NESTA EDIÇÃO. Estudo analisa como países ricos e emergentes estão lançando mão de incentivos para descarbonizar a siderurgia.
E conclui que Brasil precisa ajustar o foco se quiser acompanhar os principais mercados.
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A matriz energética brasileira é um trunfo na manga quando o assunto é descarbonização industrial, mas o país é desafiado quando o assunto é incentivo político e financeiro, o que pode ser uma desvantagem na corrida pelo aço verde, indica um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Assinado pelo professor Germano Mendes de Paula, da Universidade Federal de Uberlândia, o documento (.pdf) analisa que a transição na indústria siderúrgica apresenta desafios maiores no Brasil em comparação com a União Europeia, Estados Unidos, Canadá e México.
Ele cita como obstáculos as emissões específicas de CO2, o uso mais intensivo da rota mini-mill (fornos elétricos) e a crescente onda de medidas de defesa comercial – como o mecanismo de ajuste de fronteira de carbono (CBAM) da UE.
Como o carvão mineral ainda é responsável por 70% da produção de aço, gerando 2,32 toneladas de CO2 por tonelada de aço bruto, é preciso um alto investimento para substituir o combustível e a tecnologia.
Carvão vegetal reflorestado e sucata de aço na cadeia produtiva já confere emissões menores (de 0,7 e 0,4 toneladas de CO2 por tonelada de aço bruto produzida, respectivamente).
Mas a maior redução virá dos fornos elétricos a arco (DRI-EAF), movidos a hidrogênio verde, podendo chegar a 90% (0,2 tonelada de CO2 por tonelada de aço bruto).
Falta o hidrogênio verde. A produção global a partir de renováveis ainda é uma fração do mercado de hidrogênio, estimada em cerca de 0,03%.
Não à toa, algumas economias estão injetando subsídios para desenvolver esse setor, dentro de suas estratégias para uma indústria menos intensiva em carbono. E o Brasil precisa fazer o mesmo, sinaliza o estudo.
“Até o momento, as medidas do governo brasileiro para promover a descarbonização da indústria siderúrgica podem ser consideradas modestas (em termos de recursos financeiros e medidas de defesa comercial) e atrasadas (questões jurídicas e institucionais, incluindo medidas de defesa comercial), em comparação com outros países”, diz.
“Parece difícil replicar a estratégia implementada pela Europa, mas o CBAM ou algum tipo de medida de defesa comercial deve ser implementado”, completa.
Atrás de China e Índia
Também em comparação a outros emergentes, os incentivos à descarbonização da siderurgia brasileira deixam a desejar.
Entre os exemplos está o 14º Plano Quinquenal Chinês (2021 a 2025) que determinou que a proporção de aço produzido em usinas semi-integradas (cujo principal insumo é a sucata ferrosa) deve expandir de 10% em 2020 para pelo menos 15% até 2025, contribuindo para a redução das emissões específicas de CO2. Essa participação deverá ultrapassar 20% até 2030.
Para isso, a indústria conta com uma série de subsídios. O que já mostra resultado.
De acordo com dados do governo chinês, pela primeira vez desde o plano quinquenal, não foram emitidas novas licenças para projetos siderúrgicos a carvão no primeiro semestre de 2024.
“Pode-se argumentar que a situação atual do Brasil é muito melhor do que a da China e da Índia. No entanto, o Brasil carece dos benefícios de altas economias de escala e subsídios massivos e recorrentes, como observado na China, bem como dos ganhos de um mercado de alta velocidade, como observado na Índia”, observa o pesquisador.
A visão é que é preciso ampliar os recursos institucionais e financeiros disponíveis para fomentar e pressionar a indústria siderúrgica brasileira a se descarbonizar.
Cobrimos por aqui
Curtas
Energia na lei do licenciamento. A proposta para a Lei Geral do Licenciamento Ambiental passou a incluir procedimentos simplificados e prioridade a projetos de energia. Se aprovado, poderá simplificar a emissão de licenças para linhas de transmissão e usinas térmicas e demais projetos “previstos e contratados no planejamento e nas políticas energéticas nacionais”.
Meio Ambiente diz que é inconstitucional. O MMA divulgou nota nesta quarta-feira (21) em que manifesta oposição à aprovação do PL 2159/2021, simplificando o licenciamento. A pasta comandada por Marina Silva (Rede) diz que as propostas afrontam a Constituição Federal e violam o princípio da proibição do retrocesso ambiental.
Foz do Amazonas. O Plenário aprovou nesta terça-feira (20/5), em votação simbólica, o projeto de resolução que cria a Frente Parlamentar do Senado em Defesa da Exploração de Petróleo na Margem Equatorial do Brasil. De autoria do senador Zequinha Marinho (Podemos/PA), a intenção é dar apoio político à exploração de petróleo na região.
Combustível do Futuro. Para a Abrace, a regulamentação do mandato do biometano, proposta pelo Ministério de Minas e Energia, não reconhece devidamente o mercado voluntário já existente do biocombustível. E reforça dúvidas sobre a liquidez dos certificados de garantia de origem (CGOB).
Justiça tarifária. O presidente Lula (PT) assinou nesta quarta-feira (21/5) a medida provisória da reforma do setor elétrico. O texto foi apresentado aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União/AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos/PB) e aos líderes de bancada. A reforma anunciada pelo MME tem como principal eixo a justiça tarifária, com o aumento da tarifa social de energia elétrica.
Mercado de urânio. O diretor de Planejamento e Política Mineral do MME, Anderson Barreto Arruda, disse na terça (20/5) que o ministério trabalha para aperfeiçoar o marco regulatório e atrair investimentos privados à cadeia produtiva do urânio. Arruda avalia que o cenário internacional é favorável à expansão da indústria, com crescimento da demanda global e restrição de oferta.
Efeito Trump. A América Latina está emergindo como destino preferido de exportadores que buscam acesso aos Estados Unidos a custos mais baixos desde que o presidente norte-americano iniciou uma guerra tarifária sob o pretexto de fomentar a indústria nacional, mostra uma pesquisa da Allianz Trade. Energia e mineração estão no topo dos interesses.
Recuo na eletrificação. A Ford Motor está dando mais um passo atrás em suas ambições com veículos elétricos, permitindo que a rival Nissan use parte de sua principal fábrica de baterias nos EUA, de acordo com pessoas familiarizadas com o plano. A montadora norte-americana acumula US$ 5 bilhões em prejuízos com EVs e busca reduzir impacto de tarifas.
Biodiversidade é bom negócio. O CEBDS lançou um e-book com boas práticas do setor empresarial brasileiro na proteção da natureza. A intenção é ser uma ferramenta prática para sensibilizar lideranças e integrar o tema à estratégia corporativa. O documento reúne experiências da Anglo American, Eletrobras, Iguá Saneamento, Petrobras, Philip Morris Brasil, Santander, Suzano, Total Energies e Vale.