diálogos da transição

Burnout climático: o planeta também está exausto

"A Mãe Terra está com febre", alerta o secretário-geral das Nações Unidas

Calor de 35ºC e chuva forte à tarde no centro de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2025 (Foto Paulo Pinto/Agência Brasil)
Calor de 35ºC e chuva forte à tarde no centro de São Paulo, em 18 de fevereiro de 2025 (Foto Paulo Pinto/Agência Brasil)

NESTA EDIÇÃO. No Dia da Terra, ONU e cientistas alertam que mudanças climáticas estão levando o planeta ao esgotamento.

Consequências são diversas: de gatilho para erupção de vulcões a violência doméstica. 


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Assim como o burnout atinge pessoas expostas a pressões constantes, sem tempo para recuperação, a Terra está passando por um sobrecarga impulsionada por emissões em alta de gases de efeito estufa causadas por combustíveis fósseis, desmatamento, consumo desenfreado e poluição.

Os sinais desse esgotamento vão desde ondas de calor intensas e prolongadas até extremos climáticos cada vez mais frequentes como enchentes, secas e furacões, passando por colapsos em ecossistemas e perda de biodiversidade.

“A Mãe Terra está com febre”, alertou nesta terça (22/4) o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em mensagem sobre o Dia da Terra, celebrado desde 1970.

Segundo Guterres, a causa da doença é conhecida — os gases de efeito estufa — e os sintomas estão cada vez mais agudos. Mas a cura estaria ao alcance.

“As energias renováveis são mais baratas, mais saudáveis e mais seguras do que os combustíveis fósseis. E investir na adaptação é essencial para construir economias resilientes e comunidades mais seguras, agora e no futuro”. 

Para o secretário, este ano é decisivo, já que os países signatários do Acordo de Paris devem atualizar, até a COP30, do Brasil, suas contribuições para alinhar o planeta à ambição de limitar o aquecimento a 1,5°C até o fim do século. 

E as principais economias globais devem assumir o protagonismo — apesar de as últimas conferências sobre clima mostrarem o quanto é difícil avançar nesta agenda, quando há vários interesses em jogo. 

“É uma oportunidade vital para aproveitar os benefícios da energia limpa. Apelo a todos os países para que a aproveitem, com o G20 a liderar o caminho”, diz a mensagem de Guterres.

Presidido pela África do Sul este ano, o fórum que reúne 85% do PIB global, realiza na próxima semana a segunda reunião do grupo de trabalho de transições energéticas.

O país tenta garantir um acordo para um processamento mais local dos metais e minerais essenciais para a transição para energia limpa, muitos dos quais extraídos em grandes quantidades no Sul Global. (Climate Home)



Atestado do Pacto Global assinado pelo climatologista e Nobel da Paz Carlos Nobre e pelo professor titular do departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Saldiva, lista oito sintomas (.pdf) de que a Terra está no limite.

O primeiro deles é o estresse causado pelo aumento de emissões e concentração de gases de efeito estufa.

“A alta de emissão de CO2 impulsiona a exposição de milhões de pessoas à insegurança alimentar, diminui a segurança hídrica, submete os seres humanos às condições precárias de sobrevivência e expõe o meio ambiente a ondas de calor extremo que geram danos irreparáveis à biodiversidade”, descreve.

Incêndios florestais (gastrite), alteração na qualidade do sono de pessoas e animais por causa do calor (insônia), irregularidade das chuvas (arritmia), surgimento de doenças transmitidas de animais para pessoas (queda de imunidade), desertificação (alopecia) e redução da capacidade de movimento devido à destruição dos corredores ecológicos (fibromialgia) são outros sintomas.

O oitavo é a pressão alta: a Terra tem sofrido com os efeitos das mudanças climáticas que estão alterando os ciclos naturais de variações do clima, causando pressões em diversos ecossistemas, inclusive, erupções vulcânicas, alertam os cientistas.

Eles citam o exemplo do vulcão Kilauea no Havaí, que entrou em erupção em 2018 devido às chuvas extremas na região.

