Segundo Hermann Scheer, em O Imperativo Energético, precisamos dessa mudança – pivotar de uma matriz industrial baseada em hidrocarbonetos, para uma indústria com processos produtivos com baixa emissão de gases de efeito estufa – não apenas por razões ecológicas, mas também pela necessidade clara de garantir a nossa existência econômica.
Dito isso, o marco legal do hidrogênio verde – Lei 14.948/24 e Lei 14.990/24 – abre novas oportunidades para o Brasil se destacar globalmente como líder na transição energética e no enfrentamento às mudanças climáticas.
No entanto, um dos grandes desafios é fazer com que a sociedade, de fato, abrace a causa da necessidade de se reduzir as emissões de gases de efeito estufa e entenda sua importância no dia a dia. E aí a pergunta é: o que a sociedade tem a ver com o hidrogênio verde?
Assim como houve uma conscientização sobre os malefícios do tabaco para a saúde, e dos efeitos ambientais do buraco da camada de ozônio nos anos 80, é importante uma consciência global sobre as emissões dos gases de efeito estufa e os efeitos das mudanças do clima. Além disso, importa mencionar que as leis da natureza sempre deixaram claro que o uso de energias fósseis seria somente um estágio transitório, já que são recursos finitos. Inevitavelmente.
As catástrofes climáticas, cada vez mais frequentes, como as enchentes no Rio Grande do Sul e os incêndios no Pantanal, mostram que o impacto das mudanças do clima já está nas vidas das pessoas de forma muito mais direta do que se imagina.
Tempestades, secas, queimadas, que provocam a interrupção de serviços essenciais, como o fornecimento de energia elétrica, são sentidas nos CPFs e têm consequências reais e prejuízos diários.
Dessa forma, pensando na estabilidade da temperatura da terra e nas metas do acordo de Paris, o hidrogênio verde vem como uma solução viável para mitigar – ainda que uma parte – os impactos das mudanças climáticas.
Essa indústria, finalmente, permite às economias associarem a pauta ambiental à pauta industrial, uma conexão que é crucial para garantir a sustentabilidade, inclusive como negócio.
A descarbonização de processos produtivos – cimento, aço, químicos, alimentos, agricultura, entre outros – através da redução das emissões de gases de efeito estufa contribui para o alcance do objetivo humanitário da manutenção da vida na terra como a conhecemos.
O futuro é verde. Inexoravelmente. Há uma nova ordem econômica mundial na direção do baixo carbono já instalada e todos – sociedade, governos e economias – terão que se adaptar.
O Brasil tem um papel de vanguarda nesse cenário global. Com uma matriz energética já majoritariamente renovável e as condições ideais para a produção de hidrogênio verde. Está posicionado para liderar a exportação dessa tecnologia. Mas para que isso se concretize, é necessário que a sociedade brasileira entenda a relevância dessa pauta e abrace essa causa.
Mais do que nunca, se trata de tornar o debate público. A transformação energética e a descarbonização não são problemas das elites, e nem uma questão para ser discutida apenas por especialistas. Trata-se de uma pauta que envolve a todos. O envolvimento da sociedade é elemento essencial para movimentar os tomadores de decisão que exercerão pressão em direção à políticas públicas benfazejas ao meio ambiente.
Como em outras causas ambientais, a conscientização da população tem o poder de influenciar políticas públicas e promover mudanças estruturais.
Cuidar do meio ambiente, reduzir as emissões de carbono e fomentar uma transição energética sustentável é, em última análise, cuidar do próprio jardim – romanticamente falando – mas também do próprio negócio, e da própria comunidade. Cada ação tomada agora, seja na escola, em casa ou no trabalho, terá um impacto direto nas gerações futuras.
Albert Einstein tem uma frase muito boa que se encaixa na subestimação com que as energias renováveis têm sido tratadas: “Mais do que o passado, interessa-me o futuro, pois é nele que eu pretendo viver.”
Fernanda Delgado é diretora executiva da Associação Brasileira do Hidrogênio Verde (ABIHV)