CUBATÃO (SP) — A Yara, companhia norueguesa do setor de fertilizantes, avalia a implementação de projetos de hidrogênio de baixo carbono em larga escala no Brasil visando a produção de amônia.
Segundo Daniel Hubner, vice-presidente de Soluções Industriais da Yara, a empresa está de olho na janela de subsídios governamentais previstos no marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono, bem como na lei de incentivos para o hidrogênio, que juntos devem disponibilizar mais de R$ 20 bilhões entre 2028 e 2032.
“A lei do hidrogênio vai dar um incentivo a partir de 2028. Se gente faz um projeto piloto aqui, entre fazer, implementar e depois passar para o grande, provavelmente a gente vai perder essa janela”, disse à agência eixos.
“Como empresa, a gente está checando. Estamos prontos e podemos pensar em uma coisa maior, ou se ainda tem aprendizado em um projeto piloto. A questão é que teria um trade-off e perderíamos a janela, provavelmente, desses incentivos que podem ser importantes para fazer a diferença”, completa o executivo.
Segundo Hubner, o Brasil precisa focar em projetos de grande escala para alavancar o mercado de hidrogênio.
“Não adianta o país agora colocar 50 projetos pilotos, não vai mudar a realidade. É um projeto grande, estruturante, que vai mudar o ecossistema”.
Biometano com CCS
A empresa considera tanto o hidrogênio verde, produzido via eletrólise de água com energia renovável, quanto o hidrogênio gerado por meio da reforma do gás natural ou biometano com captura e armazenamento de carbono (CCS).
Na semana passada, a Yara começou a produzir amônia renovável utilizando biometano em seu Complexo Industrial de Cubatão (SP). Segundo a empresa, a iniciativa reduz em 75% a pegada de carbono em comparação à amônia produzida a partir de gás natural.
A fábrica de Cubatão consome 700 mil metros cúbicos de gás por dia. A ambição é converter a planta 100% para o biometano.
“Estamos buscando a possibilidade de fazer CCS no Brasil. Imagina se a gente põe tudo aqui a biometano, a gente vai ter 200 mil toneladas de CO2 biogênico. Imagina se eu combino isso com o CCS debaixo da terra? Então a gente vai ser uma máquina de capturar CO2”, avalia.
A estratégia está alinhada ao acordo firmado recentemente com a Petrobras, que contempla potenciais parcerias para descarbonização e produção de fertilizantes no país, conta Hubner.
“O biometano vem saindo na frente, acho que o hidrogênio tem um potencial enorme. Mas tem uma questão de escala e de eficiência. Assinamos um master agreement com a Petrobras em que queremos explorar a transição energética”.
Cubatão verde
Na avaliação de Hubner, “a hegemonia do petróleo acabou”. Para o executivo, o futuro energético contará com soluções diversificadas, adaptadas às particularidades de cada região, como o shale gas com CCS nos Estados Unidos, e o biometano e hidrogênio no Brasil.
“Não vai mais ter uma solução dominante, do ponto de vista energético. Cada país vai ter a sua melhor habilidade”, ressalta.
O executivo também destaca o potencial de Cubatão para se tornar o primeiro hub de hidrogênio verde do Brasil.
A região, que abriga um ecossistema industrial integrado, conta com empresas como a própria Yara, Petrobras e Usiminas, que podem utilizar o hidrogênio para descarbonização dos seus produtos.
“Cubatão tem todas as implicações para ser, talvez, o primeiro hub de hidrogênio verde. Aqui, a Yara consegue transformar esse hidrogênio em amônia. Temos também a Petrobras, que precisa descarbonizar a refinaria. A Usiminas, que, eventualmente, poderia estar produzindo o HBI (ferro-esponja). Já existe um ecossistema que já pode agregar valor e ter a demanda”, afirma o executivo.
A viabilidade de um hub de hidrogênio verde em Cubatão é objeto de um estudo em andamento pela parceria entre a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ) e o Ministério de Minas e Energia (MME).
O jornalista viajou a convite e com despesas pagas pela Yara