NESTA EDIÇÃO. Emissões em veículos atingiram 223,8 milhões de toneladas de CO2, representando 44% dos gases de efeito estufa emitidos em energia e processos industriais em 2023.
Volume só não foi maior por causa do aumento da mistura de biodiesel e maior consumo de etanol.
No geral, as emissões brasileiras recuaram 12% – uma queda histórica – mas altamente dependente da Amazônia.
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O consumo de diesel, gasolina e querosene de aviação elevaram as emissões de gases de efeito estufa do setor de transportes em 3,2% em 2023, contribuindo para um incremento de 1,1% na intensidade de carbono da matriz energética brasileira.
Divulgados nesta quinta (7/11), dados do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) mostram que a queima de combustíveis fósseis pelos veículos anulou a redução de emissões do setor elétrico, que ficou mais sustentável com a queda de 8% na geração termelétrica.
No total, energia (18%) e processos industriais (4%) emitiram 22% do total nacional, somando 511 milhões de toneladas de CO2 equivalentes (MtCO2e).
As emissões em veículos atingiram 223,8 milhões de toneladas de CO2, representando 44% dos gases de efeito estufa emitidos em energia e processos industriais.
“As emissões de transporte só não foram maiores devido ao recorde de consumo de biodiesel”, conta Ingrid Graces, pesquisadora do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), organização responsável pelo cálculo de emissões de energia no Seeg.
Em abril de 2023, a mistura obrigatória de biodiesel no diesel comercializado pelos postos de combustíveis subiu de 10% para 12%. Isso elevou o consumo em 19%, deslocando o do derivado de petróleo.
Segundo a pesquisadora, o consumo de etanol hidratado – substituto da gasolina nos carros flex – também aumentou, em 6%, compensando parte das emissões.
O etanol que é obrigatoriamente adicionado à gasolina também pode passar a ter uma maior participação no corte de emissões nos próximos anos.
Na pauta da reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), marcada para 4 de dezembro, está a discussão do aumento da mistura aprovado na lei do Combustível do Futuro. A adição pode subir dos 27,5% atuais para até 35%.
Biocombustíveis para reverter tendência de aumento
Entre 2015 e 2020, os setores de energia e processos industriais vinham experimentando uma tendência de queda ou estagnação em suas emissões, essencialmente devido à desaceleração da economia brasileira nesse período, potencializada pela pandemia de covid-19, analisa o Seeg.
Essa curva mudou em 2021, quando esse grupo apresentou uma das maiores taxas de crescimento anual de emissões da série histórica.
A retomada foi motivada pela reaceleração de atividades da indústria e pelas pessoas que voltaram a circular pelas cidades e viajar, o que elevou o consumo de combustíveis fósseis.
“Para inverter essa tendência de aumento das emissões de transportes, o país tem potencial para promover de forma ambiciosa um maior uso desses e outros biocombustíveis. São também necessários esforços para ampliar o uso de veículos com novas tecnologias de propulsão, principalmente elétricos a bateria e híbridos flex”, defende o estudo.
Maior queda em 15 anos
No geral, o Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) em 2023, 12% a menos do que em 2022, quando o país emitiu 2,6 GtCO2e. Esta é a maior queda percentual nas emissões desde 2009.
O resultado ocorreu graças à queda no desmatamento na Amazônia. De acordo com o Seeg, as mudanças de uso da terra – que respondem por 46% do GEE lançado na atmosfera pelo Brasil (1,062 GtCO2e) – responderam pela queda de 24% nas emissões.
O Observatório do Clima analisa que o controle do desmatamento na Amazônia, retomado em 2023 com a volta do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), foi o único responsável pela redução.
Nos outros biomas, a conversão de vegetação nativa levou à emissão de 1,04 GtCO2e brutas em 2023. Os aumentos foram de 23% no Cerrado, 11% na Caatinga, 4% na Mata Atlântica e 86% no Pantanal.
No Pampa as emissões por conversão também caíram, 15%, mas o bioma responde por apenas 1% do setor.
Já a agropecuária teve seu quarto recorde consecutivo de emissões, com elevação de 2,2%, puxado pelo aumento do rebanho bovino. A maior parte das emissões vem da fermentação entérica (o popular “arroto” do boi), com 405 milhões de toneladas em 2023 (mais do que a emissão total da Itália).
O agronegócio respondeu por 28% das emissões brutas do Brasil no ano passado.
Somando as emissões por mudança de uso da terra, a atividade agropecuária segue sendo de longe a maior emissora do país, com 74% do total.
“A queda nas emissões em 2023 certamente é uma boa notícia, e põe o país na direção certa para cumprir sua NDC, o plano climático nacional, para 2025. Ao mesmo tempo, mostra que ainda estamos excessivamente dependentes do que acontece na Amazônia”, comenta David Tsai, coordenador do Seeg.
“O Brasil precisa de um plano de descarbonização consistente e que faça de fato uma transformação na economia”, defende o pesquisador.
Cobrimos por aqui
Curtas
Desmatamento em queda. A taxa oficial de desmatamento do Cerrado, o segundo maior bioma do país, registrou redução pela primeira vez nos últimos cinco anos, informou o Inpe, na quarta (6/11). Queda do desmatamento também foi verificada na Amazônia Legal, que teve o menor valor percentual em 15 anos. (Agência Brasil)
Políticas ineficientes. Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que as políticas climáticas no setor agrícola estão sendo executadas sem eficiência e com falta de coordenação. O objetivo da operação foi analisar ações e atividades de adaptação às mudanças climáticas e de mitigação da emissão de GEE na agropecuária.
Luz para Todos. O Ministério de Minas e Energia (MME) iniciou, nesta quarta-feira (6/11), uma consulta pública para definir o orçamento do Programa Luz para Todos em 2025. O investimento previsto para o próximo ano é de até R$ 4,3 bilhões, representando um aumento de 23% na quantidade de beneficiários em relação à meta do ano anterior.
Nuclear 1. A estatal brasileira Nuclep e a empresa russa Rosatom assinaram, na terça (5/11), um acordo de confidencialidade, visando à cooperação tecnológica para a produção de micro reatores modulares, os chamados SMRs (Small Modular Reactors), no Brasil. Inclui a possibilidade de transferência de tecnologia e espera fomentar a geração de energia nuclear.
Nuclear 2. O secretário de Geologia e Mineração do MME, Vitor Saback, disse na última terça (5/11) que a pasta está empenhada na conclusão do projeto da usina nuclear de Angra 3. O governo federal espera que a decisão sobre o futuro da usina seja tomada até o final de 2024, com o tema já pautado para a reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), marcada para 4 de dezembro.