Grupo de majors do petróleo amplia projeto de captura de carbono

Grupo de majors do petróleo amplia projeto de captura de carbono

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Diálogos da Transição

apresentada por

Quem faz
Felipe Maciel, Guilherme Serodio e Larissa Fafá
Editada por Gustavo Gaudarde
[email protected]

Reforço do setor petrolífero para projetos de reúso de carbono

A Iniciativa Climática para Óleo e Gás (OGCI, na sigla em inglês) anunciou nesta segunda (23) uma ação (a CCUS KickStarter) para financiar projetos industriais, em larga escala, de captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS, na sigla em inglês) — crucial para atingir zero emissões líquidas.

O objetivo é dar suporte a projetos em hubs industriais ao redor do mundo, começando pelos EUA, China, Holanda, Noruega e Reino Unido, e criar condições para a indústria de reúso de carbono se tornar economicamente viável. As projeções iniciais falam em dobrar a captura e o armazenamento de CO2 até 2030.

A OGCI é formada empresas do setor petroquímico – BP, Chevron, CNPC, Eni, Equinor, ExxonMobil, Oxy, Pemex, Repsol, Shell, Total, Petrobras e Saudi Aramco.

Falando nisso: Equinor, Shell e Total iniciam este ano perfurações para captura de carbono

Elas se comprometeram a investir, em dez anos, US$ 1 bilhão em startups com projetos de redução da pegada de carbono, além de reduzir suas próprias emissões de CO2 e metano, visando às metas do Acordo de Paris. Doze empresas foram selecionadas até o momento.

A OGCI fez o anúncio durante o primeiro dia da Cúpula do Clima da ONU, em Nova Iorque (EUA), quando também atualizou o progresso das metas de redução de emissão de metano…

…Em 2018, a intensidade de metano, em média, nas operações de produção de petróleo e gás natural do grupo, ficou em 9%, em linha com a meta de chegar a 0,25% até 2025, de acordo com projeções da própria organização.

E como estamos?

A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) está medindo os esforços de transição em diversos setores no projeto Tracking Clean Energy Progress — e até o momento, estamos bem longe de atingir as metas de emissões.

Com as políticas em curso, o mundo emitirá 35,9 milhões de toneladas (ou Gt) até 2040, mais que os dobro do que é necessário (17,6 Gt).

Apesar dos esforços de grandes grupos, a indústria de combustíveis fósseis ainda precisa, na análise da IEA, acelerar a implementação de políticas para redução das emissões de metano e reduzir a queima de gás (o flaring).

Projeta que é em 2020 seria possível alcançar emissões de 64,6 milhões de toneladas de metano, redução de -14% em dez ano,
e, com novas iniciativas, seria necessário chegar a 19,4 milhões de toneladas em 2030.

Dos 39 setores observados, a IEA considera que sete estão em um ritmo ideal de transição, todos associados com novas tecnologias ou mercados em expansão, como a energia solar fotovoltaica e a bioenergia, a eletrificação de veículos, do transporte urbano e o armazenamento de energia e o segmento de iluminação.

O sétimo setor é o de TI (network data centers), grandes consumidores de energia, que devem demandar, em 2021, mais de cinco vezes a energia que consumiram em 2015 para tráfego de dados e três vezes mais, para o processamento nos data centers.

Em epbr: Google anuncia compra corporativa de energia de 1,6 GW

Transição no centro do debate climático

As emissões de gases de efeito estufa continuam a subir porque combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo, ainda são as principais fontes de energia da humanidade, segundo novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), United in Science. O alerta é que temperatura média do planeta poderá aumentar em até 3,4 ºC até o fim deste século.

O relatório ainda destaca a aceleração do nível dos mares e da acidez dos oceanos, que aumentou 26% desde o início do período industrial, pela absorção do CO2 liberado na atmosfera com o uso de combustíveis fósseis.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que líderes mundiais levem os fatos a sério e, urgentemente façam algo a respeito. Durante a abertura da Cúpula de Ação Climática da ONU, nesta segunda (23), resumiu as demandas em quatro pontos

— Nenhum novo financiamento ou construção de usinas a carvão a partir de 2020;

— Interromper os subsídios para projetos de combustíveis fósseis, calculados em US$ 4,7 trilhões por ano;

— Compromisso com a neutralidade do carbono e emissões zero a partir de 2050;

— Criação de políticas para punir atividades poluidoras com novas taxas.

“A melhor ciência, de acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, nos diz que qualquer aumento da temperatura acima de 1,5 graus levará a danos graves e irreversíveis aos ecossistemas”, afirmou Guterres.

