Diálogos da Transição

Brics marca posição contra barreiras “verdes”

Brics rejeita, em declaração final, mecanismo de ajuste de fronteira de carbono da União Europeia

16ª Cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia (Foto: Sergey Bobylev/Photohost agency brics-russia2024.ru)
16ª Cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia | Foto: Sergey Bobylev/Photohost agency brics-russia2024.ru

NESTA EDIÇÃO. Brics rejeita, em declaração final, mecanismo de ajuste de fronteira de carbono da União Europeia
 
Com quase 35% do PIB global, o bloco de emergentes também pediu o fim de sanções econômicas que afetam direitos humanos, a exemplo do que ocorre com Cuba. Embora não mencione diretamente o país, que acaba de ser aceito como parceiro.
 
E ainda: em Washington, nos EUA, ministros do G20 prometem cooperação para superar barreiras ao financiamento climático.


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A conclusão da cúpula do Brics esta semana (24/10) reforçou a rejeição do bloco às barreiras que vêm sendo impostas pela União Europeia sob o selo “verde” e marcou posição de países com reservas de minerais críticos à transição energética e petróleo em relação aos conflitos armados (condena Israel e ignora Ucrânia) e guerras comerciais.
 
“Rejeitamos medidas protecionistas unilaterais, punitivas e discriminatórias, que não estejam de acordo com o direito internacional, sob o pretexto de preocupações ambientais, como mecanismos unilaterais e discriminatórios de ajuste de carbono nas fronteiras (CBAMs), exigências de devida diligência, impostos e outras medidas”, diz um trecho da declaração conjunta de Kazan, cidade da Rússia onde ocorreu o encontro.
 
O fórum de países emergentes é historicamente contrário ao mecanismo criado pela União Europeia para taxar produtos importados que tenham uma intensidade de carbono superior aos produzidos pelos países europeus.
 
Um dos problemas é que o mecanismo não considera o Escopo 2 (emissões relacionadas ao uso de energia) em seu cálculo, dando uma vantagem aos europeus cuja matriz elétrica é predominantemente fóssil, em relação a mercados como o brasileiro, com maior participação de renováveis.

“Reconfirmamos nosso total apoio ao apelo da COP28 relacionado a evitar medidas comerciais unilaterais baseadas no clima ou no meio ambiente. Também nos opomos a medidas protecionistas unilaterais, que deliberadamente interrompem as cadeias globais de fornecimento e produção e distorcem a concorrência”, continua a declaração.



O bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, respondeu por 34,9% do PIB mundial em 2023, com US$ 65,9 trilhões e superou o G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, embora a União Europeia), que fechou o ano passado com participação de 30,1% do PIB mundial, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
 
As projeções indicam que com a chegada, em janeiro, dos quatro novos integrantes ao Brics (Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Egito), essa participação suba para 35,4% em 2024. E cerca o Mar Cáspio, rico em óleo, gás e minério, além de ser uma ponte da Ásia à Europa.
 
Esse alinhamento político é estratégico para pressionar mudanças e remodelar as negociações internacionais, há décadas direcionadas aos interesses das economias do Hemisfério Norte.
 
Chega em um momento em que a China – líder na fabricação de painéis solares, baterias e eletrolisadores – sofre com barreiras da União Europeia às suas tecnologias.
 
E os países do Sul Global se organizam em torno de uma Plataforma Geológica do BRICS “como o primeiro passo da colaboração prática no campo da geologia e do desenvolvimento racional dos recursos minerais”.
 
“Temos de unir forças para não ficar para trás na transição energética e na revolução digital. Não podemos nos limitar à posição de meros fornecedores de recursos naturais, reproduzindo a lógica extrativista de séculos atrás”, disse o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
 
O bloco, aliás, recebeu como parceira a Bolívia, país que abriga as maiores reservas de lítio do mundo. E Cuba, que sofre com um apagão generalizado de energia elétrica, piorado pelas sanções impostas pelos Estados Unidos que impedem a chegada de óleo, gás e equipamentos para manutenção de termelétricas.
 
A sanção foi alvo de críticas na declaração do Brics: “Reiteramos que as medidas coercitivas unilaterais, inter alia na forma de sanções econômicas unilaterais e sanções secundárias que são contrárias ao direito internacional, têm implicações de longo alcance para os direitos humanos da população dos Estados afetados, inclusive o direito ao desenvolvimento, afetando desproporcionalmente os pobres e as pessoas em situações vulneráveis. Portanto, pedimos sua eliminação”.

*Colaborou Gabriel Chiappini

Ministros da Fazenda e do Meio Ambiente do G20 encerraram, nesta quinta (24/10), o encontro da Força-Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima, em Washington, nos EUA, durante as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial com um comunicado (.pdf) prometendo cooperação para superar barreiras ao financiamento climático.
 
O documento reafirma prioridades da presidência brasileira como inclusão social e combate à fome e à pobreza; transições energéticas justas e reforma das instituições de governança global. Também menciona o reconhecimento do G20 sobre a necessidade de avançar em uma reforma tributária ampla, taxando adequadamente os bilionários.
 
Outra prioridade que avançou foi o tema da reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento. 
 
