RIO — O Grupo Marquise se prepara para estrear no setor de geração de energia. A companhia tem planos de construir não apenas termelétricas a biogás nos aterros sanitários que opera, por meio da Marquise Ambiental, como também estuda entrar na geração a gás natural do pré-sal e — no futuro — até mesmo no segmento de energia eólica.
A empresa, gestora do aterro sanitário de Caucaia (CE), é responsável pela primeira planta de biometano do Nordeste, a GNR Fortaleza (CE) — segunda maior usina de tratamento de biogás produzido em aterros no Brasil. A unidade tem capacidade de produção de, ao todo, 96 mil metros cúbicos diários (m³/dia) de biometano.
Desenvolvido em parceria com a Ecometano, o empreendimento, contudo, é focado na comercialização do produto para a distribuidora cearense de gás natural, a Cegás, e não para geração de eletricidade.
O presidente da Marquise Ambiental, Hugo Nery, afirma que a estratégia da companhia, agora, é ampliar as atividades para se tornar um player de energia.
“Na medida em que caminhamos hoje com gás de aterro, é natural começarmos a ver o gás de petróleo [o gás natural]. Na hora que entrarmos na área de energia e nos consolidarmos como um player de energia, talvez o hidrogênio verde seja o próximo passo — ou a energia eólica”, disse Nery à agência epbr.
Segundo ele, o grupo está “fazendo um estudo muito forte” para construir uma termelétrica a gás natural no Sudeste, com capacidade de 1,5 GW e investimentos estimados em cerca de US$ 1 bilhão.
A ideia é desenvolver o projeto com dois parceiros, cujos nomes são mantidos em sigilo, sendo um deles do setor de óleo e gás e o outro um investidor — modelo parecido com o perfil do consórcio responsável pela construção da termelétrica Marlim Azul, em Macaé (RJ), formado por um investidor financeiro (Pátria Investimentos), um produtor de gás (Shell) e uma fornecedora de tecnologia de geração de energia (Mitsubishi).
“A empresa [Marquise] entende que o negócio dela mudou e precisa se preparar para os próximos cinquenta anos”, disse. “Entendemos que o mercado de gás será ainda muito importante para geração de energia”, completou.
Nery aposta que o gás do pré-sal poderá contribuir para a segurança do sistema elétrico no Brasil, bem como para atenuar os efeitos de possíveis choques de oferta do gás natural liquefeito (GNL) importado.
“Sabemos que o pré-sal gera uma quantidade de gás que nos tornaria autossuficientes (…) A Petrobras precisa de direcionar esse gás para algum lugar, ele não pode ficar perdido nos seus poços”, disse.
Foco no mercado livre
A Marquise tem projetos de geração de energia a partir do biogás dos aterros sanitários que a companhia opera em Osasco (SP) e Manaus (AM).
“Queremos ter controle de matéria-prima, transformação de matéria-prima”, afirmou.
A ideia, de acordo com Nery, é comercializar essa energia gerada nos aterros no mercado livre, principalmente para os grandes consumidores industriais em São Paulo e na Zona Franca de Manaus.
Política industrial para resíduos
O executivo defende que o avanço na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o marco legal do saneamento devem vir acompanhados de políticas industriais para aproveitamento dos resíduos.
“O que era lixo virou matéria-prima. Se virou matéria-prima, nós deveríamos estar discutindo política industrial”, disse.
Ele acredita, no entanto, que o Brasil não deverá seguir o exemplo da Europa, onde o viés ambiental norteou as políticas de aproveitamento de resíduos por meio de subsídios.
“O viés brasileiro, por uma questão econômica, não vai ser ambiental, por uma questão de que o país não tem dinheiro para subsidiar”, comentou.
Nery destaca que o resíduo orgânico pode gerar não só biogás, como também composto e adubo para a agricultura. Já os resíduos sólidos poderiam ser, em sua maior parte, reciclados.
O executivo, no entanto, é contra subsídios para geração de energia a partir da queima de resíduos sólidos. Segundo ele, esse modelo de geração, também conhecido como waste-to-energy, demanda altos incentivos para ser viável.
“Precisamos entender que as cidades brasileiras são pobres na sua maioria. Fazer com que essas cidades paguem por um tratamento desse porte é impossível”, disse.