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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Uma das principais rotas para deslocar a demanda por combustíveis fósseis e colocar o mundo na trajetória de emissões líquidas zero até 2050, a eletrificação da frota está ganhando tração com a queda nos preços das baterias e deve aumentar, em média 21% ao ano, nos próximos quatro anos, estima relatório da BloombergNEF divulgado nesta quarta (12/6).
A taxa de crescimento esperada é menor do que a média de 61% entre 2020 e 2023, no entanto, com desaceleração das vendas na Europa e EUA, dois dos principais mercados depois da China. Um recuo que vem na esteira de mudanças regulatórias e políticas, e do adiamento de metas de algumas montadoras.
“Nos EUA, a falta de modelos de baixo custo e o nervosismo do mercado pelas próximas eleições presidenciais ajudaram a desacelerar as vendas neste ano. Na Europa, as metas de consumo de combustível, que se tornarão mais rigorosas apenas em 2025, aliviaram as montadoras da pressão para aumentar significativamente as vendas de EVs”, analisa a BNEF.
De qualquer forma, as vendas de veículos de combustão interna já atingiram seu pico – em 2017.
Segundo o estudo, até 2027, o emplacamento de veículos a diesel e gasolina estarão 29% abaixo do volume registrado dez anos antes.
Os elétricos a bateria serão os principais responsáveis por essa mudança no mercado, mas os híbridos também terão seu lugar, podendo representar entre 5% e 45% das vendas até 2030, dependendo do mercado.
No geral, market share mundial de eletrificados leves novos aumentará 33% em 2027, em relação a 17,8% em 2023. Apenas a China (60%) e a Europa (41%) estarão acima da média mundial até lá. Brasil e Índia também aparecem como mercados promissores, com as vendas previstas para quintuplicar e triplicar, respectivamente, até 2027.
Net Zero pede transição mais rápida
O relatório da BNEF faz uma simulação do que seria a frota ideal para alinhar o consumo de combustíveis às metas de descarbonização, e alerta que a janela para alcançar essas ambições é mais estreita do que nunca.
Pelo ritmo atual, até 2035, haverá 476 milhões de eletrificados em circulação, aumentando para 722 milhões até 2040, o que representará 45% da frota. No Cenário Net Zero, estes números são de 679 milhões e 1,1 bilhão, respectivamente.
“Isto mostra que as tendências tecnoeconômicas atuais, por si só, não são suficientes para fazer com que o setor de transporte acompanhe as metas climáticas mundiais, e que um apoio regulatório contínuo ainda é necessário”, observa.
Os desafios são muitos. Os recursos envolvidos também.
Pelo menos US$ 35 bilhões precisam ser investidos em células de bateria e fábricas de componentes até o fim da década, o que é facilmente ultrapassado pelos US$ 155 bilhões em investimento já planejados pelas empresas.
Mas o excesso de produção é apontado como um grande problema para os fabricantes de baterias.
“A capacidade planejada de fabricação de células de íon de lítio até o fim de 2025 é mais de cinco vezes a demanda mundial por baterias (1,5Twh) prevista para o mesmo ano. A demanda anual por baterias de lítio aumenta rapidamente no Cenário de Transição Econômica, se aproximando a 5,9 terawatt-hora por ano até 2035”.
Outro ponto é a demanda por eletricidade. A BNEF estima que uma frota mundial totalmente elétrica pode precisar do dobro da eletricidade consumida pelos EUA em 2023, isto é, cerca de 8,313 TWh para abastecer veículos a bateria.
Para atender essa demanda, o setor de recarga precisará se expandir rapidamente na próxima década. Até 2050, serão necessários entre US$ 1,6 trilhão e US$ 2,5 trilhões em investimentos cumulativos em infraestrutura de recarga, instalação e manutenção, dependendo do cenário.
Expansão no Brasil
Dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) mostram que nos cinco primeiros meses de 2024, os municípios do interior, excluindo as 27 capitais, foram responsáveis por quase a metade – 46% – dos emplacamentos de eletrificados de todas as tecnologias no período.
Significa quase 29,7 mil eletrificados emplacados fora das capitais, do total de cerca de 65 mil no acumulado nacional do ano.
Só em maio de 2024, o mercado brasileiro emplacou em 13.612 veículos leves eletrificados, com destaque para os veículos plug-in (com recarga externa), que responderam por 66,5% das vendas do segmento.
De acordo com a ABVE, o resultado de eletrificados em maio representa um crescimento de 111,5% sobre maio de 2023 (6.435), apesar da queda de 10,5% sobre abril (15.206).
Já no acumulado de janeiro a maio, o total indica um aumento de 149% sobre o mesmo período em 2023 (26.014).
As chinesas BYD e GWM seguem na liderança. Em maio, a BYD foi responsável por 38,6% dos emplacamentos (5.254), enquanto a GWM ficou com 14,5% (1.972).
Cobrimos por aqui:
- Brasil vai produzir baterias para carros elétricos antes de 2030, aposta ABVE
- Raízen fecha acordo com Minas Gerais para expandir infraestrutura de mobilidade elétrica
- Montadoras e produtores de etanol se unem em defesa de políticas para híbridos
- Montadoras investirão quase R$ 100 bilhões com foco em elétricos e híbridos; veja a lista
Curtas
Incentivos para hidrogênio
O relatório complementar do marco do hidrogênio do senador Otto Alencar (PSD/BA), aprovado nesta quarta (12/6), prevê um acréscimo de R$ 5 bilhões em crédito fiscal para projetos de hidrogênio, em acolhimento da emenda do Senador Cid Gomes (PSB/CE) ao PL 2308/2023. Texto volta para apreciação na Câmara. Veja detalhes
Lula em defesa do petróleo
O presidente Lula (PT) voltou a defender, nesta quarta-feira (12/6), a exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira. “Nós [o Brasil], a hora que começamos a explorar a chamada Margem Equatorial, eu acho que gente vai dar um salto de qualidade extraordinária. Queremos fazer tudo legal, respeitando o meio ambiente, respeitando tudo. Mas nós não vamos jogar fora nenhuma oportunidade de fazer esse país crescer”, disse. (Agência Brasil)
Regressão energética
Também nesta quarta, a Coalizão Energia Limpa lançou, em evento na Câmara, um estudo indicando a expansão de investimentos para produzir e consumir gás natural – de origem fóssil – como um obstáculo para alcançar uma matriz 100% renovável e resiliente a oscilações de preço e ao clima extremo. O documento foi lançado em parceria com a Frente Parlamentar Mista Ambientalista, coordenada pelo deputado federal Nilto Tatto (PT/SP). Veja na íntegra (.pdf)
Mover aprovado no Congresso
A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei do Mover, nesta terça (11/6), sem a emenda que estabelecia índices obrigatórios para o cumprimento de requisitos de conteúdo local para projetos de petróleo e gás natural. Com 380 votos a favor e 26 contra, o texto vai à sanção. Leia na epbr
Carbonwashing
O escândalo de geração de créditos de carbono em terras supostamente griladas no Amazonas teve desdobramentos na Faria Lima. Dois fiagros da gestora AZ Quest carregam volume considerável de um CRA (certificados de recebíveis do agronegócio) emitido pela Stoppe Ltda., empresa da família de mesmo nome apontada pela Polícia Federal como líder de uma organização criminosa que agia na Amazônia. (Reset)