Diálogos da Transição

Longe de meta do clima, aviação internacional precisa de muito SAF e menos passageiros

Organização recomenda que países do Norte Global comecem a incluir emissões da aviação internacional em suas NDCs

Exposição de veículos e aeronaves com tecnologias de baizo carbono durante sanção do Combustível do Futuro, na Base Aérea de Brasília (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Exposição de veículos e aeronaves com tecnologias de baizo carbono durante sanção do Combustível do Futuro, na Base Aérea de Brasília | Foto: Ricardo Stuckert/PR

NESTA EDIÇÃO. Alinhamento da indústria de aviação com o limite de 1,5°C vai além dos combustíveis sustentáveis, aponta mapeamento do Climate Action Tracker.
 
Cientistas calculam que, sem reduzir a demanda, a meta estará fora de alcance.
 
E recomendam que países do Norte Global comecem a incluir emissões da aviação internacional em suas NDCs.
 
Mais: Anfitrião da COP29, o Azerbaijão é classificado como “criticamente insuficiente” em sua ação climática.


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Responsável por 1,2% das emissões globais de carbono, a aviação internacional tem dois grandes desafios no horizonte se quiser se alinhar à meta de 1,5°C: chegar a 2050 totalmente abastecida por SAF e reduzir a demanda, conclui uma análise do Climate Action Tracker (CAT).
 
Antes da pandemia da Covid-19, o setor emitia cerca de 600 MtCO2 por ano. Após uma queda nas emissões nos anos seguintes, é esperada a recuperação dos níveis de 2019 em 2024, inclusive com a possibilidade de ultrapassar. 
 
Sem mudanças significativas nas operações, essas emissões podem triplicar entre 2019 e 2050 e atingir 1.300-1.800 MtCO2 até meados do século.
 
Boa parte dessas emissões está associada ao uso de combustíveis derivados do petróleo. 
 
Por isso, uma das recomendações do CAT aos governos é adotar políticas que incentivem a utilização de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) em percentuais de 10-15% em 2030 e 100% em 2050.
 
Além de investir em pesquisa e desenvolvimento de outras opções de descarbonização, como baterias elétricas para pequenas aeronaves.
 
Isso combinado com medidas operacionais, como otimização de rotas, gestão do fluxo de tráfego aéreo, minimização de distâncias de voo e melhoria na eficiência energética das aeronaves.
 
São medidas já em andamento em alguns países e, em muitos casos, por iniciativa das próprias companhias aéreas. O Brasil, por exemplo, definiu metas de descarbonização da aviação doméstica com uso de SAF
 
Mas o pulo do gato estaria na redução da demanda pela aviação internacional, uma estratégia um tanto controversa, já que o setor quer continuar crescendo.
 
“Enquanto governos e indústria se concentram nas quatro primeiras medidas, embora em graus variados, a redução da demanda recebe muito pouca atenção. No entanto, é improvável que o setor de aviação possa se mover em direção a uma trajetória compatível com 1,5ºC sem reduzir a demanda”, diz o estudo.



Apesar de concordar com o crescimento neutro em carbono a partir de 2020 e uma “meta aspiracional de longo prazo de emissões líquidas de carbono zero até 2050”, a aviação civil internacional está longe de uma trajetória alinhada com 1,5ºC, diz o CAT. 
 
O grupo de cientistas rastreou o avanço de políticas nacionais e acordos assumidos na Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, em inglês) e concluiu que os governos não estão tomando as medidas adequadas para reduzir as emissões. O setor é classificado como “criticamente insuficiente“.
 
Um dos problemas está nas abordagens da Icao. Segundo a análise, como o Corsia se baseia na compensação das emissões de CO2 ao invés de reduções reais, e a meta de emissões líquidas zero não deixa claro o “como”, a porta ficaria aberta para “compensações controversas fora do setor”.
 
Outro problema com o Corsia é que os impactos climáticos não relacionados ao CO2 não são abordados.
 
“As emissões de dióxido de carbono do setor de aviação respondem por apenas um terço do impacto climático geral da aviação. Os gases de efeito estufa indiretos — notadamente o óxido nitroso (NOx) e o impacto climático da formação de rastros e cirros de rastros — têm um efeito de aquecimento combinado maior do que o efeito de aquecimento direto do CO2”, explica.
 
Uma das recomendações é que os países, em particular aqueles no Norte Global, comecem a incluir emissões da aviação internacional em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e metas de net-zero.

O CAT também atualizou suas análises sobre as políticas climáticas de seis países.
 
Anfitrião da COP29, o Azerbaijão é classificado como “criticamente insuficiente” em sua ação climática. A NDC do país levaria o planeta a um aquecimento acima de 4°C.
 
Com um terço da sua economia atrelada às atividades de petróleo e gás, o Azerbaijão se comprometeu com um plano de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 40% até 2050, e em aumentar a capacidade de energia renovável para 30% até 2030.
 
