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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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Relatório da BloombergNEF publicado esta semana mostra que a demanda por metais para solar, eólica, baterias e veículos elétricos quintuplicará até 2050 — um mercado potencial de US$ 10 trilhões — mas o abastecimento é limitado.
De acordo com o Transition Metals Outlook da BNEF, falta investimento, ao passo que os riscos relacionados à mineração e ao esgotamento de reservas tendem a aumentar.
“A transição energética colocou as matérias primas em evidência”, comenta Kwasi Ampofo, chefe de metais e mineração da BNEF.
Principal autor do relatório, ele explica que a transição representa uma oportunidade tanto quanto uma responsabilidade.
“A mineração responsável deve ser o pilar da extração dos recursos necessários para atender a esta demanda. A mineração é a base da transição energética, portanto, a indústria deve liderar o caminho, descarbonizando sua própria pegada”.
O risco-país continua sendo o principal obstáculo para novos projetos de mineração, uma vez que o suprimento está concentrado em poucos países.
A preocupação é com políticas que priorizam o fornecimento de minerais críticos para o mercado doméstico e a criação de impostos mais altos sobre os recursos.
Na América Latina, por exemplo, Bolívia, Argentina, Chile e México estudam uma parceria aos moldes da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para o lítio — matéria-prima essencial para as baterias de veículos elétricos.
O México também está se aliando ao Norte, com EUA e Canadá, para proteger as cadeias de suprimentos. Vale dizer que os EUA são quase que totalmente dependentes da importação de minerais críticos — e hoje a maior parte da produção está concentrada na China.
Na Europa, a Noruega espera que o acesso a matérias-primas essenciais para produção de baterias possa se tornar uma moeda de troca nas exportações para outros países do bloco.
Outra conclusão é que a transição energética levará a um declínio nos materiais utilizados nas tecnologias de geração fóssil.
Em 2050, a demanda de metais das usinas elétricas baseadas em combustíveis fósseis (carvão e gás) deve corresponder a menos de 6% da demanda total na geração de energia no cenário conservador da da BNEF.
Enquanto isso, o consumo de metais em energias renováveis e no armazenamento de baterias mais do que dobram no mesmo período.
“Apesar da perspectiva de baixa para os metais usados nas tecnologias de combustíveis fósseis, a transição energética pode levar a um super-ciclo para a indústria metalúrgica e de mineração”, defende Yuchen Huo, analista de metais e mineração da BNEF.
Necessidade de capital versus desconfiança dos investidores
Ashish Sethia, chefe global de commodities da BNEF, explica que o setor tem um triplo desafio: aumentar a oferta, manter os custos baixos e reduzir sua pegada ambiental e de carbono.
“É como ter que encontrar a resolução para um cubo mágico. Não é fácil, mas também não é impossível”.
Uma recomendação do estudo para as empresas enfrentarem o entrave da captação de financiamento é melhorar o desempenho ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).
Isso ajudaria a reduzir a desconfiança causada pela recente volatilidade do mercado e a complexidade do desenvolvimento de novas minas.
Cobrimos por aqui:
- Riscos no suprimento de recursos minerais podem dificultar transição
- Consórcio global lança primeiros modelos de passaporte de bateria
- MME avalia estímulos à produção de minerais críticos para energia
Hidrogênio na transição brasileira
O Brasil pode ter uma matriz de energia 100% limpa, defende a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva.
Em coletiva ontem (19/1), no penúltimo dia do Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês), em Davos na Suíça, Marina afirmou que o Brasil vai precisar de investimentos robustos em energia eólica, solar e de biomassa para superar a geração de combustíveis fósseis.
E citou o potencial de exportação do hidrogênio verde (H2V).
Se 2022 já foi bastante marcado por anúncios de projetos e discussões sobre a regulação para o novo energético, este ano promete ser ainda mais intenso.
Também ontem, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o Brasil entrará na economia do hidrogênio unindo o “excepcional perfil renovável” da matriz nacional com a “gigantesca capacidade de inovação e investimento” da indústria de óleo e gás.
Silveira participou da inauguração da planta piloto de hidrogênio verde da EDP Brasil no complexo portuário do Pecém (CE). O empreendimento de R$ 42 milhões deve ser concluído em junho de 2024.
O ministro prometeu, ainda, que o MME fará uma “política energética ambiciosa” para desenvolver a economia do hidrogênio no Brasil.
Os anúncios de projetos não param.
Na Bahia, a Unigel anunciou na quarta (18) a ampliação de seu projeto de produção em escala industrial de hidrogênio e amônia verdes, na Bahia. O plano da companhia é investir US$ 1,5 bilhão no empreendimento até 2027.
A fábrica será construída no Polo Petroquímico de Camaçari (BA) e pretende fornecer 100 mil toneladas anuais de H2V e 600 mil toneladas/ano de amônia verde.
Já no Paraná, a Cooperação Brasil-Alemanha e a empresa alemã Mele Gruppe de Torgelow formaram uma parceria público-privada com duas cooperativas agrícolas do estado para converter o gás metano dos resíduos animais em hidrogênio verde.
As cooperativas Coopersan e Ambicoop vão utilizar estercos de porco de 332 fazendas de pecuária para produzir cerca de 275 toneladas de derivados de H2V por dia.
- A agenda ambiental e climática brasileira e os desafios internacionais O cerco está se fechando para países e empresas que não possuem políticas estruturadas e implementadas, escrevem Luciana Gil e Patrícia Mendanha
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Fechando Davos
A pouca neve nos alpes suíços — o nível de neve diminuiu em média mais de 40% desde o primeiro WEF em 1971 — deu um recado nada novo à elite mundial este ano: o tempo para agir está correndo.
Enquanto isso, uma “guerra de tecnologia limpa” se desenha, com economias preocupadas com o impacto da Lei de Redução da Inflação dos EUA, cujo pacote bilionário quer atrair novas indústrias para o país.
Esta semana, o secretário de negócios do Reino Unido, Grant Shapps, classificou o plano dos EUA de subsidiar a energia limpa como “perigoso” e sob o risco de levar o mundo ao protecionismo.
A Alemanha, por outro lado, adotou tom conciliatório: o chanceler alemão, Olaf Scholz, disse estar convencido de que uma guerra comercial pode ser evitada entre a União Europeia e os EUA.
Bem ou mal, o caso é que a semana começou com o anúncio da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de que o bloco irá apresentar uma Lei da Indústria Net Zero para financiar o desenvolvimento de tecnologias limpas até 2030.