Diálogos da Transição

IEA: Governos precisam separar clima de geopolítica

No novo cenário net zero, o aumento da capacidade de energia renovável reduz a demanda de combustíveis fósseis em 25% até 2030

Fatih Birol, Executive Director, International Energy Agency, Paris speaking during the Session "A New Era for Energy Politics" at the Annual Meeting 2018 of the World Economic Forum in Davos, January 23, 2018.

Copyright by World Economic Forum / Manuel Lopez
Fatih Birol, Executive Director, International Energy Agency, Paris speaking during the Session "A New Era for Energy Politics" at the Annual Meeting 2018 of the World Economic Forum in Davos, January 23, 2018. Copyright by World Economic Forum / Manuel Lopez

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
[email protected]

Daqui a 65 dias começa em Dubai, nos Emirados Árabes Árabes Unidos, a 28ª edição da Conferência Climática das Nações Unidas (COP28), onde governos do mundo inteiro tentarão chegar a um acordo sobre o futuro dos combustíveis fósseis – e do clima do planeta.

O encontro deste ano avaliará o progresso dos signatários do Acordo de Paris, de 2015, em relação às suas metas voluntárias, enquanto organizações ambientais pressionam por mais esforços.

Entre os caminhos-chave para alcançar emissões líquidas zero até 2050 e limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100 está triplicar a capacidade das energias renováveis ​​para 11 terawatts (TW) até 2030.

Junto com as metas para renováveis estão as de dobrar a eficiência energética e a produção de hidrogênio para 180 milhões de toneladas/ano até 2030.

É um caminho, nem todo mundo está de acordo, mas dá para chegar lá, acredita a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), que divulgou hoje (26/9) a atualização do seu roteiro para emissões líquidas zero até 2050.

“Manter vivo o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C exige que o mundo se reúna rapidamente. A boa notícia é que sabemos o que precisamos fazer – e como fazê-lo”, disse o diretor executivo da IEA, Fatih Birol.

“Mas também temos uma mensagem muito clara: uma cooperação internacional forte é crucial para o sucesso. Os governos precisam de separar o clima da geopolítica, dada a escala do desafio que enfrentam”, completou.

Originalmente publicado em 2021, o documento trouxe mais de 400 marcos para orientar os países rumo à descarbonização da economia – entre eles, interromper o desenvolvimento de novas reservas de óleo e gás.

A atualização deste ano incorpora as mudanças no panorama energético nos últimos dois anos, incluindo a recuperação econômica pós-pandemia e o “crescimento extraordinário” em algumas tecnologias de energia limpa – mas também o aumento do investimento em combustíveis fósseis e emissões elevadas.

Suavizando um pouco o tom para os fósseis, diz que não é necessário “nenhum novo projeto upstream de petróleo e gás de longo prazo”, ao mesmo tempo em que vê a eletrificação emergindo como “novo petróleo” do sistema energético global.

No cenário atualizado de emissões líquidas zero (.pdf em inglês), o aumento da capacidade de energia renovável, impulsionado por políticas, reduz a procura de combustíveis fósseis em 25% até 2030, reduzindo as emissões em 35% em comparação com o máximo histórico registrado em 2022.

Em 2050, a demanda fóssil cai 80%. Como resultado, não são necessários novos projetos de petróleo e gás upstream de longo prazo, nem novas minas e centrais de carvão.

Ainda assim, indica que será necessário um investimento contínuo em alguns ativos de petróleo e gás existentes e em projetos já aprovados, para evitar picos de preços ou excessos de oferta.

Otimismo moderado

Segundo o relatório, limitar o aquecimento global a 1,5°C continua possível devido ao crescimento recorde das adições de energia solar e vendas de veículos elétricos, mas o impulso precisa aumentar rapidamente em várias áreas.

Por exemplo, garantir pleno acesso a formas modernas de energia para todos até 2030, com um investimento anual de quase US$ 45 bilhões por ano – pouco mais de 1% do investimento no setor energético.