Durante coletiva no encerramento do encontro, a ministra Marina Silva (Rede) disse que um dos principais resultados da força-tarefa foi a construção do Roteiro para Reforma dos bancos multilaterais, com caminhos para tornar essas instituições mais eficientes no enfrentamento dos desafios globais, mantendo o foco no desenvolvimento de países de baixa e média renda.
 
Foi aprovado ainda o relatório independente da Força-Tarefa Climática, Um Planeta Verde e Justo: A Agenda de 1,5°C para Governar Políticas Industriais e Financeiras Globais no G20, que afirma que o G20 deve agir com urgência para promover a transformação econômica necessária para limitar o aquecimento a 1,5°C. 
 
Na área de energia, o comunicado reforça acordos assumidos na COP28, de Dubai, como triplicar renováveis, acelerar esforços para redução gradual do carvão sem abatimento, fazer transição para longe dos fósseis e eliminar gradualmente os subsídios fósseis ineficientes.
 
Assim como a declaração de ministros de Energia, do início de outubro, a força-tarefa demonstrou apoio a tecnologias de baixo carbono, como remoção (CCS), mas incluiu a economia circular entre as soluções.
 
Além disso, os ministros disseram que irão “responder positivamente” ao compromisso de apresentar NDCs alinhadas com 1,5°C.


Noruega quer CCS na declaração do G20. País nórdico busca assegurar a inclusão da captura e armazenamento de carbono (CCS) nos comunicados finais do G20 como uma das soluções para a descarbonização do planeta. O tema é uma das principais defesas norueguesas nos fóruns internacionais e deve ser levado pelo primeiro-ministro Jonas Gahr Støre, à Cúpula de Líderes.
 
Pico de petróleo na China. A China está a caminho de produzir mais de 10 milhões de veículos elétricos, respondendo por quase 40% das vendas de carros novos em 2024, aponta a Revisão Estatística de Energia Mundial do Energy Institute. No transporte rodoviário, as empresas estão migrando do óleo diesel para motores movidos a gás natural. Movimento leva à previsão de que o país está a caminho do pico de consumo de petróleo.
 
Fogo na Amazônia. A degradação florestal explodiu na Amazônia em setembro e chegou aos 20.238 km², o que equivale a mais de 13 vezes a cidade de São Paulo, de acordo com dados do monitoramento por imagens de satélite do instituto de pesquisa Imazon. Essa foi a maior área atingida nos últimos 15 anos. O Imazon alerta que a destruição ameaça gravemente a biodiversidade amazônica, um dos temas discutidos neste momento na COP16, na Colômbia.
 
Eletrobras de olho em eletrolisadores. Uma das maiores geradoras de energia renovável do Brasil, a companhia quer fornecer mais do que eletricidade para projetos de hidrogênio verde de larga escala. O plano é se consolidar como parceira na operação de eletrolisadores, a partir da expertise acumulada no projeto-piloto de Itumbiara, conta à agência eixos o vice-presidente de inovação da Eletrobras, Juliano Dantas.
 
Gado rastreado. O Brasil tem avançado com os planos de rastrear o rebanho de gado, à medida que o país enfrenta pressão internacional para evitar o desmatamento causado pela produção de commodities. O governo trabalha com o setor privado para lançar uma plataforma de dados que permitirá aos frigoríficos rastrear totalmente seus suprimentos a partir de 2027. (Bloomberg)
 
Vagas em usinas solares. O Grupo Delta Energia, um dos líderes do setor de energia no Brasil, abriu vagas efetivas para usinas solares em São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. As oportunidades são para operador de usina fotovoltaica.

Desafios para o planejamento das linhas de transmissão e grid na era do hidrogênio verde Com o avanço dos projetos de hidrogênio verde via eletrólise, que têm uma demanda energética significativa, novos desafios surgem no planejamento das linhas de transmissão e do grid nacional, analisa o jornalista Gabriel Chiappini
 
Escasso é o tempo A transformação energética e a descarbonização não são problemas das elites, e nem uma questão para ser discutida apenas por especialistas. É uma pauta que envolve a todos, escreve Fernanda Delgado
 
Demanda da indústria naval tem apoio do governo no PLP 68/2024 O setor naval tenta convencer o relator Eduardo Braga (MDB/AM) a acolher emenda que prevê a continuação de estímulos fiscais relacionados à marinha mercante, escreve o jornalista Hanrrikson de Andrade
 
Incêndios no Brasil, reparação de dano ambiental e a confusão entre responsabilidade civil e administrativa É preciso aprimorar novas regras para evitar novas burocracias e procedimentos, que não favorecerão a Administração Pública, tampouco o meio ambiente, escrevem as advogadas Luciana Gil Patricia Mendanha Dias
 
A transição energética e o papel da indústria de petróleo e gás Apesar dos compromissos globais para a redução de GEE e dos incentivos econômicos para a economia de baixo carbono, a indústria de petróleo e gás continuará resistente a essas pressões, por conta da sua rentabilidade e importância política, diz Tércio Pinho Filho
 
Apagões em São Paulo e os desafios da Enel: caducidade da concessão em pauta As medidas anunciadas pela Enel serão suficientes para evitar mais interrupções?, questionam Roberta AronneLuan Soares e Marceli Kobayashi