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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 01/07/21
Apresentada por
Editada por Nayara Machado
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Estudo lançado nesta quinta (1º) questiona a possibilidade de um novo modelo de mobilidade urbana focado na eletrificação, automação e conectividade agravar o uso desigual e injusto do espaço viário brasileiro pela falta de políticas de incentivo ao transporte público.
“Não parece que tais mudanças, pelas forças de mercado, caminham favoravelmente para a melhoria do transporte público, para o aumento de sua participação nas viagens e para a substituição da sua fonte de energia”, diz o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), responsável pelo relatório.
No mundo, a tendência de eletrificação carrega uma mudança na forma de fazer negócios, mais voltada à oferta de serviços de transporte ao invés da venda simples de veículos.
No Brasil, essa tendência tem deixado de lado o coletivo e concentrado o interesse na expansão do transporte individual, com grandes impactos na mobilidade urbana, avalia o IEMA.
Os pesquisadores apontam o risco de uma “modernização conservadora”, caso apenas o transporte individual mais limpo e os serviços associados formem a principal alternativa econômica e política.
De acordo com a análise, é necessária uma política de desenvolvimento que defenda o transporte público como um direito social e universal, assim como os princípios de uma transição energética justa.
Melhorar o transporte público com sistemas de média e alta capacidades (BRTs), faixas exclusivas de ônibus, política de renovação de frota de ônibus e adoção de veículos de emissão zero no longo prazo, redução das tarifas e instrumentos de gestão de viagens (TDM) são algumas das sugestões do estudo.
“Aprimoramentos estruturais nas cidades se mostram urgentes, implantando políticas ambientais urbanas de maneira integrada, incluindo a melhoria da qualidade do ar e a mitigação dos gases de efeito estufa”.
Mais: Eletrificação do transporte coletivo já é viável economicamente, afirma executivo da Enel X
Políticas precisam ampliar participação do transporte público nos deslocamentos urbanos
O Brasil já conta com um arcabouço legal e técnico para estimular esse desenvolvimento como a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) e a Política Nacional de Mudança Climática.
Mas somente a demanda social poderia impulsionar mudanças estruturais, alertam os pesquisadores.
Segundo a análise, haveria maior necessidade de instrumentos de comando e controle e também econômicos que favoreçam o transporte público, tanto para a renovação e qualificação da frota quanto para a diminuição de custo para o passageiro.
“Poderiam ser usadas as reduções ou isenções de impostos e os incentivos financeiros, aumentando a demanda por ônibus, trens e metrôs, e, consequentemente, o número de trabalhadores empregados nas montadoras de chassis e carrocerias”, sugere.
Transformação digital, eletrificação e novos modelos de negócios
As montadoras estão se preparando para um novo mercado, com maior participação de serviços, como aluguel, assinatura e transporte por aplicativos — mercado que atrai também as bigtechs.
Crescem os novos negócios associados à venda de veículos, como conceito de car as a service, em que o usuário não compra o carro, mas paga uma mensalidade e retira todo ano um novo.
O tamanho do mercado ainda não é conhecido, mas segundo a Renault, em algumas capitais, como Madri e Paris, já são operações rentáveis e respondem por 25% a 30% das vendas da companhia.
“Essas mudanças tecnológicas modificarão profundamente a forma de interação do sistema de mobilidade urbana, abrangendo o transporte, os tipos de veículos, os motivos de viagens, os serviços disponíveis, os custos relativos e os níveis de renda, que resultarão em externalidades positivas e negativas a serem distribuídas de forma diferenciada para toda a sociedade”, diz o IEMA.
O setor de transporte público também vai precisar de um novo modelo de negócios para mudar a forma de remuneração dos operadores.
E com isso evitar que o custo — já elevado — das tarifas pagas pelos usuários encareça com novas fontes de energia, afastando ainda mais as pessoas do transporte público.
“Para o Rio de Janeiro, por exemplo, há a proposta da criação de um fundo para garantir a remuneração dos operadores. O Brasil ainda remunera a operação por passageiro transportado ou quilômetro rodado, mas é preciso mudar o modelo”.
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Cenário brasileiro
Segundo o documento, a indústria automotiva convencional — com carros movidos a combustíveis líquidos, principalmente fósseis — tem se transformado em um risco para investidores, diante das pressões da sociedade por alternativas mais sustentáveis.
No Brasil, os especialistas observam que há ainda uma insegurança sobre qual será o caminho escolhido para o setor de transportes do futuro.
“A eletrificação da mobilidade começa a ocorrer com força no mundo. Sem uma readequação industrial, o país corre o risco de se transformar em um importador desses veículos”, indica o relatório.
Outra crítica é em relação aos benefícios fiscais para a compra de carros elétricos. Com a perspectiva de que a eletrificação se desenvolva nos segmentos luxo e premium, o subsídio favoreceria apenas uma pequena parcela da população com maior poder aquisitivo.
Mas o projeto de futuro do governo federal pode ir em outra direção.
Para tentar dar uma resposta sobre o caminho tecnológico que será seguido, o Ministério de Minas e Energia lançou no final de abril o programa Combustível do Futuro.
A estratégia tem como foco a descarbonização via biocombustíveis, integrando políticas já existentes como RenovaBio (produção de distribuição de combustíveis), Rota 2030 (setor automotivo), Proconve e Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular.
Curtas
A produção brasileira de etanol em 2020 teve queda de 7,1% em relação ao ano anterior, atingindo 32,8 bilhões de litros. As vendas de etanol hidratado caíram 14,6% em 2020, em decorrência da pandemia…
…Já a produção de biodiesel foi 9% superior a 2019, impulsionada, principalmente, pelo aumento do teor de mistura no óleo diesel (de 11% para 12%). Dados fazem parte do Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2021 da ANP.
Relatório integrado da Ipiranga, publicado esta semana, demonstra como a pandemia e novos hábitos alteram os inventários de emissões. A distribuidora de combustíveis, carbono neutra desde 2014 (diretas e indiretas, do consumo de eletricidade), viu a intensidade de emissões cair 14% (escopos 1 e 2)…
…Influenciada pelo trabalho de casa de equipes administrativas, redução de viagens e deslocamentos. Ajudou a compensar o aumento no escopo 3, provocado pela maior importação de combustíveis, que queima combustível marítimo. A compensação é feita via mercado de carbono. Veja o documento na íntegra.
No terceiro dia da série de transmissões Diálogos da Transição, governo e mercado discutiram o que o Brasil precisa para disputar novos mercados de hidrogênio. Enquanto governo prepara diretrizes para um programa nacional, o mercado já se movimenta para investir na produção, de olho na demanda futura internacional.
RenovaBio. A Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados rejeitou, na terça (29), o Projeto de Decreto Legislativo 399/20, que suspende norma do governo reduzindo em cerca de 50% as metas do RenovaBio. A rejeição ao projeto foi pedida pelo deputado Joaquim Passarinho (PSD/PA), vice-líder do governo, e aprovada na comissão. Agência Câmara
A partir de julho, todas as entregas realizadas pelo iFood terão suas emissões de carbono compensadas antecipadamente. A empresa de delivery fez seu inventário de emissões vai compensar as emissões em projetos de preservação ambiental da Floresta Amazônica. Broadcast
ESG na prática. A edição de deste mês da Plurale reúne visões sobre como equipes de grandes grupos empresariais, da rede de fast food McDonald’s e a Gerdau, estão tentando incorporar critérios de governança ambiental e sustentabilidade social em suas práticas. Vale a leitura
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