NESTA EDIÇÃO. Ministros defendem elevação do percentual obrigatório de etanol na gasolina, decisão que cabe ao CNPE. Inflação dos alimentos pressiona IPCA-15, enquanto combustíveis recuam.
Vantagens dos combustíveis nacionais sobre importados recua e paridade fica mais próxima em abril. Refinaria privada da Bahia eleva preços.
Silveira defende direcionamento de gás da União para projetos em Uberaba, no Triangulo Mineiro. Investimento dependerá de construção de gasodutos.
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Ministros em defesa do E30
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu o aumento da mistura de etanol na gasolina para 30%, ainda em 2025.
Segundo os cálculos do ministério, o E30 tem potencial para reduzir o preço médio da gasolina em até R$ 0,13 por litro, além de substituir a importação de 760 milhões de litros de gasolina por ano.
A elevação da mistura do etanol anidro na gasolina cabe ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e não exclusivamente ao MME.
- “Neste ano ainda, implantaremos o E30, para poder crescer mais ainda a indústria do etanol e fortalecer a descarbonização, gerando mais empregos e renda”, afirmou o ministro em Minas Gerais, durante evento anual que marca a abertura da safra.
- No fim de semana, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, também defendeu o aumento da mistura.
- “Aliás, o etanol, nesse momento, está mais barato que a gasolina. Então, não tem nenhum aumento no preço – pode até ajudar a segurar um pouco -, e depois a 35%”, disse na Agrishow, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo (Metrópoles).
Os impactos econômicos dos biocombustíveis entraram no radar do Planalto este ano, com aumento dos preços dos sobre alimentos, que persiste em abril segundo cálculos do IPCA-15, a prévia da inflação.
O índice subiu 0,43% em abril, pressionada pelos preços dos alimentos e itens de saúde. Os combustíveis, por sua vez, registraram queda, influenciados pela desvalorização do petróleo no mercado internacional. A gasolina (-0,29%), o etanol (-0,95%), o diesel (-0,64%) e o gás veicular (-0,71%) ficaram mais baratos.
- As vendas de etanol pelas usinas do Centro-Sul alcançaram um recorde de 35,58 bilhões de litros na safra 2024/25, encerrada em março, segundo dados divulgados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
- Em abril, termina a safrinha de milho, importante fonte de produção de etanol, que cresce ano a ano, próximo de um quarto da oferta do biocombustível.
- A inflação foi um fator determinante para a suspensão do cronograma do biodiesel, que chegaria a 15% em 1º de março, mas foi mantido em 14%.
O E30 começou a ser discutido com a sanção do Combustível do Futuro, em novembro de 2024, que prevê o aumento dos limites para mistura obrigatória de biocombustíveis para 35% no caso do etanol na gasolina, hoje em 27,5% (E27).
Os testes foram feitos com diversos modelos de carros e motos, fabricados entre 1994 e 2024 e misturas de 27%, 30% e 32%. Problemas observados em alguns veículos e motos mais antigos foram atribuídos ao desgaste natural e não à mistura.
Os estudos atestando a viabilidade técnica do E30 foram apresentados em março. À época, o ministro sinalizou que a intenção do governo era promover a elevação de uma só vez, sem um aumento de progressivo de 27% a 30%.
Paridade de preços. Ao contrário do diesel, a Petrobras não fez reajustes nos valores cobrados pela gasolina este ano, que são os mesmos desde julho de 2024 (293 dias). Os preços médios da gasolina A (pura) nacional estão acima dos internacionais em todos os polos analisados pela Abicom (importadores).
- A vantagem da gasolina nacional sobre a importada, contudo, caiu desde março. Na semana passada, a Acelen aumentou o preço da gasolina em R$ 0,2310 por litro na Bahia. “O mercado internacional e o câmbio pressionam os preços domésticos”, diz boletim da entidade.
No diesel, a Petrobras fez dois cortes em abril (1/4 e 18/4). A Acelen elevou os preços na quarta (23/4). Os preços médios do óleo diesel A operam acima ou na paridade a depender do polo, diz a Abicom.
A cotação do petróleo Brent ensaiou uma recuperação na semana passada, mas o barril continua negociado abaixo dos US$ 66. Nesta segunda (28/4), o mercado opera em queda de 0,64%, a US$ 65,52.
Fiscalização. O Ministério da Gestão e da Inovação (MGI) concluiu que não há conflito de interesses na doação de equipamentos por associações do setor de combustíveis à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
- O protocolo foi desenvolvido em parceria com com o MME para ampliar o acesso da agência aos equipamentos que permitem aos fiscais verificar, em campo, se a mistura obrigatória de biodiesel está sendo cumprida. O uso dos aparelhos possibilita identificar fraudes no diesel, como a comercialização do produto 100% fóssil.
Gás da União em Uberaba. O ministro Alexandre Silveira também afirmou que a pasta avalia maneiras de levar o gás natural da União, comercializado pela Pré-sal Petróleo (PPSA), até Uberaba, localizada no Triângulo Mineiro.
- Ele mencionou a possibilidade de direcionar o gás da União para os projetos, mas ponderou que terá concorrência para atender outros mercados.
- “Estamos trabalhando para ver se a gente excepcionaliza esse gás. Claro, vai ter uma concorrência no Brasil inteiro, mas Uberaba será um grande protagonista e sairá na frente, graças às políticas públicas que têm sido implementadas aqui”, disse.
Para isso, será preciso construir gasodutos e a interiorização do gás natural em novas rotas não se mostrou economicamente viável até o momento.
Barreiras comerciais. O Brasil tem uma vantagem estratégica no mercado de hidrogênio renovável devido ao seu Sistema Interligado Nacional (SIN), que transmite energia limpa e confiável, com mais de 90% vindo de fontes renováveis.
- Há desafios internos significativos, como o desalinhamento entre a expansão da rede elétrica e os pedidos de conexão de projetos de hidrogênio verde.
- Mas no cenário internacional, o Brasil precisa demonstrar à União Europeia como o SIN funciona para atender às exigências regulatórias de adicionalidade, regionalidade e temporalidade.
Na coluna Hidrogênio em Foco: Conectado e renovável, o Brasil tem o que a Europa quer. Falta explicar direito
Harmonização regulatória do gás. O MME abriu uma tomada pública de contribuições para discutir a harmonização regulatória no mercado de gás natural. O espaço ficará aberto até 24 de maio no portal Participa+Brasil. A iniciativa visa, segundo o MME, alinhar normas estaduais e federais.
Regulação de baterias. O Brasil tem potencial para ser um dos maiores mercados para baterias na América Latina, segundo o diretor Comercial da Atlas Renewable Energy, Luis Pita. Para isso, no entanto, o país precisa desenvolver uma regulação abrangente que permita diferentes aplicações, além de viabilizar o desenvolvimento da cadeia nacional para esse segmento. “É um mercado gigantesco”, diz.
- O Ministério de Minas e Energia (MME) indicou a possibilidade de realizar um leilão para contratação de sistemas de armazenamento ainda este ano. O ministro Alexandre Silveira (PSD) viajou à China para se reunir com executivos do setor na semana passada.
Baterias no Chile. Mercado mais maduro para o armazenamento em baterias na América do Sul, o Chile pretende chegar a 6 gigawatts (GW) de capacidade nessa tecnologia até 2030, segundo o ministro da Energia, Diego Pardow. Ele reconhece que a redução no preço das baterias globalmente nos últimos anos ajudou a viabilizar o desenvolvimento da tecnologia no país.