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Metas climáticas enfraquecem a três meses da COP30

A 91 dias da COP30, avaliação do CAT mostra enfraquecimento das metas climáticas e alerta para falta de ação real

Cartaz pede liderança indígena nas ações climáticas, durante reuniões preparatórias para a COP30, em Bonn (Foto: UN Climate Change/Lara Murillo)
Cartaz pede liderança indígena nas ações climáticas, durante reuniões preparatórias para a COP30, em Bonn (Foto: UN Climate Change/Lara Murillo)

NESTA EDIÇÃO. A 91 dias da COP30, cientistas alertam que novas NDCs enfraquecem, ao invés de fortalecer, ação climática rumo ao 1,5°C.

Segundo o CAT, governos recorrem a sumidouros florestais para mascarar baixa ambição no corte de combustíveis fósseis.


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Faltando 91 dias para a COP30, momento em que quase 200 países precisam entregar a atualização das suas contribuições para o Acordo de Paris, apenas 22 o fizeram e, de acordo com analistas, de forma insuficiente.
 
O Climate Action Tracker (CAT) analisou a metade dessas entregas e observa que a distância entre as metas e o objetivo de limitar o aquecimento a 1,5ºC aumentou, sinalizando um enfraquecimento, e não um fortalecimento, da ação climática.
 
A organização de cientistas climáticos estudou as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de Brasil, Canadá, Japão, Quênia, Nepal, Nova Zelândia, Singapura, Suíça, Emirados Árabes, Reino Unido e Estados Unidos.
 
Esses 11 países responderam por 19% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2022.
 
Somente o Reino Unido passou na avaliação. O país planeja reduzir as emissões em 81% em relação aos níveis de 1990 até 2035. Para o CAT, os britânicos estão começando a alinhar suas ações internas com uma trajetória de 1,5°C, mas é preciso ampliar o financiamento internacional para contribuir totalmente com o Acordo de Paris.
 
“O que mais importa agora são as ações para reduzir as emissões na economia real”, destaca. 
 
Vale dizer que as NDCs de importantes emissores globais ainda não chegaram — o que pode mudar o jogo (pro bem ou pro mal), como China, União Europeia e Índia. Enquanto a debandada do segundo maior emissor aumenta as incertezas em torno do 1,5ºC.
 
Em abril, a China prometeu, pela primeira vez, apresentar metas climáticas abrangendo toda a economia. E no início de julho, a Comissão Europeia propôs uma legislação exigindo a redução de 90% nas emissões até 2040 em relação aos níveis de 1990. 
 
Já a Índia anunciou, também em julho, que chegou ao marco de 50% de capacidade instalada de eletricidade a partir de fontes não fósseis — cinco anos antes da meta estabelecida em sua NDC.
 
Na contramão estão os EUA. De saída da presidência, o democrata Joe Biden entregou uma NDC prevendo corte de 61 a 66% nas emissões até 2035. Mas a chegada do republicano Donald Trump ao poder e retirada do país do Acordo de Paris inspira pouca confiança no cumprimento dessas metas. 



Embora tenham concordado na COP28, em 2023, com uma transição para longe dos combustíveis fósseis, as nações analisadas pelo CAT ainda não demonstraram uma ambição compatível.
 
Canadá e Suíça, por exemplo, estabeleceram metas para 2035 mais fortes do que suas metas para 2030, mas as trajetórias domésticas estão mais distantes do objetivo de 1,5°C.
 
Anfitrião da COP30, o Brasil também é criticado por sua baixa ambição no setor de energia e transportes.
 
“Os governos estão recorrendo aos sumidouros [de carbono] do uso da terra para aumentar o nível de ambição de suas metas nacionais, em vez de priorizar as reduções urgentes no uso de combustíveis fósseis na indústria, transporte e outros setores”, observa o think tank. 
 
E alerta que esses sumidouros não podem substituir a redução das emissões pela transição dos combustíveis fósseis.
 
Outro problema é o uso das compensações de carbono de forma indiscriminada, para prolongar a vida de ativos fósseis.
 
“No processo de definição das metas da UE para 2035 e 2040, alguns Estados-Membros estão pressionando pela introdução de créditos de carbono internacionais, nos termos do Artigo 6. A legislação da UE exige que as metas de 2030 e 2050 sejam cumpridas sem compensações. A reintrodução de compensações em seus planos enfraqueceria gravemente a ambição”, aponta.


Biodiesel na COP30. Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio), Aprobio, Abiove e Ubrabio entregaram um documento ao Enviado Especial para a Agricultura, Roberto Rodrigues, oferecendo o combustível renovável para a cúpula climática marcada para novembro, em Belém (PA).

  • As propostas incluem viabilizar o uso de 100% de biodiesel (B100) em geradores estacionários, além de B25 para abastecer a frota de transporte coletivo durante a organização, realização e desmonte do evento.

Zona de exclusão. Organizações ambientais entregaram, nesta segunda (11/8), uma carta ao Itamaraty pedindo que o Brasil defenda o fim da expansão de petróleo e gás na Amazônia. O pedido antecede a Cúpula de Bogotá da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que deve aprovar uma declaração conjunta sobre a crise climática.
 
Biometano na frota. A Jomed Transportes, empresa do setor de transporte rodoviário de cargas, fechou um acordo com a Ultragaz para abastecimento de sua frota própria de caminhões com biometano. No primeiro ano do projeto, o biocombustível abastecerá 19 veículos, que operam em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul.
 
Luz para Todos. O presidente Lula (PT) e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), anunciaram na sexta-feira (8/8) novos investimentos do programa Luz para Todos nos estados do Acre e Rondônia. As ações preveem a expansão do acesso à energia elétrica em sistemas isolados, com recursos que somam mais de R$ 420 milhões.
 
Aumento na conta de luz. A Aneel revisou para 6,3% o aumento médio nas contas de eletricidade no Brasil em 2025. A projeção anterior, feita em março, previa reajustes de 3,5%, mas foi alterada pela agência por conta da ampliação dos subsídios pagos pelos consumidores.
 
Combate ao microplástico. Estudo da Academia Brasileira de Ciências (ABC) aponta que o Brasil contribui anualmente com até 190 mil toneladas do volume total de lixo no ambiente marinho. A estimativa de produção de plástico no mundo é de 400 milhões de toneladas ao ano, sendo menos de 10% reciclado.
 
Solução Natureza. Fundação Grupo Boticário e C40 lançaram uma incubadora para facilitar o financiamento de projetos urbanos de adaptação e enfrentamento à mudança do clima. A chamada pública selecionará até 30 propostas de prefeituras, consórcios municipais e agências metropolitanas no Brasil. Inscrições até 8 de setembro.
 
Curso de IA na Energisa. O programa Rio Pomba Valley, da Energisa, está com inscrições abertas para o curso gratuito “Fundamentos da Inteligência Artificial” da SkillUp, para jovens a partir de 13 anos. A formação acontece entre 18 de agosto e 14 de setembro 100% online. Inscrições até 15 de agosto.

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