Diálogos da Transição

Comércio de commodities vedes deve superar o de hidrogênio puro

Em 2022, importação de hidrogênio puro movimentou cerca de US$ 300 milhões, ante US$ 17,5 bi da amônia e US$ 14,1 bi do metanol

Porto do Pecém, em Caucaia (CE), durante cerimônia de sanção do marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Porto do Pecém, em Caucaia (CE), durante cerimônia de sanção do marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

NESTA EDIÇÃO. Relatório da Irena aponta que, para descarbonizar a economia global e limitar o aquecimento a 1,5°C, a economia do hidrogênio verde precisa dar um salto, com a capacidade de eletrólise alcançando 428 GW até 2030 e 5.722 GW até 2050.
 
Parte dessa energia deve ser direcionada para commodities verdes, substituindo combustíveis fósseis na produção de fertilizantes, refino de petróleo e de ferro, entre outros processos industriais.
 
No Brasil, é uma oportunidade para a siderurgia verde.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Em junho deste ano, as sete maiores economias do mundo se comprometeram a consumir menos petróleo para acelerar sua transição para longe dos combustíveis fósseis. Cumprir com esse acordo demandará uma profunda transformação nos países industrializados do G7, onde o hidrogênio renovável terá um importante papel.
 
Publicado este mês, um estudo da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena) aponta que, em um cenário de alinhamento com 1,5 °C do Acordo de Paris, o comércio de commodities derivadas de hidrogênio verde se tornará mais importante do que o de hidrogênio puro em si.
 
O modelo de otimização tecnológica e econômica da agência estima que cerca de 25% da demanda global de hidrogênio – equivalente a 18,4 exajoules (EJ)/ano – será comercializada internacionalmente até 2050. 
 
Desse total, cerca de 55% deverá ser transportado como hidrogênio puro por meio de gasodutos reformados, com foco em dois mercados regionais: Europa (responsável por 85% dessa participação) e América Latina. 
 
Os 45% restantes deverão ser enviados, principalmente, na forma de amônia, e usados ​​diretamente sem serem convertidos novamente em hidrogênio.
 
“Transportar produtos verdes entre continentes provavelmente será mais barato do que transportar hidrogênio verde em qualquer forma. As indústrias intensivas em energia têm a oportunidade de estabelecer novas instalações em países com excedentes renováveis ​​de baixo custo, exportando produtos semiacabados (por exemplo, ferro reduzido) ou produtos acabados (por exemplo, carros)”, diz o documento.
 
A Irena observa que três mercados – Europa, Japão e Coreia do Sul – estão se posicionando para se tornarem grandes importadores de hidrogênio e que a distribuição desigual de compradores e fornecedores pode resultar em relações comerciais injustas. 
 
Por isso a importância de garantir agregação de valor local, na industrialização de países que contam com recursos como água e energias renováveis baratas, para que o hidrogênio atravesse o oceano na forma de produtos de baixo carbono.
 
Hoje, o comércio de hidrogênio (incluindo todos os métodos de produção) já é significativamente menor do que o comércio de amônia e metanol.
 
Em 2022, a importação de hidrogênio puro movimentou cerca de US$ 300 milhões, ante US$ 17,5 bilhões da amônia e US$ 14,1 bilhões do metanol.



Hoje, a produção global de hidrogênio, que chegou a cerca de 95 milhões de toneladas (Mt) em 2022, é derivada principalmente de gás natural e carvão. Em um mundo com emissões líquidas zero, o hidrogênio renovável substitui o cinza, além de ser usado ​​em novas aplicações, como e-combustíveis.
 
Neste cenário, até 2050, a produção total de hidrogênio deve aumentar em mais de cinco vezes para atender a 14% da demanda final de energia. O que significa uma capacidade cumulativa de eletrólise de cerca de 428 gigawatts (GW) até 2030 e 5.722 GW até 2050.
 
“A indústria tende a seguir fontes de energia”, destaca a Irena. 
 
E dá o exemplo da indústria siderúrgica que, durante séculos, se instalou em locais com acesso a carvão e minério de ferro, pois descobriu-se que era mais eficiente produzir briquetes de ferro ou aço nesses locais, ao invés de transportar carvão. 
 
Nesta lógica, o Brasil teria um enorme potencial para atrair a siderurgia verde, pois tem minério de ferro e recursos naturais para oferecer hidrogênio verde para alimentar os fornos.

“Essa transformação pode contribuir para o desenvolvimento de indústrias locais, como fertilizantes ou produção de aço verde, gerando uso local e maiores receitas por meio de exportações. A expansão das cadeias de valor locais também pode criar mais oportunidades de emprego de longo prazo na comunidade”, completa.
 
Três elementos podem impulsionar esse fenômeno: a disposição dos hubs industriais de realocar ou abrir novas instalações; o custo do transporte de energia; e a diferença no custo da energia renovável, lista o relatório.
 
No caso do aço, a estimativa é que a demanda global aumente de cerca de 2.000 milhões de toneladas por ano (Mtpa) hoje para 2.500 Mtpa até 2050 – o que torna crucial para essa indústria considerar a disponibilidade de recursos renováveis ​​e de minério de ferro de alta qualidade competitivos.


Biometano na regulação estadual.  A aprovação do Combustível do Futuro na Câmara dos Deputados instituiu um programa de descarbonização que, na prática, cria um mandato para a nascente indústria do biometano. Em paralelo à regulamentação do programa federal, daqui em diante, há também uma agenda regulatória em curso nos estados.
 
São iniciativas pulverizadas, independentes da nova política nacional, mas que, a depender dos caminhos tomados, poderão ajudar – ou dificultar – a implementação das metas do Combustível do Futuro. Leia na gas week
 
Pacto pela equidade de gênero. Dezoito iniciativas dos setores de energia e mineração vão assinar, no dia 23 de setembro, o Pacto pela Equidade de Gênero na Energia. Encabeçado pelo grupo Sim, Elas Existem, que promove diversidade e inclusão nas áreas, o documento visa somar esforços na pauta de liderança feminina na indústria.
 
PCHs. A Aneel publicou, na sexta (13/7), os despachos que permitem o avanço no licenciamento ambiental de 19 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). A agência reconheceu a adequação dos projetos aos estudos de inventário com o uso do potencial hidráulico. 
 
Agenda de leilões. A Aneel terá um intenso calendário de leilões nos próximos meses, com certames para compra de energia nova e existente, baterias, sistemas isolados e linhas de transmissão. O Ministério de Minas e Energia (MME) deve abrir nos próximos dias uma consulta pública para o primeiro leilão de baterias do país, previsto para 2025. Confira o calendário previsto
 
Clima extremo 1. O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou no domingo (15/9), que o governo federal emita créditos extraordinários fora da meta fiscal até o fim do ano, exclusivamente para o combate às queimadas que afetam o país. O magistrado determinou ainda a flexibilização da regra para a manutenção e contratação de brigadistas. (Correio Braziliense)
 
Clima extremo 2. A baixa no nível dos rios da Amazônia  aumenta o preço do transporte do diesel usado nas usinas termelétricas. A crise coloca em alerta o fornecimento em locais desconectados da rede elétrica nacional. (Reset)
 
Crédito para reflorestamento. Na sexta, o BNDES lançou o programa Florestas Crédito, com R$ 1 bilhão destinado a incentivar investimentos privados no setor florestal, especialmente na restauração de espécies nativas e em práticas de manejo florestal. O objetivo é promover a recuperação de áreas degradadas, atender ao Código Florestal e fortalecer a bioeconomia.