diálogos da transição

Brasil cobra financiamento para florestas enquanto aposta no petróleo

Em Bogotá, Lula diz que descarbonizar é uma necessidade, mas segue defendendo a exploração de petróleo na Foz do Amazonas

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Declaração dos Presidentes à imprensa. Plaza de Armas – Bogotá (Colômbia)

Foto: Ricardo Stuckert / PR
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Declaração dos Presidentes à imprensa. Plaza de Armas – Bogotá (Colômbia) Foto: Ricardo Stuckert / PR

NESTA EDIÇÃO. Em encontro de países amazônicos, Lula cobra financiamento climático e mobilização para proteger florestas.

No discurso, país defende transição energética, mas segue ancorado no petróleo.


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O presidente Lula (PT)  chamou a atenção, nesta sexta (22), para a falta de comprometimento dos países ricos com o enfretamento à mudança do clima e cobrou que as decisões acordadas na ONU sejam tratadas com seriedade. 
 
Ele participou, em Bogotá, na Colômbia, de encontro de líderes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
 
Em seu discurso, o presidente brasileiro elencou iniciativas para conter o desmatamento, preservar a floresta e levar desenvolvimento às pessoas que vivem na região, mas disse que o futuro do bioma não depende só dos países amazônicos.
 
“Mesmo que mais nenhuma árvore seja derrubada, a floresta continuará em risco se o resto do mundo não avançar na redução de gases de efeito estufa”.
 
Lula busca o engajamento dos países amazônicos para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) e apoio ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, em inglês), que será lançado em novembro, em Belém (PA). 
 
A intenção é arrecadar US$ 125 bilhões entre países, bancos centrais ou grandes investidores, para preservar biomas florestais em cerca de 70 países.
 
E, embora o Brasil tenha, no discurso, abraçado a causa da preservação, suas florestas estão sob pressão.
 
Novo licenciamento ambientalMoratória da Soja suspensaliberação de garimpo em terras indígenas e a iminente perfuração de poços de petróleo no Amapá são algumas notícias dos últimos dias que deixaram alerta a comunidade ambiental.
 
No discurso desta sexta, Lula criticou a dependência de combustíveis fósseis — uma narrativa que é ajustada de acordo com o público.
 
“A dependência de combustíveis fósseis nos condena a um futuro incerto. O caminho mais promissor é o da diversificação das fontes. A descarbonização não é uma escolha, ela vai se tornando uma necessidade”, disse na OTCA.
 
Ao mesmo tempo, o presidente também é um defensor da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, como estratégia econômica para manter o país relevante no mercado de óleo e gás.



Financiamento climático foi, aliás, o tema do Energy Talks desta sexta, com Flora Bitancourt, CEO no Brasil da World Climate Foundation (WCF). 
 
Ela aborda como o setor privado está desenvolvendo mecanismos para acelerar os aportes em transição energética para aqueles que mais precisam. E aponta que o Brasil está cheio de oportunidades. (Assista no Youtube).
 
Há dois anos, na COP28, a WCF anunciou duas coalizões, com repasses de US$ 130 bilhões para projetos de ações do clima no horizonte até 2030. 
 
Para a COP30, novas coalizões estão sendo formadas e a instituição planeja trazer dezenas de parceiros globais para Belém — com hospedagem já resolvida.
 
“Um dos exemplos do que trava um investimento é uma análise de maior risco, se esse recurso vem para países emergentes. Como isso se resolve? Através de mecanismos de financiamento inovadores”.
 
Um exemplo é o blended finance, que une recursos de doações com capital de mercado para reduzir os riscos do investimento.
 
“Esse derisking muitas vezes é aplicado em suporte técnico e aceleração de soluções tecnológicas, e faz com que as soluções apresentadas tenham maior apetite por investimento”, explica.
 
Mesmo diante de um cenário desafiador para os investimentos em renováveis  — em meio à guinada nos EUA e turbulências geopolíticas  —, Flora enxerga que resiliência é a palavra chave para manter o setor privado engajado. 
 
E enquanto um mercado de peso (EUA) se retira de cena, outros se posicionam para ocupar o vácuo (Europa e China).
 
“Como garantir que os negócios existam num futuro em que a emergência climática vai aumentar ainda mais? Quando trazemos projeções e análises de risco, esse cenários está estampado e as pessoas estão se mobilizando”, comenta Flora.


Etanol com CCS. A ANP aprovou, na quinta (21/8), o pedido da produtora de etanol de milho FS para aquisição de dados geocientíficos no poço 2-FSAS-1-MT, na Bacia do Parecis. Com isso, a empresa pode iniciar a perfuração para explorar o subsolo, mas o início das obras para injeção do CO2 ainda depende da licença ambiental de instalação.
 
CBIO nos EUA. A ANP também aprovou o primeiro certificado de importação eficiente de biocombustíveis. O etanol anidro produzido a partir de milho será importado pela Copersucar e produzido pela empresa Plymouth Energy LLC, em Iowa, nos Estados Unidos.
 
Descomoditização. Prevista para entrar em vigor no final do ano, a lei antidesmatamento da União Europeia deve alcançar 16% das exportações da agroindústria brasileira, um montante de US$ 17,5 bilhões por ano, podendo levar a um processo de “descomoditização” no agronegócio.

  • Recém chegada ao Brasil, a portuguesa Greentech está adaptando um serviço de seguro de custódia de risco do setor energético para o agro, combinando soluções de certificação e pagamento por serviços ambientais.

815 MW de PCHs. O leilão de energia nova A-5 contratou 815 MW de capacidade, nesta sexta (22/8), proveniente de 65 centrais hidrelétricas até 50 MW, com início de suprimento em 2030 e horizonte de fornecimento em 20 anos.

Novo edital para LRCAP. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), afirmou nesta sexta-feira (22/8) que a portaria com a consulta pública sobre as novas diretrizes do Leilão de Reserva de Capacidade será publicada na próxima segunda-feira (25/8).

Parceria com Bolívia. Silveira também afirmou que está nos planos do governo a construção de uma segunda hidrelétrica binacional. Desta vez, em parceria com a Bolívia, para aproveitar o potencial hídrico do Rio Madeira.

Pesquisa em transição. Conselho de Pesquisa da Noruega, Direção Norueguesa de Educação Superior e CAPES realizam, na segunda (25), o One Hour from Brazil, com universidades e instituições de pesquisa norueguesas, para apresentação do CAPES Global.edu

  • O programa tem orçamento de R$ 1,4 bilhão ao longo de cinco anos para projetos que conectem redes brasileiras de ensino superior a centros internacionais de pesquisa.

A relação entre hidrogênio e minerais críticos Brasil pode auxiliar no equilíbrio entre a expansão da capacidade de produção de hidrogênio de baixo carbono e a garantia na oferta de minerais críticos, escreve Gabriel Chiappini
 
Reforma do setor elétrico deve ser estrutural, com transparência e justiça tarifária O país não pode continuar lidando com medidas provisórias desconectadas e que aumentam a instabilidade regulatória, avalia Antonio Carlos Vilela
 
Resposta da demanda avançando: uma alternativa estratégica frente ao déficit de potência Avanço da RD não apenas fortalece o sistema, mas também estimula o surgimento de novos modelos de negócios capazes de posicionar o Brasil na vanguarda da inovação energética, escreve Pedro Bittencourt
 
O exemplo chinês e o futuro da recuperação energética de resíduos no Brasil País asiático mostra como reduzir aterros, com mais de mil usinas de recuperação energética com metas claras, investimento e regulação, escreve Yuri Schmitke

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