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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 11/02/22
Editada por Nayara Machado
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Ontem (10/2), o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou que o país vai expandir a termeletricidade nuclear, com a construção de seis novos reatores e possibilidade de acrescentar mais oito a essa conta – como estratégia para atingir a neutralidade de carbono em 2050.
Nos Estados Unidos, o governo de Joe Biden lançou, também na quinta (10/2), um plano de quase US$ 5 bilhões para construção de milhares de estações de recarga de bateria de veículos elétricos nos próximos cinco anos.
Enquanto isso, no Brasil, o governo de Jair Bolsonaro estuda zerar os tributos do óleo diesel para segurar o impacto da alta dos preços dos combustíveis em 2022, durante a corrida eleitoral. Um subsídio ao combustível fóssil que pode chegar a R$ 20 bilhões.
Os três anúncios têm uma coisa em comum: são respostas dos governos para lidar com os altos custos de energia, que impactam economias já fragilizadas pela crise que acompanhou a pandemia de covid-19.
Mas vão em direções opostas.
Sem deixar a transição energética de lado – França e EUA avançam com suas estratégias para alavancar a indústria local, ao mesmo tempo em que reduzem a dependência de fósseis.
Já o Brasil, insiste em uma política que está cada vez mais sujando a matriz, enquanto se apoia no discurso do “já somos os mais renováveis”. E quem sai ganhando são os fósseis.
A estratégia do governo de subsidiar o diesel foi endossada esta semana na portaria em que a Casa Civil elenca prioridades para o governo no legislativo.
O ministro Paulo Guedes também chegou a dizer que tem ‘simpatia’ por subsídio de R$ 20 bilhões para zerar impostos federais sobre o combustível.
Dentro da equipe econômica, a defesa de redução dos impostos sobre o diesel é justificada pelo impacto que o combustível tem em outras cadeias produtivas, como a de transporte e alimentos, o que poderia ajudar a segurar a inflação.
Vale lembrar que, também na tentativa de conter o preço do diesel, o governo reduziu a mistura de biodiesel no combustível fóssil – o que não foi suficiente para aliviar a conta, além de ir na contramão da descarbonização do transporte.
Eletrificação nos EUA
O financiamento para os estados instalarem pontos de carregamento foi aprovado em novembro pelo Congresso norte-americano, como parte de um projeto de infraestrutura de US$ 1 trilhão de dólares.
O governo federal disponibilizará US$ 615 milhões de dólares em 2022, mas os estados devem primeiro apresentar planos e obter aprovação de Washington para a verba. Reuters
O plano de Joe Biden é que, até 2030, 50% de todos os novos veículos vendidos no país sejam elétricos ou híbridos plug-in. Para isso, planeja a instalação de meio milhão de novas estações de carregamento de veículos elétricos.
A prioridade dos investimentos são as rodovias interestaduais. A expectativa é ter infraestruturas de carregamento de baterias a cada 80 quilômetros ao longo das estradas.
A Casa Branca também sancionou uma legislação paralisada no Congresso que aumenta os atuais créditos fiscais para a compra de veículos elétricos de US$ 7,5 mil para até US$ 12,5 mil, desde que sejam produzidos nos EUA.
Créditos de até US$ 4 mil para VEs usados também fazem parte do plano.
- Leia também: Esforço de Biden para eletrificar frota federal une velhos adversários do setor energético
Nuclear na França é ‘independência energética’, diz Macron
Segundo a agência AFP, a expansão nuclear prevê seis reatores EPR2 que seriam encomendados à EDF, com opção de mais oito.
Ontem (10/2), o grupo francês EDF assinou um acordo de exclusividade para a compra de parte das atividades nucleares da GE Steam Power, incluindo as turbinas Arabelle.
O discurso de Macron ocorreu durante sua visita à fábrica de turbinas nucleares Arabelle em Belfort, leste da França. Ele também afirmou meta de 40 GW de capacidade de geração de energia eólica offshore até 2050 e mais de 100 GW de parques solares fotovoltaicos.
Já a meta de 37 GW de eólica onshore será adiada de 2030 para 2050.
Na tentativa de deixar para trás as energias fósseis e reindustrializar o país, o plano de Macron passa ainda por prolongar a vida útil do maior número possível de reatores em funcionamento.
Uma mudança de posicionamento em relação a 2018, quando afirmou que o país, um dos que mais investem em energia nuclear, fecharia uma dúzia de usinas. AFP
O anúncio de ontem vem na esteira da apresentação pela Comissão Europeia do documento final para incluir projetos de gás natural e energia nuclear na taxonomia de financiamento sustentável da União Europeia (UE). Vale dizer que não há consenso sobre a sustentabilidade dessas fontes.