RIO – A Hytron, única empresa que produz eletrolisadores no Brasil, defende uma política de incentivos que priorize a indústria nacional em projetos de hidrogênio renovável, que pode ser produzido a partir da eletrólise da água com energia de fontes como solar e eólica, ou rotas que utilizam biomassa e biocombustíveis, como etanol.
Daniel Lopes, sócio e diretor comercial da companhia – que foi adquirida em 2020 pelo grupo alemão Neuman & Esser –, aponta que o Brasil está em posição única para desenvolver uma cadeia produtiva nacional no setor de hidrogênio.
“O ideal é que de fato os incentivos fiscais, e a retribuição que o governo está dando em todos esses programas, fossem atrelados ao conteúdo local”, afirma o executivo em entrevista à agência eixos.
A discussão ganha relevância no contexto da consulta pública promovida pelo Ministério da Fazenda para regulamentar os subsídios previstos pelo marco legal do hidrogênio, que deverão disponibilizar mais de R$ 20 bilhões em incentivos entre 2028 e 2032.
As novas leis, que estruturam o Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (Rehidro) e o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC), visam estabelecer critérios que incluem a exigência de um percentual mínimo de equipamentos e serviços de origem nacional nos projetos.
Lopes defende a priorização da indústria nacional de equipamentos nos projetos incentivados. Para ele, essa estratégia é essencial para fortalecer a cadeia produtiva brasileira e promover a independência tecnológica do país na corrida global pelo hidrogênio verde.
“Sem dúvida, essa é uma excelente oportunidade para nós”, diz Lopes.
Ele explica que é preciso aprender com a experiência de outras tecnologias, como a solar fotovoltaica, que tem a produção concentrada na China, dificultando a concorrência. No caso do hidrogênio, como a corrida “está só começando”, ainda há tempo para o Brasil estruturar uma cadeia competitiva, acredita o executivo.
A China, líder global em painéis solares e baterias de íon-lítio, detém cerca de 60% da capacidade mundial de fabricação de eletrolisadores.
Brasil tem condições de fornecer equipamentos
Lopes afirma que as instalações da Neuman & Esser em Belo Horizonte (MG) e Campinas (SP) já colocam o país em condições de fornecer equipamentos no padrão internacional.
“Nós já estamos com fábricas no Brasil fornecendo equipamentos com engenharia nacional e tudo mais”.
Em 2022, o grupo alemão assinou um protocolo de intenções com o governo de Minas Gerais para investir até R$ 45 milhões na fabricação de equipamentos de geração de hidrogênio verde no estado.
Segundo Lopes, a fábrica de Belo Horizonte passará a produzir cerca de 70 a 100 megawatts por ano a partir de novembro, representando um incremento significativo para atender à demanda crescente no setor.
O executivo acredita que, para que o Brasil se posicione de forma competitiva e atinja o “adensamento da cadeia de valor”, os incentivos deveriam ser atrelados ao conteúdo local, garantindo que os subsídios promovam a fabricação dentro do país.
“Se as demandas que forem impulsionadas pelo Brasil considerarem um conteúdo local para poder acessar os incentivos, isso vai fazer com que a cadeia de valor se adense no Brasil”, defende.
Ele acrescenta que, ao atrair investimentos estrangeiros de grandes projetos de produção de hidrogênio que utilizem tecnologia nacional, o país se coloca em um papel de protagonista no desenvolvimento sustentável da indústria de hidrogênio.
E reforça que a indústria nacional também pode se beneficiar com estímulos à instalação de fabricantes internacionais de eletrolisadores no país, desde que a legislação e a regulação fortaleçam o papel da indústria local no fornecimento de componentes essenciais.
“Se você quer fornecer eletrolisador e quer ter subsídio, que venha fazer isso aqui no Brasil. Não estou dizendo que temos que ser os únicos fabricantes, mas o que não queremos é que esses incentivos sejam dados para tecnologias externas, enquanto a indústria nacional é capaz de oferecer produtos competitivos e de alto valor agregado”.
Segundo ele, associações setoriais, como SAE e Abimaq, estão em diálogo constante como o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e o Ministério de Minas e Energia (MME), em busca de políticas públicas que assegurem a neoindustrialização e o fortalecimento da cadeia de suprimentos local.
“Têm feito um trabalho importante para reunir empresas e instituições públicas em torno de uma agenda comum”, afirma.
Participação em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia
Além dos eletrolisadores, a companhia também desenvolve equipamentos para produção de hidrogênio a partir da reforma de biogás e de etanol.
Com uma estrutura de produção modular, que permite atender a projetos de diferentes portes, a Neuman & Esser aposta em parcerias com universidades e instituições de pesquisa
Em São Paulo, a companhia fornece a tecnologia para o projeto da Shell, Raízen, Universidade de São Paulo (USP) e Senai CETIQT, de plantas dedicadas à produção de hidrogênio a partir do etanol e um posto de abastecimento para ônibus que circula na Cidade Universitária da USP.
A proposta é usar o combustível para substituir o diesel em um dos ônibus utilizados pelos estudantes no campus da USP. O veículo será equipado com a tecnologia de célula a combustível.
“Nós fazemos equipamentos para produção do hidrogênio a partir do etanol. E nós somos muito a favor do uso dos biocombustíveis para produção do hidrogênio”, disse Lopes.
Já no projeto piloto de produção de hidrogênio verde, no campus da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, inaugurado no final de outubro pela Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável da GIZ, a Neuman & Esser foi a vencedora da licitação, para fornecer o eletrolisador utilizado na planta.