De forma geral, quase todos os países deverão avançar com as datas previstas para zero líquido. Enquanto os gastos globais com energia limpa precisam aumentar de US$ 1,8 trilhão em 2023 para US$ 4,5 trilhões anuais no início da década de 2030.

Além das metas de triplicar as renováveis e dobrar a taxa de eficiência, o roteiro aponta que as vendas de veículos elétricos e bombas de calor precisam aumentar acentuadamente e as emissões de metano do setor energético caem 75%. Estratégias que poderiam levar a mais de 80% das reduções necessárias até ao final da década.

Planos frustrados no hidrogênio

Na semana passada, a IEA publicou uma análise sobre as políticas de apoio ao hidrogênio de baixo carbono em todo mundo, concluindo que a implementação de incentivos financeiros está lenta.

Ao todo, a agência identificou 40 países com estratégias nacionais para o hidrogênio. No entanto, a capacidade instalada e os volumes permanecem baixos – o gás de baixo carbono ainda representa menos de 1% da produção e utilização global.

Isso porque os investidores estão aguardando a definição de incentivos.

“Num contexto de crise energética global, inflação elevada e perturbações na cadeia de abastecimento, os novos projetos enfrentam custos crescentes, pelo menos temporariamente, que ameaçam a rentabilidade a longo prazo”, explica o relatório publicado na última sexta (22/9).

De acordo com o estudo, a inflação e os custos de financiamento mais elevados estão afetando toda a cadeia de valor do hidrogênio, o que significa aumento de custos de financiamento para os investidores e redução do impacto dos subsídios.

“Esta confluência de fatores é particularmente prejudicial para uma indústria que enfrenta elevados custos iniciais relacionados com construção, fabricação e instalação de equipamentos”.

No final de 2022, a capacidade do eletrolisador para produção de hidrogênio atingiu quase 700 MW.

Com base em projetos que alcançaram a decisão final de investimento ou estão em construção, a IEA estima que a capacidade total poderá mais do que triplicar, para 2 GW, até ao final de 2023, sendo a China responsável por metade deste valor.

Se todos os projetos anunciados forem concretizados, um total de 420 GW poderá ser alcançado até 2030, um aumento de 75% em comparação com a avaliação de 2022 da IEA.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Cooperação para o hidrogênio no Nordeste…

Consórcio Nordeste e Banco Mundial firmaram na segunda-feira (25/9) acordo para elaboração de um plano de transição energética, com captação de investimentos na cadeia de hidrogênio de baixa emissão de carbono e financiamento de projetos com foco em energias renováveis.

Os termos foram assinados por Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, que compõem o grupo. A ideia é desenvolver um hub de economia verde na região.

…e em São Paulo

As Federações da Indústria de São Paulo (Fiesp) e do Ceará (Fiec) assinam nesta terça (26/9) um acordo de cooperação com Absolar e Abeeólica para promover a produção e desenvolver o mercado do hidrogênio verde nos dois estados.

O grupo defende políticas para dar competitividade ao H2V, produzido por meio de energia renovável (eólica, biogás e solar fotovoltaica). Um dos elementos da cooperação é a identificação de regiões atrativas para a produção e hubs que otimizem custos de transporte, tanto para o mercado doméstico como para o internacional.

Outro é identificar potenciais sinergias na indústria local com a produção de eletrolisadores, e desenhar metas para produção e uso do combustível nos estados paulista e cearense.

Hub para descarbonizar a siderurgia

Vale e Porto do Açu assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) para estudar um mega hub no porto, no norte do estado do Rio de Janeiro. O foco é a fabricação de HBI (“hot briquetted iron” ou ferro-esponja).

Derretimento preocupante

O gelo marinho que contorna a Antártida atingiu neste inverno os níveis mais baixos já registrados pelo NSIDC, centro de dados dos Estados Unidos que mede os níveis de neve. Cientistas estão preocupados com os impactos das mudanças climáticas no Polo Sul. (Reuters/G1)