Enquanto isso, a China pode chegar ao pico de emissões antes de 2025 e a Índia observa um rápido aumento na demanda de energia, tanto pelo crescimento do PIB (essencial para uma economia em desenvolvimento) quanto pela demanda por resfriamento em meio a ondas de calor. Mesmo caso de Singapura, onde as emissões tendem a continuar aumentando.
 
Há alguns meses, a Indonésia publicou o rascunho da nova NDC que pretende formalizar ainda em 2024, mas a análise do think tank aponta que apesar de um ligeiro aumento na ambição, ainda há um longo caminho para alinhar as metas com 1,5°C.
 
O Chile, por outro lado, é um dos poucos que está quase lá, graças à rápida taxa de expansão de energias renováveis ​​e ao plano de eliminação gradual do carvão, que está avançando mais rápido do que o previsto.


CBIOs para plantadores de cana. Relator do PL 3149/2020 na Comissão de Minas e Energia da Câmara, o deputado Benes Leocádio (UNIÃO/RN) apresentou, nesta terça (29/10), um parecer preliminar sobre a divisão dos créditos de descarbonização do RenovaBio, entre produtores de etanol e fornecedores de matéria-prima. Produtores poderão ter participação de 60% a 85% em receitas.
 
Fósseis versus renováveis. A sétima edição do monitoramento feito pelo Inesc sobre os subsídios do governo brasileiro às fontes de energia mostra que para cada R$ 1 investido em fontes renováveis, outros R$ 4,52 são destinados a subsidiar combustíveis fósseis. 
 
Em 2023, a soma dos incentivos alcançou R$ 99,81 bilhões – uma alta de 3,57% em relação ao ano anterior. Essa elevação foi impulsionada principalmente pelo aumento de R$ 3,82 bilhões (26,82%) nos subsídios às fontes renováveis. No entanto, os combustíveis fósseis ainda detêm a maior fatia dos benefícios – R$ 81,74 bilhões
 
R$ 37 bi para biometano. O BNDES aprovou financiamento de R$ 37,6 milhões para a Geo bio gas&carbon ampliar a produção de biometano e biogás na unidade de Tamboara, no Paraná. Serão R$ 33,6 milhões do Fundo Clima e R$ 3,9 milhões do Finem Padrão B (destinado à aquisição de máquinas e equipamentos). O objetivo é ampliar a capacidade de produção de biometano de 70 Nm³/h para até 1.500 Nm³/h.
 
Reciclagem de navios. A Marinha do Brasil encaminhou ao Ministério das Relações Exteriores a proposta de adesão do país à Convenção Internacional de Hong Kong para a Reciclagem Segura e Ambientalmente Adequada de Navios, da Organização Marítima Internacional (IMO, da sigla em inglês).
 
As normas devem entrar em vigor em junho de 2025, com medidas para prevenir e minimizar os riscos ambientais, de saúde ocupacional e de segurança, relacionados à reciclagem de navios.
 
Hub de hidrogênio no Marrocos. O governo do Reino do Marrocos firmou um pré-contrato de reserva de terras com o consórcio liderado pela TE H2 (joint venture entre a TotalEnergies e o grupo Eren) e as empresas dinamarquesas Copenhagen Infrastructure Partners (CIP) e A.P. Møller Capital, para o desenvolvimento do projeto Chbika. Intenção é produzir hidrogênio e amônia verdes para o mercado europeu.
 
Planaveg 2025-2028. O governo brasileiro lançou oficialmente, na segunda (28), o Plano Nacional Brasileiro para a Recuperação da Vegetação Nativa. Funcionará como um guia para os planos do governo de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. São três eixos principais: impulsionar o reflorestamento de passivos ambientais em terras privadas, recuperar áreas degradadas em territórios indígenas e unidades de conservação federais, e proteger áreas onde a restauração ocorre naturalmente. (Valor)
 
G9 indígena. Organizações indígenas dos nove países amazônicos lançaram, em Cali, na Colômbia, durante a COP16, uma aliança inédita em defesa da Amazônia, dos povos tradicionais, da biodiversidade e do clima global. O chamado “G9 da Amazônia Indígena” funcionará como uma coalizão para coordenar ações e fortalecer demandas comuns aos povos indígenas de todos os países em que a maior floresta tropical do mundo se encontra. (CicloVivo)
 
Fundo de florestas. Alemanha, Colômbia, Emirados Árabes Unidos, Malásia e Noruega confirmaram na segunda (28) apoio ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), proposta apresentada pelo Brasil em 2023 para remunerar países em desenvolvimento que conservam suas florestas tropicais. O compromisso foi assumido durante painel com a ministra Marina Silva na COP16 da Biodiversidade.
 
R$ 3 milhões para projetos sociais. O Instituto Equatorial está com inscrições abertas para o Edital Diálogos Equatorial, voltado para Organizações da Sociedade Civil (OSCs) de base comunitária. Podem participar OSCs do PI, MA, AL, AP, PA, GO e RS, com projetos nas áreas de educação, empregabilidade e geração de renda, empreendedorismo e sustentabilidade e biodiversidade. Cada projeto aprovado poderá receber até R$ 20 mil para execução. O prazo para envio das propostas e documentação vai até o dia 14 de novembro.