Governo reduz pela 4a vez mistura obrigatória de biodiesel para B10

Novamente, preço do óleo de soja foi fator determinante para redução

Governo reduz pela 4a vez mistura obrigatória de biodiesel para B10
Reunião do CNPE em 6/10 define redução da mistura de biodiesel para 10% e reafirma calendário para fim dos leilões (foto por MME)

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O governo federal decidiu reduzir a mistura de biodiesel no diesel para 10% (B10). Com a decisão tomada nesta segunda (6), será a quarta redução do ano, representando oito dos 12 meses em que estava previsto o B13.

A decisão foi tomada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão que reúne o Ministério de Minas e Energia (MME), diversos ministérios, incluindo a Casa Civil da Presidência da República.

A decisão é válida para o 82ª leilão de biodiesel (L82), para abastecimento ao mercado em novembro e dezembro. O B13, previsto para 2021, vigorou apenas no leilão para atendimento aos meses de março e abril. De maio a agosto, o governo reduziu para 10%; em setembro e outubro a mistura subiu para 12% (B12).

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“Todavia, verifica-se durante o ano de 2021 que o mercado mundial continua com forte demanda pela soja, elevando o preço da commodity no cenário internacional. No mercado doméstico, o preço da soja é também impulsionado pela desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar”, diz o CNPE, em nota.

O governo afirma também que a medida foi tomada porque 71% do biodiesel brasileiro é feito de óleo de soja e que a medida é temporária.

“Verifica-se a necessidade de adoção de medida temporária de redução do teor de biodiesel devido à potenciais impactos para o consumidor brasileiro e reflexos em inúmeros setores (transporte público e de mercadorias) e atividades (agrícola e geração de energia, por exemplo)”, diz.

A decisão é “o maior retrocesso já aplicado à Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), que estabelecia em lei a aplicação de B13 desde março. A ser adotada em novembro e dezembro deste ano, a medida penaliza fortemente o setor, que a considera injustificada sob qualquer ponto de vista”, afirma a Aprobio, uma das associações que representa o setor.

“A redução do percentual também não se justifica porque a soja nos últimos dias tem sofrido redução de preço e a tendência é baixar ainda mais diante da possível antecipação da produção do Mato Grosso. Além disso, o preço do óleo de soja, nossa principal matéria prima, também está em queda no mercado internacional”, afirma a Ubrabio, que também representa produtores.

Parlamentares tentaram evitar a medida. A Frente do Biodiesel, liderada pelo deputado federal Pedro Lupion (DEM/PR) se reuniu com os ministros Tereza Cristina (Agricultura e Pecuária), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Joaquim Álvaro Leite (Meio Ambiente) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) ao longo da semana passada.

“É importante que as principais entidades sejam ouvidas pelos nossos ministros, para que o governo compreenda o impacto que uma decisão como essa pode causar ao setor produtivo, principalmente o agropecuário”, disse Lupion, antes da decisão desta segunda (6).

Os agentes foram havia sido avisados que o governo pretendia reduzir o mandato.

Em “nota de repúdio” publicada hoje, Lupion afirma que “a nova porcentagem estabelecida pode resultar na redução de 102 mil postos de trabalho, perdas de R$ 550 milhões na massa salarial, redução de R$ 1,7 bilhões em massa salarial e R$ 320 milhões em arrecadação de tributos e queda de R$ 14 bilhões no PIB”.

“Ou seja, prejuízo amplo na cadeia produtiva que emprega mais de 1,5 milhão de pessoas e que já investiu mais de R$ 9 bilhões no país”, diz.

“A medida afasta o país dos compromissos de descarbonização e gera elevada insegurança ao mercado quanto aos compromissos de gestão com uma política de estado”, afirma a Aprobio.

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Leilão de biodiesel perto do fim

Em medida que desagrada os produtores de biodiesel é o fim dos leilões regulados pela ANP. O Ministério de Minas e Energia (MME) reforçou que o prazo previsto para a transição, em janeiro de 2022, está mantido.

Segundo o CNPE, caberá a ANP publicar a resolução do novo modelo de comercialização direta em outubro.

A proposta prevê um limite mínimo de comercialização de 2 mil m³ de combustíveis para definir quais empresas serão obrigadas a vender e comprar biodiesel para atendimento a mistura obrigatória.

Pelo cronograma atual do CNPE, apesar das mudanças constantes de 2020 para cá, a previsão é de entrada em vigor do B14 em 2022 e do B15 em 2023.

Em agosto, o Comitê Nacional de Secretários da Fazenda (Comsefaz) se posicionou contra o prazo de janeiro de 2022, alegando que não teria tempo hábil para alterar a cobrança de ICMS nos estados sobre a comercialização de biodiesel.

O MME negou a extensão de prazo; afirma que houve tempo suficiente para a adequação, que vem sendo discutida desde 2020.

“A proposta visa tornar o modelo mais aderente ao novo cenário downstream, mais aberto e mais dinâmico, permitindo, entre outros aspectos, o estabelecimento de contratos de longo prazo, dando maior previsibilidade ao mercado e beneficiando produtores, distribuidores e consumidores”, diz o CNPE.

“A discussão segue por parte do governo de forma a cumprir prazo, mas sem perspectiva de solução para diversas questões, principalmente as tributárias. A APROBIO entende que essa condução é temerária em ambiente de tanta instabilidade e insegurança jurídica causada pela redução da mistura”, diz a associação.

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