Combustíveis e Bioenergia

Gasolina mais barata gera voto? Como queda dos preços afeta Bolsonaro nas pesquisas eleitorais

Petrobras anuncia 3ª redução dos preços do combustível em 50 dias

Como gasolina mais barata afeta (ou não) Bolsonaro [na foto] nas eleições
Ganhos eleitorais de Jair Bolsonaro com queda do preço da gasolina já foram capturados, em sua maior parte, indica pesquisa (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

RIO — A Petrobras anunciou nesta segunda-feira (15/8) uma nova redução — dessa vez de 4,8%, ou 18 centavos — no preço da gasolina vendida às distribuidoras. A baixa, a terceira promovida em quase 50 dias da gestão de Caio Paes de Andrade à frente da estatal, tende a reforçar uma tendência de queda dos preços do combustível para o consumidor — um dos principais trunfos de Jair Bolsonaro (PL) em suas pretensões de se reeleger.

A pesquisa eleitoral BTG/FSB mais recente, divulgada também nesta segunda, sugere, no entanto, que o presidente da República pode não ter mais tanto espaço para se capitalizar mais, eleitoralmente, com a queda recente dos preços dos combustíveis.

De acordo com dados da Triad Research, empresa de pesquisa de mercado, o preço médio da gasolina, no Brasil, recuou cerca de R$ 1,65 o litro, de 1º de julho a 14 de agosto — quando o preço médio atingiu o patamar de R$ 5,564, o menor desde 3 de maio, em valores nominais (sem correção da inflação).

O que dizem os resultados da pesquisa BTG/FSB:

  • A percepção da redução do preço dos combustíveis se sedimentou em 2/3 do eleitorado: 64% dos entrevistados dizem que os preços estão menores quando comparados à situação de um mês atrás. Na pesquisa anterior, de 8 de agosto, esse percentual era de 63% e, em 25 de julho, de 54%;
  • O governo federal é reconhecido como o principal responsável pela redução dos preços. Assim enxergam 38% dos entrevistados. Entre os eleitores de Bolsonaro, essa fatia é de 58%, enquanto entre os eleitores de Lula (PT) esse percentual é de 27% — praticamente empatado com a Petrobras (28%);
  • Mas não houve aumento da fatia que enxerga em Bolsonaro a paternidade da redução dos preços: o governo federal foi apontado como principal responsável pela redução no preço dos combustíveis por 38% dos entrevistados, ante os 42% da sondagem anterior. O número voltou aos patamares da amostra de 25 de julho.

“O presidente Jair Bolsonaro parece que já realizou ao máximo o retorno eleitoral da medida de redução do preço dos combustíveis. A estabilidade dos seus números eleitorais e do reconhecimento da assinatura do Governo Federal pelo anúncio são os principais indicativos disso”, avalia o diretor do Instituto FSB Pesquisa, André Jácomo.

A pesquisa quantitativa foi realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, por telefone, entre 12 e 14 de agosto. Foram entrevistados 2 mil eleitores. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

A pesquisa do Instituto FSB, encomendada pelo banco BTG Pactual, aponta Lula com 45% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 34%. A diferença, de 11 pontos porcentuais, mostra a retomada do fôlego da candidatura petista — que, na pesquisa da semana passada, registrou a menor diferença até então entre os dois candidatos, de 7 pontos percentuais.

Já a pesquisa do Ipec, divulgada na noite de segunda, mostrou que Lula (PT) lidera a corrida eleitoral com 44% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 32% das intenções. Ao todo, foram entrevistadas 2 mil pessoas, entre 12 e 14 de agosto – período posterior ao início do pagamento dos novos valores do Auxílio Brasil e vale-gás e do auxílio-caminhoneiro.

As bases da queda dos preços

A queda recente dos preços dos combustíveis reflete, basicamente, quatro fatores:

  • a desoneração dos impostos federais da gasolina e etanol, zerados por meio da lei 194/2022;
  • a fixação do teto da alíquota de ICMS — de 17% a 18%, na maioria dos casos — sobre os combustíveis e energia elétrica, também prevista na lei 194/2022;
  • a redução da base de cálculo do ICMS pelos estados, após decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça — que determinou a cobrança do imposto sobre a média móvel de 60 meses para o diesel, gasolina e GLP;
  • e a redução dos preços da Petrobras nas refinarias: de 13% na gasolina e de 7,3% no diesel, desde a posse de Paes de Andrade na presidência da companhia, no fim de junho.

Desses quatro fatores, dois deles — a desoneração dos impostos federais e a redução da base de cálculo do ICMS — são temporárias, com validade até o fim do ano e do atual mandato de Bolsonaro.

Além disso, os estados questionam, no STF, as bases da desoneração: as leis complementares nº 192/2022 (monofasia) e nº 194/2022 (teto do ICMS). A negociação das controvérsias, porém, deve se estender para além das eleições.

Preço da gasolina, no Brasil, já é menor que o da média mundial

Na tentativa de se capitalizar politicamente com a queda dos preços, Bolsonaro reafirmou, nesta segunda, nas redes sociais, que o Brasil, brevemente, terá “uma das ‘gasolinas’ mais baratas do mundo”.

De fato, o preço pago pelo consumidor brasileiro pela gasolina já é, hoje, mais baixo que a média mundial. O diesel, por outro lado, é mais caro que a média global.

De acordo com dados do Global Petrol Prices, site de pesquisa de mercado, o Brasil ocupa a 51ª posição no ranking da gasolina mais barata, entre os 169 mercados monitorados.

O levantamento do Global Petrol Prices mostra que o litro da gasolina no Brasil, em dólar, custa na média US$ 1,149 — patamar 17,3% abaixo da média mundial.

Para entrar no TOP 20, contudo, o preço médio da gasolina, no Brasil, precisará cair pela metade praticamente — uma realidade que parece, hoje, distante.

Já o litro do diesel é negociado, no mercado doméstico, a US$ 1,451, valor 6,7% maior  que a média dos demais países. Nesse caso, o Brasil tem o 91º diesel mais barato do mundo, situado praticamente no meio da tabela.

Os dados mais recentes da Global Petrol Prices são de 8 de agosto e ainda não refletem, na íntegra, os efeitos das recentes baixas da Petrobras no diesel.

Os números, vale lembrar, não incluem a paridade de poder de compra, ou seja, não refletem os diferentes custos de vida nos países.

Ao anunciar a nova redução de preços, nas refinarias, a Petrobras informou que, a partir de terça-feira (16/8), o preço médio de venda de gasolina vendida pela empresa às distribuidoras passará de R$ 3,71 para R$ 3,53 por litro.

Segundo a estatal, considerada a mistura obrigatória de 73% de gasolina e 27% de etanol anidro na composição do produto comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 2,70, em média, para R$ 2,57 a cada litro vendido na bomba.

A redução, cita a empresa, “acompanha a evolução dos preços de referência e é coerente com a prática de preços da Petrobras, que busca o equilíbrio dos seus preços com o mercado global”.

A Abicom, representante dos importadores privados, estima que a Petrobras havia fechado o dia, na sexta, praticando preços entre 6 a 39 centavos acima da paridade de importação — a depender do ponto de suprimento. No caso do diesel, essa diferença é de 22 a 35 centavos, dependendo da região.