BRASÍLIA — O presidente Lula afirmou, nesta segunda (10/4), que a frota de navios da Transpetro — braço de logística da Petrobras — será ampliada em seu governo, para estimular a indústria naval.
E reforçou o reposicionamento da petroleira, em novos negócios, ao dizer que a empresa é “mais do que uma empresa de petróleo” e que olhará para o desenvolvimento de novos combustíveis renováveis.
“Presta atenção, ministro de Minas e Energia [Alexandre Silveira] no que eu vou falar agora: a Petrobras financiará pesquisa para novos combustíveis renováveis e, ao mesmo tempo, retomará o papel de protagonista nos investimentos, ampliando a frota de navios da Transpetro e gerando emprego em nossos estaleiros”, discursou, em reunião ministerial para simbolizar os cem dias de gestão.
A contratação de petroleiros para a Transpetro foi um dos eixos do plano de revitalização da indústria naval dos governos do PT.
Foi no primeiro mandato de Lula que a subsidiária da Petrobras lançou o Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) — descontinuado em meados da década passada, em meio à crise financeira da petroleira e da indústria naval, na esteira dos escândalos de corrupção deflagrados pela Operação Lava Jato
O aumento das encomendas aos estaleiros nacionais é uma demanda do setor. Na última década, as grandes encomendas de plataformas migraram para os estaleiros asiáticos. Dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) mostram que, em 2014, a indústria naval brasileira somava cerca de R$ 9,5 bilhões em projetos contratados. Em 2021, esse valor era de R$ 570 milhões.
A crise do setor, desencadeada a partir de 2014, refletiu-se na geração de empregos: desde o ápice de postos de trabalho, de 82 mil em dezembro de 2014, o país perdeu mais de 60 mil vagas. Em maio de 2022, eram cerca de 21 mil.
Setor se articula no Congresso
O Sinaval tem defendido que a Petrobras retome — ou reformule — antigos programas de promoção do setor, como o Programa de Renovação da Frota de Apoio Marítimo da Petrobras (Prorefam) e o Promef.
Mira, assim, o aumento da demanda por serviços de construção de barcos de apoio e embarcações de transporte de cargas, como petroleiros e gaseiros.
Acompanhe na íntegra o programa antessala “Como revitalizar a indústria naval brasileira?”, da agência epbr:
O setor defende também um aumento da quantidade de encomendas de integração de módulos de plataformas, de forma que, progressivamente, os estaleiros brasileiros consigam construir FPSOs.
A indústria naval se articula na Câmara dos Deputados para o lançamento de uma frente parlamentar em defesa dos interesses do setor.
O movimento é liderado pelo deputado Alexandre Lindenmeyer (PT/RS). Uma das sugestões do parlamentar é usar o “poder de compra estatal” para aumentar o fluxo de encomendas, principalmente da Petrobras, por meio de exigências de conteúdo local.
O ex-vice-presidente do Sinaval, Sérgio Bacci, aliás, foi indicado a presidência da subsidiária da Petrobras. Aguarda, ainda, os trâmites para assumir o cargo.
Petrobras vê estaleiros sem competitividade
O presidente da petroleira, Jean Paul Prates, disse, em março, que a companhia buscará aumentar, em seus projetos, os índices de conteúdo local. Ponderou, contudo, que a retomada do setor depende de um esforço coletivo.
“Não basta a Petrobras querer fazer isso [aumentar o conteúdo local]. Tem que haver condições para isso”, disse.
Prates destacou que falta competitividade aos estaleiros nacionais. Segundo ele, a Petrobras, hoje, “praticamente não tem opção” no mercado nacional.
“Quando há uma discrepância desse nível [de competitividade], precisamos de política pública, outro tipo de abordagem a esse problema. Mas vamos participar ativamente dessa abordagem”, comentou.
Prates citou, ainda, que outra possibilidade para a retomada do setor naval pode vir de oportunidades geradas pela transição energética — como, por exemplo, a demanda potencial por montagem de equipamentos para eólicas offshore.
Até agora, sob o comando de Prates, a Petrobras lançou uma grande licitação, para contratação das duas FPSOs do projeto Sergipe Águas Profundas, mas sem elevar exigências de conteúdo local.
A transição energética no discurso de Lula
Ao afirmar que a Petrobras olhará para novos combustíveis renováveis, Lula reforça a agenda de transição energética de seu governo.
Em um artigo recente, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que o gás natural será “o combustível de transição para o hidrogênio”. E que a empresa terá planos para converter suas refinarias em “bio-petro-gás refinarias”.
O atual plano de negócios da Petrobras mira o desenvolvimento do biorrefino, mas o novo comando da empresa está reavaliando o posicionamento da companhia no setor de biocombustíveis de uma forma geral.
Rediscute, inclusive, a venda da PBIO, que atua na produção de biodiesel.
A longo prazo, a petroleira também mira oportunidades na produção de hidrogênio verde.
No discuso desta segunda, Lula disse que a transição energética será um dos seis eixos que vão compor o novo programa de investimentos prioritários que vem sendo desenhado com os ministérios e estados – e que será lançado pelo governo federal em abril.
Lula disse que o Brasil não perderá “a oportunidade de nos tornarmos uma potência global do hidrogênio verde”. E citou a intenção de contratar mais capacidade eólica e solar.
“Transição energética será acelerada. Vamos lançar editais para contratação de energia solar e eólica. Somadas, elas representação capacidade de geração equivalente às nossas maiores usinas hidroelétricas. E os leilões para novas linhas de transmissão irão tornar ainda mais rápida e atrativa a implantação desses parques de energia limpa”, disse.
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