Diálogos da Transição

Gap de gênero no mercado de trabalho é maior do que se estimava, diz Banco Mundial

Nenhum país oferece igualdade de oportunidades para mulheres – nem mesmo as economias mais ricas

Gap de gênero no mercado global de trabalho é muito mais amplo do que se pensava, diz Banco Mundial. Na imagem: Sala de reuniões com mesa de madeira em formato circular com cadeiras estofadas em couro na cor marrom (Foto: Patrick Sommer/Pixabay)
Relatório Women, Business, and the Law conclui que mulheres desfrutam de menos de dois terços dos direitos dos homens (Foto: Patrick Sommer/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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O Banco Mundial revelou no início desta semana que o hiato de gênero global para mulheres no local de trabalho é muito mais amplo do que se pensava.

Adicionando diferenças legais envolvendo violência e cuidados infantis na equação, o relatório Women, Business, and the Law (.pdf em inglês) concluiu que as mulheres desfrutam de menos de dois terços dos direitos dos homens.

E ainda: nenhum país oferece igualdade de oportunidades entre gêneros – nem mesmo as economias mais ricas.

Segundo o Banco Mundial, esses dois indicadores – segurança e acesso a serviços de cuidados infantis – podem ser críticos para abrir ou restringir opções de trabalho.

Os dados mostram isso. Quando essas medidas são incluídas, as mulheres, em média, desfrutam de apenas 64% das proteções legais que os homens têm, o que é muito menos do que a estimativa anterior de 77%.

Embora o ano de 2023 tenha sido marcado por avanços em áreas como salário, direitos parentais e proteções no local de trabalho, segurança é uma barreira significativa na carreira de mulheres.

Enquanto 151 economias têm leis contra assédio sexual no local de trabalho, apenas 39 tratam dessa violência nos espaços públicos – o que deixa as vulneráveis no transporte público, por exemplo.

A maioria dos países também recebe uma pontuação baixa para as leis de cuidados infantis. Em média, mulheres gastam 2,4 horas a mais por dia em trabalho não remunerado do que os homens.

“Expandir o acesso aos cuidados infantis tende a aumentar a participação das mulheres na força de trabalho em cerca de 1 ponto percentual inicialmente – e o efeito mais do que dobra em cinco anos”, calcula o relatório.

Se, na teoria, já está ruim, na prática é pior

Ao avaliar a lacuna entre as reformas legais e os resultados reais para as mulheres em 190 economias, os analistas apontam que, embora as leis existentes assegurem às mulheres 64% dos direitos dos homens, os países, em média, estabeleceram menos de 40% dos sistemas necessários para uma implementação completa.

“Por exemplo, 98 economias promulgaram legislação exigindo igualdade salarial para mulheres em trabalhos de igual valor. No entanto, apenas 35 economias – menos de uma em cada cinco – adotaram medidas de transparência salarial ou mecanismos de fiscalização para abordar a diferença”, destaca o relatório.

Fechar essa lacuna poderia aumentar o produto interno bruto global em mais de 20%, dobrando a taxa de crescimento global na próxima década, diz a instituição. Mas as reformas estão se arrastando.

“É mais urgente do que nunca acelerar os esforços para reformar leis e promulgar políticas públicas que capacitem as mulheres a trabalhar e começar e expandir negócios”, disse Tea Trumbic, autora principal do relatório.

“Hoje, apenas metade das mulheres participa da força de trabalho global, em comparação com quase três em cada quatro homens. Isso não é apenas injusto, é desperdício. Aumentar a participação econômica das mulheres é a chave para amplificar suas vozes e moldar decisões que as afetam diretamente”, completa.

No Brasil, o cenário melhorou um pouquinho…

Assim como na média global, o país teve avanços em termos salariais e participação em cargos de liderança.

Estudo da  Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançado na terça (5/3), mostrou que, nos últimos 10 anos, as mulheres, progressivamente, alcançaram salários mais próximos aos dos homens.

O aumento da paridade salarial foi de 6,7 pontos – saindo de 72 em 2013, para 78,7, em 2023 – quanto mais próximo de 100, maior a equidade entre mulheres e homens. Nos cargos de liderança, a participação passou de 35,7%, em 2013, para 39,1%, em 2023.

Um dos motivos da melhora vem de políticas adotadas pelas próprias empresas: 6 em cada 10 afirmam ter programas de promoção de igualdade de gênero.

A principal delas é a política de paridade salarial (que desde julho do ano passado é lei), seguida por políticas que proíbem discriminação em função de gênero, programas de qualificação e de liderança para estimular a ocupação de cargos de chefia, além de licença maternidade ampliada.

O que isso tem a ver com transição energética?

O mundo tem feito avanços em reconhecer que é preciso fazer a transição para longe de combustíveis fósseis e direcionar mais capital para energias renováveis. E, segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês), uma força de trabalho bem qualificada é peça fundamental para uma transição energética bem-sucedida.

O que inclui uma ampla gama de perfis ocupacionais.

Mas, por enquanto, o setor de energia é dominado por homens e as mulheres que estão nele ganham salários mais baixos.

“Para atrair talentos para o setor, é crucial que os empregos sejam dignos e que mulheres, jovens e minorias tenham acesso igualitário ao treinamento profissional, redes de contratação e oportunidades de carreira”, diz a agência em relatório de 2023 sobre o alinhamento da transição global com 1,5°C.

A Irena observa que a transformação da matriz global requer intervenções políticas que vão além da mudança dos combustíveis fósseis para energias renováveis. É preciso construir coerência entre política energética e social a longo prazo, mirando o “bem-estar global geral”.

“[A transição justa] deve colocar as pessoas no centro e abraçar a diversidade e inclusão em vários grupos demográficos (por exemplo, mulheres, jovens, trabalhadores mais velhos, pessoas com deficiência, trabalhadores migrantes, povos indígenas, desempregados, trabalhadores vulneráveis)”, completa o relatório.

O caminho é longo: a diferença de participação de homens e mulheres no setor de energia (incluindo fóssil) é mais de duas vezes maior do que no restante da economia.

Além disso, mulheres recebem remunerações quase 20% mais baixas do que os homens exercendo o mesmo cargo.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Pressão financeira

O fundo soberano de US$ 1,6 trilhão da Noruega, o maior do mundo, pedirá às empresas de mercados emergentes nas quais investe que nomeiem mais mulheres para seus conselhos. Um dos maiores investidores do mundo, o fundo detém participações em cerca de 8,8 mil empresas a nível mundial, detendo cerca de 1,5% de todas as ações cotadas.

R$ 100 bi em elétricos e híbridos

A Stellantis anunciou nesta quarta-feira (6/3) que irá investir R$ 30 bilhões no Brasil até 2030. Com isso, chega a 11 o número de montadoras que divulgaram planos de investimento após o anúncio do do programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). Veja a lista

Mercado livre de energia

Com meta de captar 15% dos novos clientes no mercado livre de energia, a Delta vê com bons olhos a sinalização do governo de uma abertura geral do ambiente de contratação em que o consumidor negocia diretamente a aquisição de eletricidade, mas defende um cronograma mais acelerado: até 2026. Leia na entrevista com o VP da Delta, Luiz Fernando Vianna