NESTA EDIÇÃO. Relatório da Irena aponta que, para descarbonizar a economia global e limitar o aquecimento a 1,5°C, a economia do hidrogênio verde precisa dar um salto, com a capacidade de eletrólise alcançando 428 GW até 2030 e 5.722 GW até 2050.
Parte dessa energia deve ser direcionada para commodities verdes, substituindo combustíveis fósseis na produção de fertilizantes, refino de petróleo e de ferro, entre outros processos industriais.
No Brasil, é uma oportunidade para a siderurgia verde.
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Em junho deste ano, as sete maiores economias do mundo se comprometeram a consumir menos petróleo para acelerar sua transição para longe dos combustíveis fósseis. Cumprir com esse acordo demandará uma profunda transformação nos países industrializados do G7, onde o hidrogênio renovável terá um importante papel.
Publicado este mês, um estudo da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena) aponta que, em um cenário de alinhamento com 1,5 °C do Acordo de Paris, o comércio de commodities derivadas de hidrogênio verde se tornará mais importante do que o de hidrogênio puro em si.
O modelo de otimização tecnológica e econômica da agência estima que cerca de 25% da demanda global de hidrogênio – equivalente a 18,4 exajoules (EJ)/ano – será comercializada internacionalmente até 2050.
Desse total, cerca de 55% deverá ser transportado como hidrogênio puro por meio de gasodutos reformados, com foco em dois mercados regionais: Europa (responsável por 85% dessa participação) e América Latina.
Os 45% restantes deverão ser enviados, principalmente, na forma de amônia, e usados diretamente sem serem convertidos novamente em hidrogênio.
“Transportar produtos verdes entre continentes provavelmente será mais barato do que transportar hidrogênio verde em qualquer forma. As indústrias intensivas em energia têm a oportunidade de estabelecer novas instalações em países com excedentes renováveis de baixo custo, exportando produtos semiacabados (por exemplo, ferro reduzido) ou produtos acabados (por exemplo, carros)”, diz o documento.
A Irena observa que três mercados – Europa, Japão e Coreia do Sul – estão se posicionando para se tornarem grandes importadores de hidrogênio e que a distribuição desigual de compradores e fornecedores pode resultar em relações comerciais injustas.
Por isso a importância de garantir agregação de valor local, na industrialização de países que contam com recursos como água e energias renováveis baratas, para que o hidrogênio atravesse o oceano na forma de produtos de baixo carbono.
Hoje, o comércio de hidrogênio (incluindo todos os métodos de produção) já é significativamente menor do que o comércio de amônia e metanol.
Em 2022, a importação de hidrogênio puro movimentou cerca de US$ 300 milhões, ante US$ 17,5 bilhões da amônia e US$ 14,1 bilhões do metanol.
Indústria segue a energia
Hoje, a produção global de hidrogênio, que chegou a cerca de 95 milhões de toneladas (Mt) em 2022, é derivada principalmente de gás natural e carvão. Em um mundo com emissões líquidas zero, o hidrogênio renovável substitui o cinza, além de ser usado em novas aplicações, como e-combustíveis.
Neste cenário, até 2050, a produção total de hidrogênio deve aumentar em mais de cinco vezes para atender a 14% da demanda final de energia. O que significa uma capacidade cumulativa de eletrólise de cerca de 428 gigawatts (GW) até 2030 e 5.722 GW até 2050.
“A indústria tende a seguir fontes de energia”, destaca a Irena.
E dá o exemplo da indústria siderúrgica que, durante séculos, se instalou em locais com acesso a carvão e minério de ferro, pois descobriu-se que era mais eficiente produzir briquetes de ferro ou aço nesses locais, ao invés de transportar carvão.
Nesta lógica, o Brasil teria um enorme potencial para atrair a siderurgia verde, pois tem minério de ferro e recursos naturais para oferecer hidrogênio verde para alimentar os fornos.
“Essa transformação pode contribuir para o desenvolvimento de indústrias locais, como fertilizantes ou produção de aço verde, gerando uso local e maiores receitas por meio de exportações. A expansão das cadeias de valor locais também pode criar mais oportunidades de emprego de longo prazo na comunidade”, completa.
Três elementos podem impulsionar esse fenômeno: a disposição dos hubs industriais de realocar ou abrir novas instalações; o custo do transporte de energia; e a diferença no custo da energia renovável, lista o relatório.
No caso do aço, a estimativa é que a demanda global aumente de cerca de 2.000 milhões de toneladas por ano (Mtpa) hoje para 2.500 Mtpa até 2050 – o que torna crucial para essa indústria considerar a disponibilidade de recursos renováveis e de minério de ferro de alta qualidade competitivos.
Cobrimos por aqui
- Petrobras avalia fornecimento de hidrogênio para siderúrgicas
- Piauí mira exportação de amônia verde
- RN enxerga grande demanda para hidrogênio verde na indústria do cimento
- Brasil oferta, mas não precifica minerais verdes, mostra estudo
Curtas
Biometano na regulação estadual. A aprovação do Combustível do Futuro na Câmara dos Deputados instituiu um programa de descarbonização que, na prática, cria um mandato para a nascente indústria do biometano. Em paralelo à regulamentação do programa federal, daqui em diante, há também uma agenda regulatória em curso nos estados.
São iniciativas pulverizadas, independentes da nova política nacional, mas que, a depender dos caminhos tomados, poderão ajudar – ou dificultar – a implementação das metas do Combustível do Futuro. Leia na gas week
Pacto pela equidade de gênero. Dezoito iniciativas dos setores de energia e mineração vão assinar, no dia 23 de setembro, o Pacto pela Equidade de Gênero na Energia. Encabeçado pelo grupo Sim, Elas Existem, que promove diversidade e inclusão nas áreas, o documento visa somar esforços na pauta de liderança feminina na indústria.
PCHs. A Aneel publicou, na sexta (13/7), os despachos que permitem o avanço no licenciamento ambiental de 19 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). A agência reconheceu a adequação dos projetos aos estudos de inventário com o uso do potencial hidráulico.
Agenda de leilões. A Aneel terá um intenso calendário de leilões nos próximos meses, com certames para compra de energia nova e existente, baterias, sistemas isolados e linhas de transmissão. O Ministério de Minas e Energia (MME) deve abrir nos próximos dias uma consulta pública para o primeiro leilão de baterias do país, previsto para 2025. Confira o calendário previsto
Clima extremo 1. O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou no domingo (15/9), que o governo federal emita créditos extraordinários fora da meta fiscal até o fim do ano, exclusivamente para o combate às queimadas que afetam o país. O magistrado determinou ainda a flexibilização da regra para a manutenção e contratação de brigadistas. (Correio Braziliense)
Clima extremo 2. A baixa no nível dos rios da Amazônia aumenta o preço do transporte do diesel usado nas usinas termelétricas. A crise coloca em alerta o fornecimento em locais desconectados da rede elétrica nacional. (Reset)
Crédito para reflorestamento. Na sexta, o BNDES lançou o programa Florestas Crédito, com R$ 1 bilhão destinado a incentivar investimentos privados no setor florestal, especialmente na restauração de espécies nativas e em práticas de manejo florestal. O objetivo é promover a recuperação de áreas degradadas, atender ao Código Florestal e fortalecer a bioeconomia.