comece seu dia

Governo sanciona carvão, blinda petroleiras e veta R$ 6 bi em compensação a renováveis

Silveira confirma dez vetos no texto aprovado pelo Congresso a partir da MP 1304/2025

Lula e Alexandre Silveira durante a instalação do Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM), na sede do MME, em Brasília/DF, em 16 de outubro de 2025 (Foto Ricardo Stuckert/PR)
Lula (PT) e Alexandre Silveira (PSD) durante a instalação do Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM), na sede do MME, em Brasília/DF, em 16 de outubro de 2025 (Foto Ricardo Stuckert/PR)

NESTA EDIÇÃO. Silveira confirma extensão do carvão e ressarcimento mais restrito para renováveis, além de veto a preço de referência na MP 1304.
 
Iberdrola anuncia fechamento de capital da Neoenergia. 
 
Funcionários da EPE interrompem greve. 
 
Lula defende participação da Petrobras em projetos de gás natural em Moçambique
 
Brasil pode gerar até 760 mil novos empregos em bioenergia, segundo estudo. 


Na semana logo após a COP30 em Belém, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD/MG), confirmou que o governo vai sancionar a extensão dos contratos de termelétricas a carvão no sul do país na lei da reforma do setor elétrico.

  • A prorrogação dos contratos foi incluída no texto da Medida Provisória 1304/2025 durante as discussões no Congresso Nacional, concluída em outubro
  • Silveira argumentou que a sanção busca enquadrar as usinas a carvão no Rio Grande do Sul e Paraná na mesma prorrogação dada para Santa Catarina em 2022. Segundo ele, o Brasil já é líder em renováveis, na energia e transportes. 
  • “É importante destacar que ainda precisamos destas fontes energéticas para poder dar segurança energética ao sistema”, disse Silveira em entrevista ao Roda Viva na noite de segunda-feira (24/11). Assista na íntegra

Segundo o ministro, o governo optou por vetar dez dispositivos do texto aprovado pelos legisladores

  • “Mantidos os vetos como eles foram feitos, entendemos que chegamos num equilíbrio do setor elétrico fundamental para a economia nacional”, disse, ao comentar os impactos nos custos da energia.  

Outro tema sensível das discussões, as compensações às usinas renováveis pelos cortes de geração (o curtailment) vai seguir a solução apresentada pelo relator da medida provisória, o senador Eduardo Braga (MDB/AM), com um ressarcimento mais restrito

  • Da forma como o texto saiu do Congresso, havia duas soluções concorrentes para conceder o direito às compensações pelos cortes. O pagamento vai sair do Encargo de Serviço do Sistema (ESS), que é pago por todos os consumidores.
  • “Nós vamos manter a emenda do senador Braga e vamos vetar a emenda que foi colocada de última hora, de forma inadequada do ponto de vista legislativo, que permitia o ressarcimento da parte energética”, disse Silveira, que mencionou custos de R$ 6 bilhões caso a compensação mais ampla fosse aprovada. 
  • O ministro, no entanto, disse que o governo vai seguir com as discussões para uma solução mais ampla, de modo a reduzir impactos sobre investimentos. 

Em um aceno às petroleiras, Silveira também confirmou o veto às alterações no preço de referência do petróleo usado para o cálculo de royalties. A alteração era defendida pelas refinarias privadas

  • O argumento é que o veto é necessário para a Petrobras seguir em frente com o projeto de produção em Sergipe Águas Profundas (SEAP)
  • Entretanto, a presidente da estatal, Magda Chambriard, confirmou na semana passada que a estatal deve adiar a entrada em operação do projeto, que atualmente está na fase de negociação das plataformas. A confirmação virá no plano de negócios 2026-2030, que será divulgado esta semana. 

Mais detalhes em: Governo veta alta de royalties em troca de aportes da Petrobras, incluindo no gás natural de Sergipe



Continuidade da marca Eletrobras. O governo Lula está em tratativas avançadas com a Axia Energia para que a empresa ceda à União o nome Eletrobras. Uma das possibilidades seria usar a marca para rebatizar a ENBPar. (O Globo)

Por falar na Axia. A Superintendência do Cade aprovou sem restrições a compra, pela Axia Energia, de 100% das ações da Juno, controlada pela TPI e Mercúrio. A Juno detém 50,1% da Tijoá, joint venture que opera a hidrelétrica Três Irmãos.

Fechamento de capital. A Iberdrola Energia fará uma oferta pública de aquisição da totalidade das ações da Neoenergia. A companhia deve gastar cerca de R$ 6,5 bilhões.