Ontem, um dia antes da abertura da cúpula, chefes de estado e CEOs se reuniram no Energy Action Forum para discutir transição energética. O evento não contou com a participação de representantes brasileiros. Alguns destaques:

— A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, apresentou meta do país para reduzir em 70% as emissões de CO2 até 2030.

— O presidente da Colômbia, Ivan Duque, anunciou neste que 10% da matriz energética do país será renovável. “Estamos comprometidos com essa transição”, disse.

— A CEO da Engie, Isabelle Kocher, defendeu que transição energética é uma reinvenção que demandará redução significativa do consumo. “Nós éramos pagos para produzir energia. Nosso negócio agora é ajudar clientes a consumirem menos”.

Veja aqui a transmissão do Energy Action Forum

Na Alemanha, o fim do carvão

Powering Past Coal Alliance (PPCA), ou “aliança de energia para além do carvão”, em tradução livre, anunciou neste domingo (22) a entrada da Alemanha, da Eslováquia e, nos EUA, de Porto Rico e New Jersey além da província Negros Orientais,nas Filipinas. A PPCA chega então a 91 membros, sendo 32 governos nacionais, 25 subnacionais e 34 da iniciativa privada.

Alemanha tem a maior participação de carvão na sua matriz energética em toda a Europa e a quinta maior do mundo, com 45GW de potência termoelétrica a partir de carvão – representou 37% da energia gerada no país em 2018 (já foi de 47%, em 2013).

Os partidos da coligação política de Angela Merkel, contudo, acordaram recentemente em uma estratégia climática que vai representar pelo menos € 100 bilhões em investimentos até 2030 para proteção do clima e em transição energética.

Parte dos recursos serão empregados em projetos públicos e privados para mitigar efeitos econômicos com o encerramento das operações das usinas de carbono até 2038. No fim de 2018, o setor empregava 27 mil pessoas no país. A participação de energias limpas é de 38% (2018) e o objetivo é chegar a 65% em 2030.

Aliás, no Texas (EUA), um dos principais centros da indústria global de petróleo, a energia eólica está perto de superar o carvão pela primeira vez. Previsão é que as turbinas atinjam 87 TWh de energia gerada em 2020, contra 84 TWh das termoelétricas movidas a carvão.

Destaque da Bloomberg (para assinantes): faz parte de uma tendência no país, em que a energia eólica deve atingir 10% da matriz energética este ano e o carvão cair para 32%, de 44% há uma década.

Mudança é econômica: usinas a carvão estão fechando porque não conseguem competir com os preços da energia gerada a gás e pelo vento.

E por aqui: Governo lança leilão para substituir térmicas a óleo por gás natural e carvão (mas a tendência é que o gás se sobressaia)

Curtas

A Benri foi aprovada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para atuar como firma certificadora de produção e importação de biocombustíveis no RenovaBio – programa do governo federal de inventivo ao setor.

— Ao todo, são sete: Green Domus, SGS ICS, Instituto Totum, Fundação Carlos Alberto Vanzolini e KPMG, além da Benri. E 16 usinas iniciaram o processo para emitir créditos de descarbonização, os Cbio.

Semana passada, o RenovaBio foi tema da transmissão semanal do presidente Jair Bolsonaro no Facebook. O diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Miguel Ivan Lacerda, apresentou o programa como “a maior política de transição energética do mundo, valorizando uso do etanol”.

— O presidente já viajou para Nova Iorque e espera conseguir, com a sua participação na 74ª Assembleia Geral da ONU, em que o Brasil faz a abertura, reverter a imagem do seu governo, de leniência com danos ambientais.

A Lei do Gás ganha novo texto na Câmara, assinado pelo relator Silas Câmara, do Republicanos do Amazonas (antigo PRB). Traz mudanças no projeto, com aderência aos Novo Mercado de Gás, do governo federal.

A Shell vai investir, globalmente, US$ 3 bilhões por ano em projetos de energias renováveis, afirmou semana passada, o presidente da Shell Brasil, André Araújo. Atualmente, a companhia investe entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões, como parte de um planejamento até 2030, mas a ideia é elevar os aportes a partir do ano que vem.

A Equinor e a SSE venceram a disputa pelo projeto eólico offshore de Dogger Bank, na região do Mar do Norte, e vão construir o maior parque eólico offshore do mundo, que terá capacidade instalada de 3,6 GW de energia. O projeto vai demandar investimentos de £ 9 bilhões entre 2020 e 2026.