“As chuvas em grande volume e profundidade podem causar infiltrações nos poros e alterar as tensões nas falhas geológicas, inclinando ou elevando essas falhas. Esse fenômeno serve como um gatilho que pode ocasionar erupções”, explicam.

Em 2024, a temperatura média global da superfície terrestre ficou 1,55°C (com uma margem de incerteza de ± 0,13°C) acima da média de 1850-1900, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Foi o ano mais quente já registrado, consolidando uma década de recordes de temperatura.

O impacto do aquecimento do planeta é tão extenso na economia global que invade a vida doméstica.

Um estudo publicado nesta terça (22/4) pela Iniciativa Spotlight da ONU alerta que, sem uma ação urgente, as mudanças climáticas podem estar associadas a um em cada dez casos de violência doméstica até o final do século.

Condições climáticas extremas, deslocamento, insegurança alimentar e instabilidade econômica são apontados como fatores que aumentam a prevalência e a gravidade da violência de gênero, com efeitos mais severos sobre comunidades frágeis, onde as mulheres já estão mais vulneráveis ​​a agressões.

relatório constata que cada aumento de 1°C na temperatura global está associado a um aumento de 4,7% na violência por parceiro íntimo (VPI). Em um cenário de aquecimento de 2°C, 40 milhões de mulheres e meninas a mais provavelmente sofrerão VPI a cada ano até 2090. Em um cenário de 3,5°C, esse número mais que dobra. 


China, Brasil e as baterias. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), segue na China, em uma série de agendas bilaterais com executivos chineses de empresas nos setores de energia, mineração e mobilidade. A agenda antecede a visita oficial de Lula (PT) à China, prevista para o mês que vem.

No domingo (20/4), Silveira e o vice-presidente da BYD na América Latina, Oscar Su, se reuniram para alinhar investimentos de expansão de carros elétricos e de soluções de baterias para estabilização do Sistema Interligado Nacional (SIN)l.

Por falar em veículos elétricos… a Aramco, empresa integrada de energia e produtos químicos, e a fabricante de veículos elétricos e baterias BYD anunciaram na segunda (21) que vão explorar uma colaboração mais estreita em tecnologias para veículos de energia nova, o que inclui 100% elétricos, híbridos, ou a células a hidrogênio, no conceito chinês.

Transição energética é prioridade para maioria dos empresários brasileiros, segundo pesquisa da consultoria Savanta. De acordo com o levantamento, 89% dos líderes empresariais querem que o país tenha um sistema elétrico majoritariamente baseado em energias renováveis até 2035.

Trump vs renováveis. O Departamento de Energia dos EUA está preparando cortes drásticos que podem interromper quase US$ 10 bilhões em financiamento federal para projetos de energia limpa — e algumas de suas parcerias mais importantes com a ExxonMobil e a Occidental Petroleum estão em jogo.

Proposta elimina financiamento para hidrogênio, captura de carbono e armazenamento energético, com risco de migração de tecnologias para outros países.

Guerra comercial. As tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA estão desafiando um dos maiores sucessos de exportação do país na última década: o comércio de propano com a China. A enxurrada de impostos de importação tornou o propano norte-americano proibitivamente caro para as usinas chinesas que o utilizam como ingrediente para o plástico.

Mais tarifas. O Departamento de Comércio dos Estados Unidos informou na segunda (21/4) que pretende aplicar tarifas de até 3.521% sobre importações de painéis solares vindos de quatro países do Sudeste Asiático: Camboja, Tailândia, Malásia e Vietnã. A medida responde a acusações de que empresas ligadas à China estariam se beneficiando de subsídios ilegais e praticando dumping no mercado norte-americano. (Infomoney)

Explosão em plataforma. Pelo menos um petroleiro permanece em estado grave e mais nove ainda estão internados após explosão na plataforma PCH-1 operada pela Petrobras, no campo de Cherne, na bacia de Campos, ocorrida na segunda-feira (21/4). O acidente provocou 32 internações hospitalares. No momento, 10 trabalhadores permanecem internados, informou o Sindipetro-NF.

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