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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 03/01/22
Editada por Nayara Machado e Gustavo Gaudarde
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O ano começa com a formalização da proposta europeia para enquadrar o gás e a nuclear como fontes de energia aptas a receber investimentos climáticos.
A proposta será discutida nos próximos meses na Comissão Europeia e um dos resultados possíveis é o veto – já enfrenta resistência de membros, incluindo ameaças de processo.
Será mais um capítulo do debate sobre como e quem vai financiar a transição. Para alcançar as metas do Acordo de Paris e limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2100, o mundo vai precisar investir quase US$ 6 trilhões na transição para economia de baixo carbono.
Ainda estamos muito longe. Entre 2019 e 2020, o financiamento do clima atingiu US$ 632 bilhões, mas o crescimento desacelerou, aponta o Laboratório Global de Inovação em Finanças Climáticas (Lab).
“O capital está no mercado. O que é realmente necessário é ter certeza de que estamos focados”, diz Barbara Buchner, diretora-geral global do Climate Policy Initiative, que gerencia o Lab.
Em entrevista à epbr, Barbara afirma que há uma enorme necessidade de dimensionar os investimentos entre os agentes públicos e privados, e ir além do setor de energia – onde a maior parte dos recursos têm se concentrado – e englobar mitigação e adaptação, por exemplo.
Outra questão é geográfica. “Quase metade dos investimentos foi para o Leste Asiático do Pacífico, e a China sozinha representa mais de 80% desse valor, com base em um forte apoio governamental por meio de gastos públicos e políticas nacionais”, comenta a especialista.
Além disso, ela destaca a importância de um ambiente doméstico favorável e forte, com regulamentações capazes de atrair investimentos.
Barbara pontua três principais barreiras hoje para as finanças climáticas
Conhecimento e informação. Lacunas de conhecimento que impedem os investidores de entrar neste espaço, de ver as oportunidades.
Segundo Barbara, embora muitas tecnologias de baixo carbono já estejam disponíveis a preços competitivos, ainda falta informação, e o capital continua concentrado nas tecnologias tradicionais, baseadas em combustíveis fósseis.
Regulamentação e políticas públicas. Os investidores precisam de segurança jurídica. Um ambiente doméstico estável e com regulamentações claras é indispensável para atrair novos recursos.
“Ter um ambiente favorável e forte é particularmente importante para os investidores terem segurança em prazos e incentivos para investir”.
Gestão do risco. De acordo com a executiva, uma das grandes questões é como lidar com alguns dos riscos de acesso ao capital.
“Muitas vezes é [apenas] um risco percebido ou nem mesmo um risco real, mas como lidar?”
Ela explica que os retornos ajustados aos riscos é que permitem aos investidores cuidarem das dificuldades adicionais associadas a uma tecnologia específica.
“Então [precisamos] de soluções de financiamento que melhor abordem alguns dos riscos ou aumentem os retornos dessas soluções mais novas”.
COP26. Encontrar soluções inovadoras para financiamento climático se torna cada vez mais urgente. Encerrada em novembro, na Escócia, a COP26 deixou para o próximo encontro a demanda por recursos para que economias emergentes consigam fazer sua transição.
Os países em desenvolvimento queriam um plano claro para um mecanismo de financiamento de perdas e danos. Isto não aconteceu, e este será o foco na reunião da COP27, no Egito, em 2022.
A plataforma do Lab procura superar essas barreiras que ainda estão no mercado e direcionar os investidores e, finalmente, dinheiro para algumas das áreas que ainda não têm um fluxo de capital suficiente.
No Brasil, são dez instrumentos. Entre eles, o Green FIDC, primeiro Fundo de Investimento em Direitos Creditórios emitido como título climático no país, levantou US$ 35,8 milhões para projetos de energia limpa e eficiência energética.
“Uma área em que temos concentrado muito é sobre como realmente abordar as disparidades, superar essas barreiras e apresentar modelos de negócios e abordagens financeiras mais inovadoras”, explica Barbara
Com base no modelo do Green FIDC, o Green CRI [Certificado de Recebíveis Imobiliários] arrecadou US$ 14,3 milhões, totalizando US$ 50 milhões, equivalente a cerca de R$ 281,6 milhões).
Os projetos também incluem geração distribuída em habitação social, eficiência energética, biogás e rastreamento de matérias-primas, entre outros.
Em dezembro, o Lab superou US$ 3 bilhões em investimentos sustentáveis em economias emergentes. Ao todo, são 55 instrumentos financeiros mobilizando capital e diferentes países.
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