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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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“Siga os subsídios” é uma das quatro recomendações do Boston Consulting Group (BCG) em seu estudo sobre a construção de uma economia para o hidrogênio verde, produzido a partir da eletrólise com eletricidade renovável.
A consultoria calcula que os investimentos em produção e transporte de H2 verde devem chegar até US$ 12 trilhões entre 2025 e 2050, uma “oportunidade de alta lucratividade” para investimentos focados no desenvolvimento sustentável.
Além disso, US$ 300 bilhões a US$ 700 bilhões precisam ser implantados – por governos e empresas – entre 2025 e 2030, se os países quiserem atingir suas metas líquidas de zero.
“A necessidade de capital variará em cada elo da cadeia, e as políticas econômicas regionais influenciarão significativamente as escolhas dos investidores”, diz o relatório.
Uma das estratégias recomendadas aos investidores é direcionar o capital a países e segmentos da cadeia de valor onde os formuladores de políticas anunciaram ou planejam criar incentivos monetários, o que, na visão do BCG, limitará os riscos do setor privado.
Entre os exemplos, menciona a Lei de Empregos de Investimento em Infraestrutura (IIJA) de 2021 e a Lei de Redução da Inflação (IRA) de 2022, ambas dos Estados Unidos para impulsionar o desenvolvimento de infraestrutura. E a política RepowerEU para reduzir a dependência da União Europeia de combustíveis fósseis.
- O IIJA orçou US$ 1,2 trilhão para gastos com infraestrutura e o IRA destinou US$ 400 bilhões para a criação de infraestrutura relacionada à energia.
“Antecipando os incentivos fiscais dos governos, os ativos sob gestão no setor de infraestrutura aumentaram de US$ 0,9 trilhão em 2021 para US$ 1,1 trilhão em 2022 – uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 22,2%, apenas um pouco abaixo do CAGR em ativos de 23% de 2018 a 2022”, observa o BCG.
Mudar os riscos, criar um portfólio e expandir o apetite de risco são as outras três recomendações. Relatório na íntegra (.pdf)
Em 2021, o consumo de hidrogênio foi de cerca de 94 milhões de toneladas, a maior parte atendida pelo derivado de gás natural (o cinza). Até 2050, a previsão é que a demanda pelo produto de baixo carbono aumente para algo entre 350-530 milhões de toneladas por ano (mtpa).
O salto será motivado pelo apetite de setores intensivos em energia, mais difíceis de descarbonizar, como produtos químicos básicos, aviação, produção de aço, transporte marítimo e rodoviário de longa distância.
“Esse aumento na demanda garantirá que surjam oportunidades de investimento em vários pontos ao longo da cadeia de valor, desde o desenvolvimento de matéria-prima e geração de hidrogênio até o transporte e armazenamento”, defende o BCG.
Organizando hubs
“Mudar o risco” significa investir em projetos de hidrogênio, “que podem ser complexos, arriscados e demorados”, depois de transferir ”o máximo possível dos riscos de execução para parceiros experientes”, como desenvolvedores de projetos.
Além disso, a consultoria aponta como tendência o investimento em um portfólio de projetos para criar sinergias. Isso ajudaria a melhorar o desempenho individual dos elos da cadeia.
É a ideia por trás da formação de hubs, que tentam integrar a geração de energia renovável, a produção do hidrogênio e sua aplicação na indústria, no refino, ou a exportação na forma de amônia e metanol.
Em fevereiro, a bp lançou seu cluster de hidrogênio verde na região de Valência (HyVal), na Espanha. A iniciativa público-privada pretende alcançar até 2 GW de capacidade de eletrólise até 2030 e triplicar a produção de biocombustíveis, para 650 mil toneladas por ano.
O plano é substituir o hidrogênio de gás natural pelo obtido a partir da eletrólise nas operações próprias de refino, além de fornecer o produto descarbonizado para os clientes industriais da região. Uma das aplicações previstas é na produção de combustível de aviação sustentável (SAF).
No Texas (EUA), a petroleira ExxonMobil desenvolve um projeto semelhante, só que com o H2 azul, usando gás natural e captura de carbono.
A instalação em Baytown será responsável por gerar cerca de 28,3 milhões de metros cúbicos de hidrogênio por dia — a maior planta de hidrogênio de baixo carbono do mundo, com início previsto para 2027-2028.
Como a economia do H2V está se desenhando:
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Curtas
Fundo para hidrogênio
O governo holandês divulgou um fundo climático para 2024, com aportes previstos de 28,1 bilhões de euros, dos quais 7,5 bilhões de euros serão destinados à indústria de hidrogênio verde. Cerca de 300 milhões de euros vão para importação do energético – o que pode favorecer os projetos no Porto do Pecém, no Ceará.
Financiamento com critério
O BNDES já discute internamente a possibilidade de criar linhas de financiamento para impulsionar a retomada da indústria naval do país — bandeira que é defendida pelo Planalto e conta com apoio de petistas no Congresso Nacional. Uma das diretrizes discutidas no Fundo de Marinha Mercante (FMM) é estabelecer critérios de impacto ambiental.
Eletropostos
As montadoras de luxo alemãs Audi e Porsche anunciaram esta semana uma parceria com a Raízen para investir cerca de R$ 24 milhões na instalação de 20 carregadores rápidos, prioritariamente em postos da Shell, até 2024, no programa Shell Recharge.
A parceria para ampliar a rede de eletropostos é uma estratégia de incentivo ao mercado de eletrificados, em crescimento no Brasil. Ao mesmo tempo, o interesse das montadoras de luxo sinaliza o perfil de consumidores dos carros elétricos no país.
Frete com menos carbono
O navio MV Ubuntu Loyalty da Anglo American, que utiliza GNL como combustível, realizou sua viagem inaugural atracando em território brasileiro, nesta segunda-feira (1/5). A embarcação foi recebida no terminal portuário de minério de ferro no Porto do Açu (RJ).
Segundo a mineradora, o uso do GNL proporciona uma redução estimada de 35% nas emissões de gases do efeito estufa, em comparação com as embarcações movidas a combustível marítimo convencional.