NESTA EDIÇÃO. Automação e eficiência energética em edifícios são estratégicas para redução do consumo, mostra pesquisa.
No Brasil, o potencial de economia elétrica equivale a uma Itaipu e duas linhas de transmissão.
O Brasil tem o potencial de economizar, por ano, uma Itaipu e 12 mil quilômetros de linhas de transmissão com a automação para eficiência energética de edifícios, estima um estudo publicado esta semana pela GHM Solutions em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da USP.
Segundo o estudo, medidas simples, como a integração de sensores e a adoção de sistemas de gestão predial poderiam reduzir o consumo entre 20% e 40%, levando a uma economia anual de 14% na demanda total de eletricidade no país.
Juliana Ulian, CEO da GHM Solutions e coordenadora do estudo, conta que há cerca de 5,9 milhões de edifícios — em um universo de quase 107 milhões no Brasil — com características de consumo que justificam o investimento em tecnologias de eficiência energética.
“Considerando que uma grande edificação comercial ou de serviços tem uma média de 50 anos de vida útil e, dos custos totais, 85%, é manutenção e operação, sendo que boa parcela disso é de consumo elétrico, se a gente motiva todo esse setor, a gente consegue fazer coisas melhores, com impacto maior e um retorno mais rápido”, comenta em entrevista à eixos.
“E isso, obviamente, é positivo para esse contexto da transição energética”, pontua Ulian.
O custo dessa transição pode chegar a US$ 424 bilhões, mas os pesquisadores apontam que o retorno financeiro, especialmente entre os grandes consumidores, ocorre em até cinco anos.
O estudo calcula, por exemplo, que apenas na construção de capacidade de geração, seria possível evitar despesas de US$ 40 bilhões a US$ 60 bilhões, já que a economia anual de consumo chegaria a 87 TWh/ano — o equivalente a mais de 35 milhões de residências.
Automação para a eficiência
Ulian observa que, embora o Brasil já tenha políticas e certificações que olham para a eficiência e sustentabilidade, a automação ainda não está tão integrada a essas iniciativas.
“A automação acaba não sendo um item obrigatório. Esse é um ponto importante. Não que haja uma obrigatoriedade. Mas que haja uma consciência do impacto positivo que a automação gera”, comenta a pesquisadora.
“A automação não é um custo. É um investimento que se paga muito rápido. Num nível básico de edificação, é um payback de 1 a 3 anos, por exemplo”, completa.
Para Ulian, uma das formas de avançar com a implementação dessas tecnologias passa pela inclusão da inovação dentro dos selos verdes de edificação.
Outra, é o financiamento.
“Na chamada pública Energia Zero, por exemplo, um desejo que nós temos é que futuramente existam algumas premissas para que nos projetos submetidos possam ser considerados IoT, inteligência artificial, softwares de diagnóstico e gestão energética como critério elegível para custeio a partir dos recursos a fundo perdido do governo federal”, defende.
Uma iniciativa do governo federal, a chamada do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) investe milhões na modernização de edificações públicas por meio de reformas e instalação de geração distribuída com fontes renováveis.
A prioridade será para prédios administrativos, educacionais e de saúde nos níveis federal, estadual e municipal, com conceito “Energia Zero”.
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