planos de descarbonização da Petrobras e o desafio global para eliminar o flaring

Os planos de descarbonização da Petrobras e o desafio global para eliminar o flaring

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Diálogos da Transição

apresentada por

Quem faz
Felipe Maciel, Guilherme Serodio e Larissa Fafá
Editada por Gustavo Gaudarde
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Os planos de descarbonização da Petrobras

A Petrobras vai investir US$ 850 milhões até 2024 em medidas descarbonização da sua produção de petróleo e gás natural – primeira vez que a cifra dedicada à redução de emissões é divulgada no detalhamento do plano de negócios da companhia.

A maior parte do orçamento para descarbonização será alocado em projetos como a implantação de flare fechadocaptura e armazenamento de CO2recuperação de vapor de tanques e eficiência energética. A empresa vai destinar US$ 100 milhões por ano para essas atividades.

Flare são as torres de queima de gás natural necessárias em sistemas de produção de no offshore, em terra e também em plantas de processamento e refinarias.

Para citar alguns casos, a queima do gás é utilizada para testar a produtividade de campos, quando ainda não há equipamentos para injetar o gás, mas também em situações em que simplesmente não há interesse ou viabilidade comercial e o gás, associado ao petróleo, é integralmente queimado.

O restante será aplicado em P&D. Serão US$ 70 milhões por ano, também na área de captura de CO2, mas também nos biocombustíveis diesel renovável e bio-QAV (aviação), além de energia solar e eólicas offshore (inclui entra o piloto de Ubarana).

As tecnologias para captura e armazenamento de CO2 são as mais avançadas na empresa. A Petrobras tem um projeto para separar o contaminante nos FPSOs e reinjetar nos reservatórios. Veja um vídeo do projeto.

Com a Siemens, estuda utilizar o CO2 em estado supercrítico, quando apresenta propriedades físicas entre os estados líquido e gasoso, para gerar energia elétrica em combinação com a turbina a gás, tanto no onshore quanto offshore.

Mas não em projetos comerciais. O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, repetiu várias vezes este ano que os investimentos serão aplicados em projetos com alto retorno para os acionistas, no que a companhia sabe fazer de melhor, isto é, produzir petróleo em águas profundas, com foco no pré-sal.

Aliás, mesmo com as pesquisa em biocombustíveis, a Petrobras ainda tenta vender os ativos da Petrobras Biocombustíveis (PBio). A subsidiária tem duas usinas, uma em Candeias (BA) e outra em Montes Claros (MG), com capacidade total de 1.309 m³/dia.

Queima de gás natural no flare da P-69, durante os procedimentos para início da produção de petróleo no campo de Lula, pré-sal da Bacia de Santos, em outubro de 2018. Queima de gás é procedimento padrão para testes de produção e comissionamento de plataformas

Conter a emissão de CO2 no flare dos sistemas de produção é um dos principais desafios para a indústria de petróleo, tanto que o segmento tem um monitoramento dedicado no Tracking Clean Energy Progress (monitorando o progresso da energia limpa, em tradução livre), da Agência Internacional de Energia (iea).

E o cenário não é dos melhores. A eia mostra que o setor está longe de implementar medidas que indiquem a redução necessária para um alinhamento com as metas do Acordo de Paris. Em 2017, Rússia, Iraque, Iran e Estados Unidos foram responsáveis por quase metade das emissões por queima em flare.

Parte do desafio é a pulverização da produção mundial de óleo. Grandes petroleiras são signatárias (algumas pequenas também) de um compromisso firmado por meio do Banco Mundial de zerar o flaring até 2030.

Quase todas as operadoras e algumas não operadoras que atuam no offshore brasileiro estão na lista: além de Petrobras, BP, Equinor, Repsol, Shell, Total, Galp e Wintershall DEA. São, ao todo, 36 empresas, incluído a Saudi Aramco, que protagonizou o maior IPO da história.

Por aqui, a Petrobras queimou 3,027 bilhões de m³ de hidrocarbonetos em 2018, alta de 3,6% em relação ao ano anterior, em suas atividades de exploração e produção, refino, produção de fertilizantes e tratamento de gás e transporte…

…Mas as emissões totais de gases de efeito estufa caíram para 61,7 milhões de toneladas CO2 equivalente, em linha com a meta da companhia de manter os níveis inferiores a 2015, de 78,2 milhões de toneladas, o que significará reduzir a intensidade de emissões, para produzir mais, com menos carbono.

Para saber mais, dados de flaring compilados pelo Banco Mundial e mais sobre a iniciativa Zero Routine Flaring by 2030Relatório de Sustentabilidade da Petrobras de 2018 (.pdf), com os dados de emissões; e o Tracking Clean Energy Progressda iea.

