NESTA EDIÇÃO. Políticas protecionistas comprometem a expansão de renováveis e veículos elétricos em dois grandes mercados consumidores.
Em meio a tensões globais crescentes, meta de triplicar renováveis parece cada vez mais desafiadora.
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Para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, mais de uma centena de países concordou, há dois anos, na COP28, em triplicar a capacidade global de energias renováveis. Um movimento que, até agora, está bastante concentrado na China, Europa e Estados Unidos.
E a atual escalada de tensões entre essas economias, marcada por imposições de tarifas protecionistas, corre o risco de prejudicar uma meta que já está na corda bamba.
De acordo com análise da McKinsey, a adoção de tecnologias de energia limpa provavelmente levará mais tempo e custará mais caro quanto mais longas e altas forem as tarifas aplicadas por EUA e Europa para protegerem seus mercados, especialmente em relação à concorrência chinesa.
- China e Estados Unidos estão negociando tarifas. Em junho, ambos suspenderam as promessas de taxação mútua de mais de 100%. Agora, a negociação gira em torno dos 30% dos EUA sobre produtos chineses contra os 10% da China sobre os norte-americanos.
- Já a União Europeia mantém tarifas de até 45% sobre veículos elétricos chineses.
A McKinsey desenha três cenários tarifários e, em todos eles, produtores de energia nos Estados Unidos enfrentam retornos menores para tecnologias como solar, eólica e veículos elétricos, embora a geração de energia dos ventos — abominada por Donald Trump — seja a menos afetada.
Em um cenário de imposição contínua de tarifas e escalada das tensões globais, a projeção é de estagnação na participação de energia renovável em 49% para além de 2035, contra uma expectativa de alcançar 69% de fontes limpas até 2035, se fossem mantidas as políticas comerciais vigentes em 2024.
O gás natural, por outro lado, tende a ganhar cada vez mais espaço na matriz estadunidense, em uma combinação de baixo custo e demanda energética aquecida, podendo chegar a 31% da capacidade com a escalada das tensões.
Protecionismo europeu impacta eletrificação
Enquanto isso, na União Europeia, que tem meta de 42,5% de renováveis até 2030, tarifas sobre a China — relevante no fornecimento de tecnologias de transição para o bloco — podem resultar em um crescimento menor de solar (-7% ) e eólica (-6%). Mas o impacto maior será em baterias (-10%) e veículos elétricos.
As importações de veículos elétricos representam aproximadamente 30% do mercado da UE, principalmente da China.
Mantidas as tarifas da UE, os veículos elétricos podem chegar a cerca de 50% de participação nas vendas do bloco até 2030.
Caso as disputas comerciais se intensifiquem e as barreiras aumentem, isso pode cair para 41%, criando dificuldades para a política de proibição de carros que emitem CO2, indica a McKinsey.
Meta de triplicar renováveis na corda bamba
Na semana passada, um relatório do think tank Ember alertou que as metas propostas pelos governos para a instalação de capacidade solar e eólica estão aquém do compromisso assumido na COP28, em 2023.
Triplicar renováveis até 2030 significa chegar a 11 terawatts (TW), mas, de acordo com a Ember, o mundo deve ficar em 7,4 TW, seguindo o ritmo atual.
É o dobro dos 3,4 TW registrados em em 2022, mas insuficiente para dar conta da expansão da demanda com energia sem carbono.
“A diferença entre a soma global das metas nacionais na COP28 e a atual, antes da COP30, é um aumento líquido de apenas 142 GW. A diferença para atingir a meta de triplicação permanece praticamente inalterada, em cerca de 3.700 GW, semelhante à observada quando a promessa foi feita na COP28”, critica a organização.
Cobrimos por aqui
Curtas
CNPE cancelado. O governo federal cancelou a reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que seria realizada na terça (5/8). Com isso, fica adiada também a edição do decreto do biometano e a MP do Gás para Todos. O adiamento foi atribuído à agenda do presidente Lula (PT), que vai se reunir com o Conselhão, na esteira da disputa com os EUA pela imposição de tarifas contra o Brasil.
Ainda sobre tarifas dos EUA… Bioenergia Brasil e Unica manifestaram, nesta segunda (4/8), apoio à atuação do governo federal na defesa dos interesses estratégicos do país, especialmente no setor dos biocombustíveis. Em nota oficial, as entidades ressaltaram que confiam na condução do governo brasileiro “com equilíbrio e estratégia” frente à disputa comercial.
- Na sexta (4/8), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu o primeiro sinal de abertura ao diálogo sobre tarifas com o Brasil.
Mercado livre. A abertura total do mercado de energia elétrica no Brasil deve fomentar investimentos superiores a R$ 2 bilhões por ano durante 10 anos, segundo projeção da consultoria Thymos Energia. Os investimentos devem incluir frentes como modernização de sistemas de informação e comunicação, automação e plataformas digitais de atendimento.
Geração distribuída. ONS, CCEE e EPE preveem que geração de energia em mini e micro usinas crescerá 29% em 2025. A nova estimativa é que painéis solares instalados em terrenos ou telhados devem produzir 6.836 MWmed — mais do que a garantia física da hidrelétrica de Belo Monte.
Energia no Amazonas. A diretoria da Aneel analisa na terça (5/8), o processo relativo aos contratos do leilão 02/2016, que pode resultar na correção de contratos de fornecimento de energia elétrica no Amazonas. O voto do relator Fernando Mosna, divulgado na última semana, e que será apreciado pelo colegiado é favorável à correção do erro técnico.
Olimpíada de Eficiência Energética. Estão abertas as inscrições para a edição 2025 da Olimpíada Nacional de Eficiência Energética (ONEE), que pretende alcançar cerca de 500 mil estudantes das redes pública e privada de ensino em todo o Brasil. Voltada para alunos do 8º e 9º ano, a competição tem inscrições gratuitas.
Solar Social. A EDP lançou o edital que vai destinar até R$ 650 mil para levar energia renovável a Organizações da Sociedade Civil (OSCs) em São Paulo e Espírito Santo. A chamada irá selecionar 20 instituições sem fins lucrativos para receberem sistemas fotovoltaicos em suas sedes. Inscrições até 5 de setembro.
Hackathon de descarbonização. A produtora de açúcar e etanol Tereos promove entre os dias 23 e 24 de agosto, seu primeiro hackathon de descarbonização. O desafio busca soluções digitais que contribuam com as metas de sustentabilidade da empresa. Com prêmios de R$ 5 mil a R$ 1 mil, a iniciativa tem inscrições gratuitas.