Diálogos da Transição

Transição energética na aviação custará US$ 5 tri até 2050; veja quem já está investindo

Roteiros da Iata (associação do transporte aéreo) direcionam as demandas políticas para viabilizar investimentos na descarbonização do setor

Visão lateral da parte frontal de aeronave e, ao fundo, visão frontal de outro avião, em pista de aeroporto (Foto: 穿着拖鞋一路小跑/Pixabay)
Aviação civil internacional se comprometeu a chegar a 2050 com emissões líquidas zero, o que exigirá profunda transformação no setor | Foto 穿着拖鞋一路小跑/Pixabay

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Editada por Nayara Machado
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Descarbonizar a aviação civil internacional até meados do século vai custar US$ 5 trilhões em investimentos, ou US$ 178,6 bilhões por ano entre 2023 e 2050 e quase um terço desse financiamento poderia vir de redirecionamento dos subsídios dados aos combustíveis fósseis, mostra um roteiro da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, em inglês).

A indústria se comprometeu a chegar a 2050 com emissões líquidas zero, o que exigirá uma profunda transformação em todo o setor.

Desde tecnologias de aeronaves até novos modelos de abastecimento, como combustível de aviação sustentável (SAF, em inglês)hidrogênio ou baterias, passando por infraestruturas aeroportuárias e melhorias operacionais, há um longo e dispendioso caminho até a descarbonização.

Esta semana, a Iata publicou um conjunto de roteiros para ajudar os players em suas jornadas. E direcionar as demandas políticas para viabilizar investimento.

“Como as iniciativas políticas estabelecem a base para muitas das inovações e ações necessárias, esses roteiros serão um ponto de referência fundamental para os formuladores de políticas”, explica.

No roteiro de finanças, o grupo destaca que a quantidade de recursos é grande, mas não é impossível de mobilizar.

É questão de definir prioridades. Entre 2010 e 2021, os governos gastaram R$ 55,6 bilhões por ano em subsídios aos combustíveis fósseis.

Além disso, novos desenvolvimentos e exploração de petróleo e gás devem receber mais de três vezes todo o financiamento anual necessário para alcançar a transição da aviação, um total de US$ 570 bilhões, até 2030, calcula o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável.

Como exemplo de que ‘dá para fazer’, a Iata menciona os investimentos em eólica e solar entre 2015 e 2022, que chegaram a montantes semelhantes aos necessários na aviação.

“Essas duas indústrias empregaram 12,7 milhões de pessoas em todo o mundo em 2021, segundo a OIT, o que compara com os 11,3 milhões de pessoas diretamente empregadas na aviação civil global. Visto sob esse prisma, a transformação necessária na aviação parece possível”, defende a associação.

A resposta óbvia é política pública. O estudo observa que o mundo está encontrando dificuldades para realizar a realocação do capital global, seja ele público ou privado, na descarbonização da economia.

Além de chegar a um acordo sobre “métricas harmonizadas e padronizadas”, o que vai mudar o comportamento do capital – a exemplo do que aconteceu na eólica e solar – são as medidas de apoio governamental.

“Isso é particularmente importante durante os estágios iniciais de introdução de uma nova tecnologia no mercado”, destaca o documento.

“Espera-se que a maior parte dos fundos e apoios públicos seja necessária durante o período de 2030 a 2040, quando ocorre o aumento da produção e o desenvolvimento de oportunidades de mercado. (…) Depois de 2040, a maior parte das tecnologias terá amadurecido o suficiente para poder contar com o financiamento tradicional do mercado de capitais”, conclui.

Quem está se movimentando

EUA

O SAF é uma das estratégias da gestão de Joe Biden, nos Estados Unidos, para alcançar emissões líquidas zero em toda a economia até 2050 e está no pacote que destina US$ 369 bilhões para apoiar a transição energética do país.

A ambição do governo é ter 3 bilhões de galões de SAF com custo competitivo disponível para os operadores de aeronaves até 2030, que terão de substituir 10% do querosene fóssil.

Europa

Em abril deste ano, a União Europeia estabeleceu um cronograma de metas obrigatórias para aumentar o uso de SAF. O mandato serve tanto para oferta quanto demanda, e cria metas de fornecimento e uso a partir de 2025.

Segundo o parlamento europeu, o RefuelEU Aviation ajudará o setor a alcançar a meta de redução de 90% das emissões do transporte, juntamente com as regras revisadas sobre o Sistema de Comércio de Emissões da UE no setor de aviação.

O mercado de carbono europeu deve fornecer cerca de 2 bilhões de euros em financiamentos às companhias aéreas para incentivar a transição para o SAF.

Além disso, cada país da Europa possui seu próprio plano de descarbonização setorial.

Aeroportos

Embora a maioria dos aeroportos não faça parte da cadeia de valor do combustível, eles desempenham um papel na facilitação do intercâmbio e interação entre as diferentes partes envolvidas e podem atuar para facilitar a introdução do SAF.

Os exemplos vêm de aeroportos em Oslo, na Noruega; San Francisco e Los Angeles, nos Estados Unidos; Toronto, no Canadá e em Londres, na Inglaterra.

