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Brics foca na indústria, mas não verde

Indústria verde pode ajudar membros do Brics no desenvolvimento de cadeias de valor, mas tema precisa ser prioridade no bloco

Transição energética promete dominar uma parte das discussões na cúpula dos Brics. Na imagem: Bandeiras dos países membros dos Brics tremulando ao vendo; ordem da esquerda para a direita: África do Sul, China, Índia, Rússia e Brasil (Foto: Agência de Notícias da Indústria)
Comércio bilateral dos países do Brics com o Brasil é de US$ 177,8 bilhões (Foto: Agência de Notícias da Indústria)

NESTA EDIÇÃO. Investir na indústria verde pode ajudar a desenvolver cadeias de valor nacionais e garantir a competitividade global, aponta estudo da Zero Carbon Analytics.

Apesar disso, o tema não aparece entre as prioridades da presidência brasileira do Brics em 2025.


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Minerais críticos, baterias, energia eólica, combustíveis sustentáveis para aviação (SAF) e veículos elétricos são estratégicos para o Brics assumir a liderança em uma nova indústria global, com selo verde e cooperação Sul-Sul.
 
Mas é preciso ajustar o foco e tornar a industrialização verde uma prioridade na agenda de trabalho do bloco que reúne 11 países, muitos deles altamente dependentes de combustíveis fósseis.
 
A conclusão é de um estudo lançado esta semana pela rede Zero Carbon Analytics a pedido do Instituto ClimaInfo.
 
Ele chega dias antes da cúpula de líderes do Brics, marcada para 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, com a promessa de dar o tom da agenda do fórum de emergentes para a COP30.
 
E destaca que o investimento em transição energética está aumentando nos cinco países fundadores — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, mas estão concentrados na eletrificação. A indústria fica à margem.
 
Entre os cinco países, a China é responsável pela maior parte dos investimentos em transição energética, com US$ 818,4 bilhões em 2024. Em segundo lugar, está a Índia, que chegou ao pico de US$ 47,1 bilhões no mesmo ano, seguida pelo Brasil, que teve seu recorde em 2023, com US$ 38,8 bilhões
 
A maior parte desse volume foi destinada à venda de veículos elétricos de passageiros (44%), seguida pela distribuição de energia (12%) e transmissão (9%). 
 
Enquanto isso, setores com uso intensivo da indústria recebem apenas uma pequena parcela desses investimentos, como amônia verde (0,1%), aço limpo (1,9%) e bioplásticos (0,6%).



Apesar do enorme potencial, o estudo alerta que a presidência brasileira do Brics tem trabalhado industrialização e transição energética de forma segregada, e defende que esses temas precisam se encontrar para não perder o bonde da indústria verde.
 
“Os [membros do ] Brics têm estruturas institucionais robustas para o desenvolvimento industrial, mas estão perdendo uma oportunidade estratégica de avançar em discussões sobre temas como industrialização sustentável, manufatura de baixo carbono ou padrões ambientais no planejamento industrial”, diz. 
 
“Com a transição para a indústria verde sendo cada vez mais vista como oportunidade de desenvolvimento e garantia de competitividade, incluir essa pauta permitiria aos Brics alinhar-se às tendências globais”, completa.
 
Uma das recomendações é que os países do bloco estreitem relações nessa agenda, inclusive como uma forma de se blindarem das repercussões da política de Donald Trump nos EUA sobre o desenvolvimento de tecnologias de transição energética e industrial.
 
No caso do Brasil, um risco é a tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre aço e alumínio, que deve impactar substancialmente a indústria siderúrgica.
 
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estima, por exemplo, que uma tarifa de 25% poderia levar a uma redução de 11,3% das exportações brasileiras e a uma perda de aproximadamente US$ 1,5 bilhão.
 
Já a China, que enfrenta tarifas sobre produtos como painéis solares, componentes elétricos e armazenamento de baterias, verá o custo das exportações aumentar significativamente — um motivo a mais para buscar mercados alternativos e fortalecer parcerias com outros países dos Brics para avançar na indústria verde. 
 
“Investindo conjuntamente na indústria verde, os Brics podem construir cadeias de valor integradas que apoiem seus objetivos de reindustrialização enquanto promovem uma economia de baixo carbono”, conclui.


Do Brics para a COP30. A reunião de cúpula do Brics deve antecipar debates da COP30, em novembro, já que o Brasil espera que o grupo de 11 países do Sul Global se mobilize em favor de uma nova liderança climática, baseada na solidariedade entre os povos, para gerar respostas eficazes e equitativas às mudanças climáticas. Uma dessas pautas é o financiamento climático.
 
Potência ambiental. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), destacou nesta quarta-feira (2/7), na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, o papel de protagonismo que o Brasil voltou a ocupar no cenário político internacional após reconstruir a política para o setor dentro do país.

Europa apresenta nova meta climática. A Comissão Europeia apresentou nesta quarta (2/7) sua proposta de legislação para exigir a redução de 90% nas emissões de gases de efeito estufa até 2040 em relação aos níveis de 1990. A aprovação pelo Parlamento precisará enfrentar preocupações de alguns países do bloco, cujas empresas lidam com a alta dos custos de energia, mercados em queda e a ameaça de uma barreira tarifária dos EUA.

Enquanto isso, EUA avançam com projeto anticlima. Na terça (1/7), Donald Trump obteve uma vitória importante com a aprovação apertada no Senado de seu colossal projeto de lei orçamentária, que inclui isenções fiscais, cortes na saúde e financiamento para sua política anti-imigração. 

  • A lei “grande e bela”, como Trump a apelidou, retornará agora à Câmara, onde enfrenta resistência de democratas e de muitos republicanos que se opõem a cortes drásticos na saúde, nos subsídios para energia renovável e nos programas de auxílio alimentar para os pobres.

E30 e B15. O CNPE determinou oficialmente a retomada da mistura obrigatória de 15% de biodiesel no diesel (B15) e o aumento do etanol anidro na gasolina comum para 30% (E30), a partir de 1º de agosto. As resoluções foram publicadas na edição do Diário Oficial da União desta quarta (2/7).

Fraudes no mercado de combustíveis. O mercado de distribuição de combustíveis vem passando por uma reconfiguração no Brasil nos últimos anos, com o aumento da participação de mercado de empresas menores e perda de mercado das três maiores companhias do setor: Vibra, Ipiranga e Raízen.

  • Essa mudança está associada a irregularidades e fraudes, que se tornaram mais sofisticadas, mostra um relatório produzido pelo Itaú BBA, ao qual a agência eixos teve acesso.

Armazenamento na MP 1300. Associações do setor elétrico pedem que a criação de um marco legal para o armazenamento de energia seja inserida na medida provisória da reforma do setor elétrico. Em audiência na Comissão de Minas e Energia (CME) da Câmara nesta quarta (2/7), entidades pediram regras previstas em lei para os sistemas de armazenamento.
 
Economia Verde. A mestre em Direito Internacional, Júlia Cruz assumiu a secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria (SEV) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) nesta quarta-feira (2/7). Ela substitui Rodrigo Rollemberg, que deixou o cargo após assumir mandato na Câmara dos Deputados.

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