  • Em setembro, a Iberdrola já havia desembolsado R$ 11,5 bilhões para adquirir a fatia da Previ na Neoenergia.

Impactos das enchentes. A Aneel determinou que as distribuidoras do Rio Grande do Sul apresentem relatórios sobre os impactos da calamidade de maio de 2024, quando enchentes afetaram 2,4 milhões de pessoas e danificaram a infraestrutura elétrica. 

  • A agência também revogou a medida temporária que flexibilizava regras de prestação do serviço durante o evento extremo.

Pausa na greve. Funcionários da EPE suspenderam temporariamente a paralisação iniciada na segunda-feira (17). A pausa, válida de 20 a 28 de novembro, foi aprovada sob protesto e atende a pedido da mediadora do TRT-1 para viabilizar uma última rodada de negociação salarial entre a estatal e os servidores.

Inclusão energética. O governo iniciou a primeira fase do Gás do Povo, com a entrega gratuita de botijões de 13 kg para 1 milhão de famílias em dez capitais. A meta é alcançar 15 milhões de beneficiários até março de 2026, quando o programa estará plenamente implementado. As primeiras entregas ocorreram em Belo Horizonte.

Preço do barril. A cotação do petróleo subiu na segunda-feira (24), com investidores digerindo as narrativas da Rússia e Estados Unidos para o conflito na Ucrânia, bem como as expectativas para a reunião da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) no fim da semana.

  • O Brent para fevereiro avançou 1,25% (US$ 0,78), a US$ 62,72.

Expansão além-mar. O presidente Lula (PT) defendeu que a Petrobras ofereça serviços de perfuração para projetos de gás natural em Moçambique, durante fórum com empresários em Maputo, na segunda (24). O presidente disse que a estatal “se trancou no Brasil” nos últimos anos e defendeu maior presença brasileira no país africano. 

  • Segundo ele, o Brasil precisa de gás e Moçambique tem reservas, mas carece de expertise para explorá-las.

E defesa do coprocessado. Na mesma viagem, Lula voltou a defender o diesel coprocessado da Petrobras, destacando o produto como alternativa ao biodiesel. A estatal tenta há anos enquadrar o combustível — com até 10% de teor renovável — na parcela obrigatória de biocombustíveis, mas a ANP barrou o pedido em 2022. 

  • A discussão sobre um mandato específico deve voltar à mesa em 2026.

Empregos verdes. O Brasil pode gerar até 760 mil novos empregos em bioenergia até 2030, aponta estudo da Schneider Electric e da Systemiq. O salto pode ampliar em 63% a atual força de trabalho do setor. 

Biometano. O BNDES aprovou um aporte de R$ 85,8 milhões na Bioo, por meio da BNDESPar. Com a compra de novas ações, a estatal ficará com 19,9% do capital da empresa de biometano. A rodada inclui ainda um investimento adicional da Flying Rivers Capital, gestora criada a partir da vertical de clima da eB Capital.

Restauração climática. O BNDES e a Axia Energia lançaram dois editais que somam R$ 30 milhões para projetos de restauração ecológica e revitalização de recursos hídricos pelo programa Floresta Viva. Os editais contemplam 96 municípios em Goiás, Minas Gerais e Pernambuco.

Geopolítica da transição. O presidente Lula defendeu, na cúpula do G20, no domingo (23), que países detentores de minerais críticos ocupem posição estratégica nas cadeias de valor da transição energética e da IA. 

  • Ele afirmou que esses materiais se tornaram “ativos centrais da geopolítica” e destacou que o setor de energia respondeu por 85% do aumento da demanda global em 2024.

Terras raras. Um grupo formado por diversas empresas anunciou a criação da Associação de Minerais Críticos (AMC), que reunirá players da cadeia produtiva de insumos como lítio, níquel, grafite, terras raras e cobre.

  • A presidente do conselho da AMC, Marisa Cesar, avalia que a criação da entidade responde à necessidade de coordenação técnica em um setor que cresce rapidamente. 

Saldo da COP. O roteiro da transição para longe da dependência dos combustíveis fósseis a ser elaborado pela presidência brasileira da COP30, ao longo dos próximos onze meses, deve ser neutro e buscará contribuições dos produtores de petróleo, sinalizou o embaixador André Corrêa do Lago no encerramento da cúpula em Belém (PA).

Newsletter comece seu dia

Inscreva-se e comece seu dia bem informado sobre tudo que envolve energia