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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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A poluição plástica é um problema de mais de 7 bilhões de toneladas que se acumulam em aterros sanitários ou lixões desde a década de 1950, segundo dados da ONU. Nos oceanos, a estimativa é que, a cada ano, cerca de 8 milhões de toneladas de plástico acabem no ambiente marítimo.
Sem uma resposta adequada, esse resíduo está alterando habitats naturais, reduzindo a capacidade dos ecossistemas de se adaptar às mudanças climáticas, afetando, inclusive, a produção de alimentos.
Ou seja, não é um problema isolado: está diretamente relacionado a outros fatores de estresse ambiental.
E é com essa leitura que 175 países estão reunidos em Paris esta semana para negociar um acordo capaz de reorientar as economias para longe deste produto da petroquímica que hoje domina nosso modelo de consumo.
Uma missão nada fácil. Lançado há algumas semanas, um estudo do Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA) mostra que a produção anual mais do que dobrou em 20 anos, atingindo 460 milhões de toneladas e pode triplicar até 2060, se nenhuma ação for tomada.
Só que fazer a transição para outros tipos de materiais e construir infraestrutura de reciclagem para o que já está se acumulando por aí pode custar US$ 65 bilhões por ano.
Esse é o montante necessário para reduzir a poluição plástica em 80% globalmente até 2040, eliminando a produção de plásticos problemáticos e desnecessários, e em seguida adotar três mudanças de mercado – reutilizar, reciclar e diversificar os produtos.
“Muito disso pode ser mobilizado transferindo os investimentos planejados para novas instalações de produção – não mais necessárias devido à redução das necessidades de materiais – ou um imposto sobre a produção de plástico virgem”, diz o documento.
O relatório traz uma série de sugestões para subsidiar o acordo discutido esta semana. Veja na íntegra (.pdf em inglês)
Entre elas, desenvolver padrões de design e segurança para o descarte de resíduos plásticos não recicláveis e tornar os fabricantes responsáveis por produtos que liberam microplásticos.
No geral, a ONU estima que a mudança para uma economia circular resultaria em US$ 1,27 trilhão em retorno, considerando custos e receitas de reciclagem.
Outros US$ 3,25 trilhões seriam economizados com externalidades evitadas, como saúde, clima, poluição do ar, degradação do ecossistema marinho e custos relacionados a litígios.
No entanto, o tempo é essencial: um atraso de cinco anos pode levar a um aumento de 80 milhões de toneladas de poluição plástica até 2040.
É aí que entra a urgência de um acordo internacional, nos moldes do que vem sendo negociado para descarbonizar a economia global e limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C. Aqui também ainda falta muito.
Assim como nas discussões de transição energética, no caso do plástico, as recomendações miram estímulos econômicos para que os reciclados possam competir em pé de igualdade com materiais virgens e ganhem escala.
Em busca de um Acordo de Paris
A reunião desta semana é uma continuidade de um processo iniciado em fevereiro de 2022, quando as partes concordaram em desenvolver um instrumento internacional juridicamente vinculativo sobre a poluição plástica, inclusive no ambiente marinho.
O debate, no entanto, está dividido entre aqueles que desejam limitar a produção de mais plásticos e os que defendem um acordo focado na limpeza dos resíduos plásticos que já obstruem os oceanos e abarrotam lixões. Reuters
O objetivo é concluir as negociações até o final de 2024 e criar um tratado global com medidas voluntárias e obrigatórias que abordem todo o ciclo de vida.
“Os compromissos atuais só reduzirão a poluição plástica em cerca de 8% até 2040. A torneira ainda estará aberta. Este acordo pode ser a ferramenta que o mundo usa para fechar a torneira”, defendeu nesta segunda (29/5) a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen.
“Uma transformação total do mercado – apoiada por políticas, transparência e mudanças regulatórias – poderia praticamente eliminar a poluição plástica até 2040. Reduzir a pressão sobre os sistemas de reciclagem e gerenciamento de resíduos, para que eles possam lidar com isso”, discursou na abertura das negociações.