Histórico de emissões a partir da queima em flare e a redução necessária para alinhamento com as metas do Acordo de Paris. Veja a imagem ampliada no site da eia

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Baterias já são viáveis nos sistemas isolados

Estudos realizados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicam que há viabilidade econômica, com os preços atuais, para o uso de baterias nos sistemas isolados brasileiros – regiões do país não interligadas na rede nacional de transmissão de energia, o SIN.

Isso por conta do alto custo de geração de energia. O estudo da EPE (.pdf) indica que baterias poderão ser usadas para substituir investimentos tradicionais de distribuição ou transmissão. Também aponta que combinar aplicações pode ajudar a  maximizar a utilização das baterias ao longo do tempo e assim aumentar as receitas desse tipo de projeto.

Em 2018, o país contava com 270 localidades isoladas atendidas por nove distribuidoras, onde moravam mais de 3 milhões de pessoas, dependentes de 265 usinas, com uma capacidade total instalada de 1.160 MW (EPE, 2019). Essas localidades são tradicionalmente supridas por energia gerada partir de térmicas a óleo combustível.

As baterias eletroquímicas podem então ser usadas em diversas frentes no elétrico brasileiro como back-uparbitragem e compensação da variabilidade de geração eólica e solar, entre outras aplicações. A estratégia pode ampliar o uso de renováveis no sistema isolado, reduzindo a emissões de gases de efeito estufa.

Isto é, a bateria, como uma fonte complementar, pode ajudar a estabilizar o sistema, compensando as variações nos ventos e na irradiação solar, desafios para garantia do abastecimento apenas com essas fontes renováveis…

…E também podem ter a sua viabilidade elevada com o desenvolvimento de um mercado de arbitragem de energia – negociações baseadas nas diferenças de preços ao longo do dia, capaz de gerar receita com a compra nos momentos de baixa e venda, nos de alta.

O estudo da EPE lembra inclusive que, com a implementação do PLD horário, previsto para janeiro de 2020, serão criadas oportunidades para novas soluções tanto de geração de receita, quanto de atendimento aos consumidores.

A EPE cita como exemplo a Ilhas Faroe, na Dinamarca, que conta com geradores a diesel, aerogeradores e baterias de íons de lítio, que reduzem as restrições de geração da fonte eólica ao longo do dia (curtailment) e o consumo de combustível.

Soluções de armazenamento de energia devem se multiplicar em todo o mundo e passar de 9GW, em 2018,  para 1.095GW em 2040, elevando a capacidade de suprimento de 17 GWh para 2.850GWh no período.

Esse aumento energia exigirá US$ 662 bilhões em investimento, de acordo com a pesquisa da BloombergNEF.

Em 2018, 3 milhões de pessoas dependiam da energia, muitas vezes, mais cara e poluente gerada nos sistemas isolados do Brasil

O sistemas isolados também representam um desafio para a redução de emissões. A EPE estima que em 2019, serão lançadas na atmosfera 2,94 milhões de toneladas equivalentes de CO2. E que o atendimento a essas regiões demandará mais 120 MW de capacidade até 2023.

Em Roraima, inclusive, um sistema com bateria foi viabilizado no leilão para atendimento à Boa Vista, realizado este ano. A usina híbrida Forte de São João vai gerar energia a partir da queima de óleo vegetal bruto, combinada com energia solar e um banco de baterias. Projeto da Brasil Bio Fuels, com investimento estimado em R$ 538 milhões.

Ao todo, leilão de Boa Vista, em maio, contratou 263,5 MW, com preço médio de R$ 833 por MWh – deságio médio de 22,7% em relação ao preço inicial de R$ 1.078,00 por MWh. MME

Curtas

A ANP estima que é possível retomar a chamada pública do Gasbol (TBG) no primeiro trimestre de 2020. Está parada desde o fim de outubro, quando o Cade pediu a suspensão da concorrências…

… E o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Víctor Hugo Zamora, anunciou na segunda (2/12) que o governo boliviano pretende assinar no próximo dia 15 o aditivo do contrato de venda de gás natural para a Petrobras.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou hoje (4) a aprovação de um financiamento para desenvolvimento e fabricação de caminhões elétricos no país no valor de R$ 88,6 milhões. Os recursos serão destinados à VW Caminhões e Ônibus.

A BP elevou sua participação na Lightsource BP, braço para atuação para energia solar fotovoltaica, formalizando uma joint venture 50%-%50. A sociedade possui 1,9 GW de projetos solares em desenvolvimento, incluindo 440 MW de projetos de grande escala aptos a participar em leilão e 180 MW de projetos de geração distribuída, localizados em cinco estados brasileiros.

A Total encomendou com a Mitsui o afretamento de um segundo navio de transporte de GNL, também movido a gás natural liquefeito – a primeira embarcação do tipo começa a operar em 2020. São navios de grande porte, equipados para transportar 18.600 m³ de GNL e atender o mercado marítimo europeu.

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