NESTA EDIÇÃO. Veículos elétricos, renováveis e expansão de redes registraram recordes de investimentos, enquanto hidrogênio e CCS recuaram e nuclear estagnou.
Mundo precisa alcançar uma média de US$ 5,6 trilhões por ano para transição até 2030, aponta BNEF.
Em 2024, a China liderou com folga: investimento total foi maior do que o volume combinado dos EUA, UE e Reino Unido.
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O mundo superou, pela primeira vez, a marca de US$ 2 trilhões em investimentos em transição energética em 2024, mas indústrias emergentes como hidrogênio e captura e armazenamento de carbono (CCS) não conseguiram surfar essa onda, mostra relatório anual da BloombergNEF (BNEF).
Publicado esta semana, o Energy Transition Investment Trends 2025 observa uma diferença marcante entre o investimento em setores maduros e emergentes.
Energias renováveis, armazenamento, veículos elétricos e redes de transmissão conseguiram atravessar crises políticas, taxas de juros elevadas e queda na demanda e crescer 14,7%, atraindo US$ 1,93 trilhão.
Em contraste, aquecimento eletrificado, hidrogênio, CCS, nuclear, indústria e transporte limpos ficaram com apenas US$ 155 bilhões – uma queda geral de 23% na comparação anual.
“Fatores que desencorajam o investimento nesses setores incluem acessibilidade, maturidade tecnológica e escalabilidade comercial. Para escalar essas indústrias, os setores público e privado precisam fazer mais para reduzir o risco dessas tecnologias, caso contrário, elas provavelmente não terão nenhum impacto significativo nas emissões até o final da década”, explica a BNEF.
No detalhe:
- O investimento nuclear ficou estável em US$ 34,2 bilhões;
- O aquecimento elétrico caiu 5,2% para US$ 77 bilhões;
- CCS e indústria limpa caíram pela metade, para US$ 6,1 bilhões e US$ 27,8 bilhões, respectivamente;
- O investimento em hidrogênio caiu 42% para US$ 8,4 bilhões.
A consultoria relata ainda que o investimento global em transição energética precisaria de uma média de US$ 5,6 trilhões a cada ano de 2025 a 2030, para entrar no caminho para o zero líquido global até 2050, em linha com o Acordo de Paris.
US$ 2 tri pela primeira vez
A eletrificação do transporte foi o grande impulsionador dos investimentos em transição energética em 2024, movimentando US$ 757 bilhões em aportes em veículos elétricos e infraestruturas de recarga em diferentes países, aponta a BNEF.
Ao todo, o mundo registrou um recorde de US$ 2,1 trilhões destinados à descarbonização da matriz energética, crescimento de 11% em relação ao ano anterior.
O ritmo ficou mais lento, no entanto: em 2023 o investimento saltou de 24% para 29% ao ano.
Energia renovável e redes elétricas também atingiram novos máximos no ano passado, juntamente com o investimento em armazenamento de energia.
Foram US$ 728 bilhões para energia eólica onshore e offshore, solar, biocombustíveis, biomassa e resíduos, marinha, geotérmica e pequenas hidrelétricas.
Já as redes elétricas mobilizaram US$ 390 bilhões em linhas de transmissão e distribuição, equipamentos de subestações e digitalização da rede.
O ano também foi positivo para o armazenamento de energia, que registrou crescimento de 36% em 2024, elevando o total comprometido para US$ 53,9 bilhões.
Outro setor que está ganhando espaço nos investimentos em baixo carbono é o transporte marítimo. Embora comparado aos demais segmentos o volume de recursos seja pequeno, a aquisição e encomenda de embarcações de emissão zero quadruplicou para US$ 452 milhões.
China investe mais que EUA e Europa
Sozinha, China foi responsável por US$ 818 bilhões em investimentos, um aumento de 20% em relação a 2023.
De acordo com a BNEF, o crescimento dos investimentos chineses foi equivalente a dois terços do aumento global total no ano, com todos os setores analisados mostrando um crescimento sólido.
União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido, que impulsionaram o crescimento em 2023, foram em outra direção.
Nos EUA, o investimento ficou estagnado (US$ 338 bilhões), enquanto UE (US$ 381 bilhões) e Reino Unido recuaram (US$ 65,3 bilhões).
Entre os grandes mercados incluídos no relatório, Índia (US$ 47 bilhões) e Canadá (US$ 35 bilhões) também contribuíram para o crescimento global.
Brasil e Japão, por outro lado, viram seus investimentos recuarem, em 4,3% e 3%, respectivamente.
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Curtas
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