Diálogos da Transição

Captura de carbono demandará centenas de novos hubs até 2050

Para alcançar net zero 2050, CCUS precisa aumentar 120 vezes em relação aos níveis atuais, aponta análise da McKinsey

Captura de carbono demandará centenas de novos hubs até 2050. Na imagem: Plataforma de petróleo para exploração offshore (Foto: Anita Stachurski/Pixabay)
McKinsey sugere que cerca de 700 clusters poderiam ser estabelecidos globalmente (Foto: Anita Stachurski/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Aposta de países e empresas — especialmente petroleiras — para alcançar as metas de emissões líquidas zero de CO2 até 2050, a captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS, na sigla em inglês) precisa aumentar 120 vezes em relação aos níveis atuais, aponta uma análise da McKinsey.

Isso significa capturar 4,2 bilhões de toneladas do gás de efeito estufa por ano. Em 2021, a tecnologia respondeu pela captura de apenas 44 milhões de toneladas de CO2.

É um desafio e tanto, considerando os altos custos para capturar, transportar e armazenar o gás, a necessidade de desenvolver infraestruturas e regulações, e os riscos de capital associados.

Não à toa, a solução que as companhias encontraram para reduzir riscos e custos é a associação em hubs para compartilhar a infraestrutura.

Atualmente, existem 15 hubs CCUS no mundo, em vários estágios de desenvolvimento. Mas a McKinsey sugere que cerca de 700 clusters poderiam ser estabelecidos globalmente.

“A maioria desses hubs está localizada em ou perto de locais de armazenamento em potencial e locais de recuperação aprimorada de petróleo e gás, com mais de 60% por cento localizados a 50 milhas (80,4 km) de locais de armazenamento em potencial”, dizem os analistas.

Com destaque para o Leste Asiático, cujo alto volume de emissões da região pode ser coberto por sua alta capacidade de armazenamento.

O estudo se concentra nos custos, que variam consideravelmente entre tecnologias e setores.

“Um dos principais fatores aqui é a concentração de CO2 no fluxo de emissões. Fluxos de alta concentração, como os dos processos de etanol e amônia, onde o CO2 é de 50 a 90% das emissões, são os mais baratos de capturar. No entanto, essas fontes representam menos de 5% do volume mundial de emissões”, explicam.

Em contrapartida, a geração de energia, cimento e petroquímica, que representam a maior parte das emissões, os fluxos são mais baixos, 5 e 15%, tornando a captura mais cara.

Para solucionar essa equação, os analistas apontam que se 440 hubs forem desenvolvidos, cerca de 9-10 bilhões de toneladas/ano de emissões poderiam ser reduzidas a um custo inferior a US$ 100 por tonelada de CO2 — mais que o dobro da meta de 4,2 bilhões de toneladas até 2050.

O que fazer com o CO2 capturado?

Parte dos projetos mira o armazenamento permanente. É o caso, por exemplo, do Northern Lights, no Mar do Norte, que vai armazenar o carbono capturado da fábrica de amônia e fertilizantes da Yara na Holanda para armazenamento permanentemente na plataforma continental na costa da Noruega.

Também no Mar do Norte, o consórcio Greensand inaugurou no início de março seu projeto de captura e armazenamento com a primeira injeção de CO2 em um campo de petróleo esgotado em águas dinamarquesas.

Outra possibilidade é a utilização. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), há pelo menos 35 instalações comerciais aplicando CCUS em processos industriais, transformação de combustíveis e geração de energia.

Cerca de 230 milhões de toneladas CO2 são usadas ​​por ano, principalmente na indústria de fertilizantes para fabricação de ureia (~130 Mt) e para recuperação avançada de petróleo (~80 Mt).

E a transição energética está abrindo novos caminhos, com os combustíveis sintéticos baseados em CO2 e o hidrogênio azul.

ExxonMobil está desenvolvendo no Texas, EUA, um empreendimento do tipo, para capturar cerca de 7 milhões de toneladas de CO2 por ano e gerar cerca de 28,3 milhões de metros cúbicos de hidrogênio por dia. Por enquanto, é a maior planta de hidrogênio de baixo carbono do mundo, com início previsto para 2027-2028.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Emissões estáveis

As emissões de gases do efeito estufa vindas da queima de gasolina e etanol nos veículos leves atingiram 66,33 gCO2eq/MJ no quarto trimestre de 2022, praticamente o mesmo volume em relação ao período equivalente em 2021 (66,21 gCO2eq/MJ), mostra o Observatório de Bioeconomia da FGV.

De acordo com a ferramenta do observatório, a participação dos biocombustíveis no total de energia consumida pelos veículos leves totalizou 35,19% no quarto trimestre de 2022, uma retração de 1,1% em comparação com o ano anterior (35,58%).

Em contrapartida, as emissões de GEE evitadas pela presença de bioenergia melhoraram em 7,66% no quarto trimestre de 2022, registrando 9,26 milhões de toneladas de CO2eq, ante as 8,6 milhões de toneladas de CO2eq que deixaram de ser lançadas na atmosfera no quarto trimestre de 2021. O número é equivalente ao plantio de 22,58 mil hectares de árvores nativas.

Foco no bio

A Petrobras confirmou na segunda (17/4) que estuda voltar a investir em petroquímica e ampliar os investimentos em suas refinarias, com foco no biorrefino. A companhia informou que avalia mudar o escopo do Polo Gaslub (ex-Comperj) que poderá receber investimentos numa nova planta dedicada para produção de diesel renovável, com matéria-prima 100% sustentável.

A empresa também estuda uma planta do tipo na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. E mira adequações na Rnest e na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais, para produção de diesel com 5% a 10% de conteúdo renovável a partir do coprocessamento de óleo mineral com óleo vegetal.

Ônibus 100% GNV

Compagas, Urbs (administradora do sistema de transporte de Curitiba) e a prefeitura da capital paranaense, em parceria com a fabricante Scania, iniciaram nesta segunda testes com ônibus 100% a GNV. Objetivo é certificar os indicadores de eficiência — em especial, a redução nas emissões do veículo — durante 30 dias. Veículo já vinha sendo testado na Região Metropolitana de Curitiba.

Elétricos

A Volkswagen está investindo cerca de 1 bilhão de euros em um novo centro de desenvolvimento e aquisição de veículos elétricos em Hefei, na China. A empresa tenta adaptar seus carros aos gostos dos clientes chineses. Reuters

E a japonesa Nissan Motor pretende ter sete modelos de veículos eletrificados até 2026 e 80% de sua linha eletrificada até 2030 na China, disse o diretor de operações Ashwani Gupta nos bastidores do Salão do Automóvel de Xangai nesta terça-feira. Reuters

Luta climática e indígena

Representantes dos povos indígenas disseram nessa segunda (17/4) que a luta contra a crise climática passa pelo reconhecimento dos seus direitos. Na abertura do Fórum de Povos Indígenas da ONU em Nova York, a ministra brasileira dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, pediu que o debate global sobre a crise climática acrescente na agenda “a pauta indígena”, para garantir a demarcação dos territórios indígenas e sua proteção. UOL