Companhias aéreas

No mês passado, a Emirates, maior companhia aérea internacional do mundo, lançou um fundo de US$ 200 milhões para financiar projetos de P&D que reduzam o impacto dos combustíveis fósseis na aviação comercial.

No Reino Unido, a easyJet tem uma parceria com a fabricante de motores Rolls-Royce para decolar com hidrogênio. Em novembro de 2022, as empresas realizaram a primeira operação mundial de um motor aeronáutico movido a hidrogênio.

Nos EUA, a United anunciou recentemente que tem planos de aumentar seu consumo de combustível sustentável em 2023, para 10 milhões de galões (ou 37,8 milhões de litros) – o triplo de 2022 e 10 vezes mais que em 2019 (antes da pandemia). A terceira maior companhia aérea do país já investiu na produção futura de mais de cinco bilhões de galões de SAF.

Na América do Sul, a Latam Airlines aspira incorporar 5% de SAF em suas operações até 2030, privilegiando a produção regional. A meta é reduzir 50% das emissões domésticas de CO2 no período e alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

Fabricantes de aeronaves

Embraer está apostando em pequenos aviões para desenvolver tecnologias de propulsão de baixo carbono na próxima década. A companhia trabalha em dois modelos de aeronaves de 19 a 30 lugares com propulsão elétrica que deverão alcançar maturidade tecnológica até 2035.

Aqui no Brasil, a Embraer tem um acordo de intenções com a Raízen, produtora de bioenergia, para desenvolver a cadeia de SAF.

Já a Airbus está desenvolvendo um motor de célula a combustível movido a hidrogênio. De acordo com a companhia, o sistema de propulsão será uma das soluções para equipar as aeronaves de emissões zero, com previsão de lançamento também em 2035.

A fabricante europeia já decolou um A380 usando apenas combustível sustentável. Além disso, todas as aeronaves da empresa estão certificadas para voar com até 50% de SAF.

Produtores

Petroleiras como TotalEnergies e Shell estão investindo em biorrefinarias e fazendo contratos de compra futura de SAF com produtores em diferentes países – de olho na demanda que deve saltar a partir de 2025 com as regulações locais e pós 2027 quando começa a valer o acordo da aviação internacional, Corsia.

Produtores de biocombustíveis também estão migrando para esse mercado. Nos EUA, a GranBio receberá subsídio de US$ 80 milhões do governo estadunidense para desenvolver uma planta com capacidade de produzir 1,5 milhão de galões de SAF ao ano. A empresa opera a maior planta de etanol de segunda geração do mundo.

Outro exemplo é a brasileira Be8 (ex BSBIOS). Originário do biodiesel, o grupo está construindo no Paraguai a biorrefinaria Omega Green, que produzirá biocombustíveis para aviação e insumos verdes para a indústria química e petroquímica. A produção futura está negociada com empresas europeias.

Curtas

Imposto para fósseis

A discussão sobre a reforma tributária, prevista para ir ao Plenário da Câmara dos Deputados na primeira semana de julho, pode tangenciar o debate sobre a criação de um imposto seletivo sobre os combustíveis fósseis no país. O relatório sobre a PEC da reforma propõe sobretaxar bens e serviços que prejudiquem a saúde ou o meio ambiente.

Licenciamento ambiental

O presidente Lula confirmou ontem (6/6) os vetos à MP 1150, derrubando artigos que reduziam as exigências ambientais para o licenciamento, entre outros pontos, de instalação de linhas de transmissão e gasodutos. O texto original regulamentava o Programa de Regularização Ambiental (PRA).

Marco temporal

O ministro do Supremo Tribunal Federal André Mendonça pediu mais tempo para analisar o marco temporal, que limita a demarcação de terras indígenas a territórios ocupados até 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Ele tem 90 dias para analisar o tema e retomar o julgamento.

O placar do julgamento, iniciado em 2021, foi interrompido nesta quarta (7/6) quando estava em 2 a 1 a favor dos indígenas. Os ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin votaram contra a tese do marco temporal. Nunes Marques votou pela fixação do marco. G1

Petrobras e hidrogênio

A petroleira informou na terça (6/6) que iniciou discussões com a Unigel para analisar negócios conjuntos nas áreas de fertilizantes, hidrogênio verde e projetos de baixo carbono. As companhias assinaram acordo de confidencialidade não vinculante com vigência de dois anos.

O mundo está mais quente

As temperaturas globais em maio foram as segundas mais quentes nas últimas três décadas, à medida que o gelo polar continua a derreter, de acordo com um relatório mensal da agência europeia de observação da Terra Copernicus. Bloomberg

E a lacuna de acesso a energia estagnada

Em 2021, 675 milhões de pessoas estavam sem eletricidade e 2,3 bilhões de pessoas dependiam de carvão e lenha para cozinhar, mostra um novo relatório internacional.

Embora a expectativa dos analistas vá em direção à expansão da capacidade renovável e melhoria da eficiência energética, em meio a políticas de resposta à crise global de energia, os cálculos mostram os fluxos financeiros públicos internacionais diminuindo quando se trata de apoiar energia limpa em países de baixa e média renda.

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