Diálogos da Transição

China lidera decisões de investimentos em hidrogênio de eletrólise

País também concentra 60% da capacidade global de fabricação de eletrolisadores

Sinopec inaugura maior projeto de hidrogênio verde do mundo na China. Na imagem: Tanques de armazenamento de hidrogênio, esféricos, do projeto Green Hydrogen Pilot Project, da Sinopec na China, a maior planta de H2V do mundo (Foto: Divulgação)
Green Hydrogen Pilot Project, da Sinopec na China, o maior projeto de H2V do mundo (Foto: Divulgação)

NESTA EDIÇÃO. Líder em fabricação de painéis solares e baterias, a China dispara também na indústria de eletrolisadores para produção de hidrogênio verde.

Nos últimos 12 meses, 40% da capacidade de produção de hidrogênio verde anunciada no mundo foi no país asiático.

Movimento preocupa a Europa, que criou regras em seu leilão de hidrogênio para limitar a entrada de tecnologia chinesa.


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Nos últimos 12 meses, 6,5 gigawatts (GW) de capacidade de eletrólise para hidrogênio alcançaram decisão final de investimento (FID), sendo 40% na China, mostra relatório publicado hoje (2/10) pela Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).

A FID é um marco importante de um empreendimento de energia. Representa o momento em que o investidor compromete recursos financeiros significativos para prosseguir com a execução do projeto. Segundo a IEA, o mundo tem agora 20 GW de capacidade com a decisão final.

Outras regiões também estão intensificando os esforços: na Europa, os FIDs para projetos de eletrólise quadruplicaram no último ano, atingindo mais de 2 GW, enquanto a Índia emergiu entre os líderes graças a um único FID para 1,3 GW.

Mas a liderança da China não é ao acaso. O país asiático abriga 60% da capacidade global de fabricação de eletrolisadores

A expectativa, aponta o relatório, é que a expansão do parque fabril chinês reduza os custos dos eletrolisadores, como ocorreu com a energia solar fotovoltaica e a fabricação de baterias no passado. 

Grandes fabricantes chineses de painéis solares entraram no negócio de eletrolisadores e hoje respondem por cerca de um terço da capacidade de fabricação da tecnologia usada para obtenção de hidrogênio verde.



O avanço chinês sobre o mercado de eletrolisadores começa a preocupar países europeus, também interessados em ocupar esse espaço e fornecer a tecnologia para a nascente indústria de hidrogênio obtido a partir de renováveis. É uma disputa comercial.

Na última sexta (27/9), a Comissão Europeia anunciou as regras do segundo leilão para subsidiar projetos de hidrogênio renovável dentro do bloco com uma novidade: a aquisição de eletrolisadores da China está limitada ao máximo de 25% da capacidade total instalada dos projetos que concorrem ao incentivo.

O novo leilão terá início no dia 3 de dezembro deste ano e vai disponibilizar até € 1,2 bilhão, por meio do Banco Europeu de Hidrogênio (EHB), em apoio a produtores de hidrogênio renovável na Área Econômica Europeia (EEA). 

Dessa forma, a Comissão Europeia acredita “contribuir para uma cadeia de suprimentos diversificada e evitar a construção de dependência em um único país terceiro que pode ameaçar a segurança do fornecimento de eletrolisadores”.

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Globalmente, a demanda por hidrogênio atingiu 97 milhões de toneladas (Mt) em 2023, um aumento de 2,5% em comparação a 2022. A demanda continua concentrada no refino e no setor químico, e é coberta principalmente pelo hidrogênio de origem fóssil.

O energético de baixa emissão segue com participação marginal de menos de 1 Mt, mas é projetado para atingir 49 Mt por ano até 2030, se os projetos anunciados até agora entrarem em operação. 

Esse volume é 30% superior ao estimado pela IEA em 2023. 

A agência explica que o crescimento foi impulsionado principalmente por projetos de eletrólise, que totalizam quase 520 GW. 

A produção anunciada que alcançou a FID dobrou em comparação com o ano passado para atingir 3,4 Mtpa, representando um aumento de cinco vezes na produção atual até 2030, sendo 1,9 Mtpa eletrólise e 1,5 Mtpa combustíveis fósseis com captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS).

No entanto, a maior parte da produção potencial ainda está em planejamento ou em estágios iniciais e materializar isso depende de uma expansão a uma taxa anual composta de mais de 90% de 2024 a 2030 – bem acima do crescimento experimentado pela energia solar fotovoltaica durante suas fases de expansão mais rápidas, destaca o relatório. 

“Vários projetos enfrentaram atrasos e cancelamentos, o que está colocando em risco uma parte significativa do pipeline do projeto. Os principais motivos incluem sinais de demanda pouco claros, obstáculos de financiamento, atrasos em incentivos, incertezas regulatórias, problemas de licenciamento e permissão e desafios operacionais”, alerta.


Brasil tenta destravar agenda de biocombustíveis no G20. A descarbonização do setor de transportes é um dos temas mais difíceis de construir consensos na agenda de transição energética do G20, disse nesta quarta (2/10) o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD).

Silveira chegou a Foz do Iguaçu para as reuniões ministeriais do GT de Transições Energéticas do G20. A conclusão dos trabalhos deve ocorrer na sexta (4) com uma Declaração de Ministros que será encaminhada à Cúpula de Líderes em novembro, marcando o fim da presidência rotativa do Brasil.

Hidrogênio, amônia e data centers vão demandar 37 GW. O Ministério de Minas e Energia (MME) avalia projetos de conexão à rede que podem elevar o consumo de energia em 37,4 gigawatts até 2037. A lista, enviada à Aneel, inclui empreendimentos para produção de amônia e hidrogênio verde, além de data centers.

Hub para aço verde. Vale e Green Energy Park (GEP), empresa europeia que desenvolve uma planta de hidrogênio verde no Piauí, anunciaram nesta terça (1/10) que vão estudar a construção de um mega hub de hot-briquetted iron (HBI ou ferro-esponja) no Brasil, alimentado por hidrogênio renovável. A ideia é exportar para siderúrgicas ao redor do mundo.

Geração distribuída. A Viva Energia, do grupo gaúcho Ludfor, comprou a Alka Energia, braço de geração distribuída da catarinense Agricopel. A Alka tem capacidade instalada de 25 megawatts (MW) e 2 mil unidades consumidoras. A operação envolve 58 usinas solares, hidrelétricas e termelétricas a biogás, que vão passar a integrar o portfólio da Viva Energia.