Por trás do plástico, a petroquímica
Formada em janeiro de 2019 por empresas de química e petróleo, a Aliança para Acabar com o Desperdício de Plástico (AEPW, em inglês) anunciou planos de investir até US$ 1,5 bilhão em cinco anos para “promover soluções para eliminar o desperdício de plástico no meio ambiente”.
Mas uma investigação da Bloomberg Green descobriu que a organização, com sede em Cingapura, é dominada por empresas petroquímicas que têm interesse em manter esse mercado ativo, e que seus esforços mal estão causando impacto.
“Quase quatro anos depois de sua criação, o grupo diz ter “desviado” 34 mil toneladas de plástico do meio ambiente. Isso é cerca de 0,2% de sua meta original”, diz a Bloomberg.
Cobrimos por aqui:
- Transição de materiais, ESG na mineração e Net Zero só em 2057
- Indústria petroquímica lança fundo de US$ 1,5 bi para combater poluição plástica
- Unilever aposta em novas alternativas para redução de plástico nas embalagens
- Transporte marítimo tem novos acordos para criar mercado de carbono azul
Curtas
90% renovável
A geração hidráulica, eólica e solar respondeu por 91,4%, na média, da energia elétrica distribuída pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), entre os meses de janeiro e abril, de acordo com dados do ONS. A maior parte da carga foi atendida pelas hidrelétricas, que responderam por cerca de 77,2% da geração do período, em média. Eólica atendeu a 11,5% da demanda e solar 2,7%.
ACL
Mercado livre de energia elétrica voltou a registrar recorde de consumo em março deste ano, com 27.899 MW médios absorvidos por 32.627 unidades consumidoras. O patamar de consumo de março deste ano é 13% maior do que o registrado no mesmo mês do ano passado, de acordo com a Abraceel.
De outro lado, o consumo registrado no mercado regulado, atendido pelas distribuidoras de energia, recuou 0,5% no mesmo período. O mercado livre de energia atraiu 4.752 novas unidades consumidoras no acumulado de 12 meses encerrados em março de 2023, um crescimento de 17%, somando agora 32.627 unidades consumidoras.
Eólica no Japão
O país estabeleceu uma meta de meio século para aumentar a capacidade eólica para 140 GW de menos de 5 GW agora, e atender a um terço da demanda interna de eletricidade com a fonte renovável até 2050. Faz parte da estratégia de neutralidade de carbono até lá.
A energia eólica offshore deve ser central para a expansão de energia renovável do Japão, mas o progresso foi adiado e uma meta do governo de até 45 GW em 2040 parece menos ambiciosa do que as novas metas da Japan Wind Power Association. Reuters
Subsídio para H2 na Austrália
O governo australiano começará a subsidiar o hidrogênio a partir de 2026-27 no programa Hydrogen Headstart de US$ 1,3 bilhão. O crédito é projetado para ser pago no momento em que o hidrogênio é fabricado e preencherá a lacuna entre o preço pelo qual é produzido e o preço pelo qual é vendido. As empresas com as menores margens entre os custos de produção e os preços de mercado terão acesso preferencial. Argus
Nova CFO na Lemon Energia
A startup de geração compartilhada remota anunciou hoje a contratação de Alessandra Mak como CFO no lugar de Ariel Amar, que vai se dedicar a projetos pessoais, mas segue como um dos principais sócios. Ex-Quinto Andar, Somos Educação, Nike, Itaú e Santander, Alessandra chega em um momento de expansão da Lemon.
Há um ano, a empresa realizou uma rodada Series A de R$ 60 milhões e está expandindo as operações em Goiás e no interior de São Paulo. As duas regiões devem representar 25% e 20%, respectivamente, das operações da Lemon até o fim de 2023 e vão ajudar a dobrar a base de clientes da empresa, para ao menos 10 mil.