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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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O mercado global de veículos elétricos (VE) sofreu uma queda abrupta nas vendas mensais, com 672 mil unidades vendidas em janeiro — metade das vendas de dezembro de 2022 –, mostra pesquisa da Rystad Energy.
Na comparação com janeiro de 2022, houve um ligeiro aumento de 3%. Mas a participação de mercado de VEs entre todas as vendas de automóveis de passageiros caiu para 14% no primeiro mês de 2023, bem abaixo dos 23% observados em dezembro.
O motivo: cortes nos incentivos fiscais para este mercado ao redor do mundo
Com subsídios para veículos elétricos em muitos países europeus e na China reduzidos ou extintos no início do ano, os analistas vêem ramificações duradouras deste movimento, podendo afetar as vendas no primeiro trimestre do ano e, até mesmo, o restante de 2023.
Abhishek Murali, analista de tecnologia limpa da Rystad Energy, explica que, embora o apetite do consumidor por carros elétricos continue forte, os créditos fiscais e subsídios ainda desempenham um papel significativo no convencimento dos consumidores para migrar dos motores a combustão.
“As montadoras podem não ter outra opção a não ser responder com preços reduzidos”, diz.
Nos EUA, esperança na IRA
O levantamento mostra os Estados Unidos como o único grande mercado que viu as vendas aumentarem junto com a participação ano a ano, embora sua contribuição para o total global ainda seja relativamente pequena.
Cerca de 80 mil VEs foram vendidos em janeiro — 7,8% das vendas totais. O país está começando sua jornada de eletrificação e os créditos fiscais da Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês) promete alavancar a tecnologia.
A meta dos EUA é chegar a 2030 com metade de todos os seus carros novos eletrificados. Há uma série de incentivos, incluindo créditos fiscais para compradores e apoio do governo para a expansão da rede de recarga.
China desacelera
Maior mercado de VEs do mundo, a China experimentou um corte de quase 50% nas vendas em janeiro de 2023 em comparação com o mês anterior. A variação ano a ano, por outro lado, ficou relativamente estável devido à afinidade dos consumidores por modelos domésticos mais baratos.
Ainda assim, a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis prevê uma desaceleração este ano, com cerca de 8 milhões de unidades até o final de dezembro.
O recente anúncio da fabricante de baterias CATL de corte de preço em células para compradores automotivos pode ajudar na recuperação do mercado, observa a Rystad.
Cenário sombrio na Europa
Com os subsídios de VEs chegando ao fim, muitos consumidores anteciparam suas compras no final do ano passado, reduzindo a demanda esperada para o primeiro trimestre de 2023 no segundo maior mercado.
“Mas as montadoras não tolerarão esse enfraquecimento por muito tempo — a Tesla já está testando seus limites de preços, oferecendo um desconto massivo, desencadeando um grande volume de pré-encomendas”, observa o relatório.
Na Alemanha a queda foi de cerca de um terço em janeiro em comparação com 2022, registrando 27 mil unidades no mês. A participação de mercado no país despencou, de 55% de todas as vendas de carros em dezembro de 2022, para 15% em janeiro.
No Reino Unido, a participação de mercado caiu pela metade de cerca de 40% para 20% mês a mês e de 50% para 24% na Holanda.
A Noruega experimentou as piores vendas mensais de automóveis de passageiros em mais de 60 anos, com apenas 1.860 veículos vendidos, incluindo elétricos. Foi também a primeira vez em dois anos que a fatia dos eletrificados (76,3%) ficou abaixo de 80% no país.
Melhor janeiro do Brasil
Com 4.503 unidades emplacadas, o mercado de veículos leves eletrificados no Brasil teve, neste início de 2023, o melhor mês de janeiro da série histórica da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).
Em relação a janeiro de 2022 (2.558), o crescimento foi de 76%. E 241% sobre janeiro de 2021 (1.321).
Mas na comparação com dezembro (5.587) a queda foi de 19%. Segundo a associação, esse movimento é normal para o período, considerando também que o último mês do ano passado foi o segundo melhor de toda a série histórica, só superado por setembro/22 (6.391).
A participação de mercado ficou em 3,4% em relação ao total de veículos leves comercializados no mercado doméstico em janeiro (130.460, segundo a Fenabrave).
Cobrimos por aqui:
- Eletrificação brasileira deve avançar em nichos
- Usineiros levam ao MME ideias para unir etanol à eletrificação
- Óleo perderá protagonismo para eletrificação no transporte até 2050
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Curtas
Eletrificação customizada
A Siemens está entrando no negócio de serviço customizado de carregamento para veículos elétricos e geração de energia solar na modalidade Charging as a Service (CaaS) no Brasil. Com ele, o cliente industrial ou comercial fica isento da compra e do gerenciamento dos equipamentos, que ficam sob a responsabilidade da Brasol, durante o período de contratação.
A Brasol, empresa de energia distribuída do grupo Siemens, disponibiliza a infraestrutura em contratos que podem durar cinco, sete ou dez anos. “O cliente paga um aluguel para uso das soluções e provê a energia limpa de placas fotovoltaicas que alimentará os carregadores”, explica Ty Eldrige, CEO e fundador da Brasol.
Biorrefino
A bp lançou nesta terça (28/2) o cluster de hidrogênio verde na região de Valência (HyVal), na Espanha. Pretende alcançar até 2 GW de capacidade de eletrólise até 2030 para produzir hidrogênio verde e descarbonizar as operações da refinaria de Castellón. O grupo estima que os investimentos podem chegar a 2 bilhões de euros no final da década.
GNV no transporte público
Um ônibus movido 100% a gás natural veicular (GNV) passou a integrar o transporte coletivo urbano da região metropolitana de Curitiba, no Paraná, na terça (28/2). Em fase de teste, o veículo circulará por 30 dias para análise de eficiência, custo operacional e emissões. É parte do projeto de mobilidade sustentável da Compagas com o governo estadual e a fabricante Scania.
Cabo de guerra
Produtores de biodiesel rebatem impacto no preço final com aumento da mistura no diesel, pauta que deve ser avaliada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), nos próximos dias. A indústria tem apoio do MDA, MAPA e MDIC, mas precisa vencer a resistência do setor transportador, que teme impactos no custo do frete e problemas nos motores.
Biodiesel brasileiro nos EUA
A brasileira BSBIOS fez a primeira exportação em escala comercial do país para os Estados Unidos. O produto tem o registro EPA (agência de proteção ambiental dos EUA), que exige que a produção tenha sido totalmente segregada e dentro dos seus padrões.
O comprador das 12,6 mil toneladas de biodiesel não foi divulgado. Ele poderá comercializar o produto e os créditos de descarbonização equivalentes a esse volume em todo o território dos EUA.