JUIZ DE FORA — A YPF e a italiana Eni assinaram nesta segunda-feira (14/4) um memorando de entendimento (MoU) para viabilizar a instalação de duas unidades de liquefação de gás natural com capacidade conjunta de 12 milhões de toneladas por ano na Argentina com os recursos de Vaca Muerta. O projeto contempla também a etapa de produção e transporte do gás.
A iniciativa busca destravar a exportação de gás argentino, atualmente limitada à malha de gasodutos, com destaque para o mercado brasileiro. Com a nova estrutura, conforme noticiou a MegaWhat, a Argentina pretende acessar o mercado global de gás natural liquefeito (GNL) e monetizar os volumes excedentes de Vaca Muerta, uma das maiores reservas não convencionais do mundo.
A planta seria a primeira do tipo no país e potencial de exportação é estimado em 30 milhões de toneladas por ano. Atualmente, o país não conta com infraestrutura de liquefação e depende de gasodutos, com o Brasil como destino potencial.
A YPF já firmou acordos semelhantes com outras empresas, como a Shell e grupos da Índia.
No início de abril de 2024, uma operação-piloto viabilizou o envio de gás da Argentina ao Brasil, via Bolívia. O fornecimento foi feito por meio da YPFB, estatal boliviana, em parceria com a Matrix Energia e a TotalEnergies, em regime interruptível.
O avanço do projeto depende da superação de entraves logísticos, considerados hoje o principal obstáculo à competitividade do gás argentino no exterior.
Apesar da iniciativa, especialistas apontam que o fornecimento regular em larga escala ainda esbarra em limitações. Falta infraestrutura do lado argentino e as taxas cobradas tanto pela Argentina quanto pela Bolívia reduzem a competitividade do gás até chegar ao Brasil, afirmou à MegaWhat a presidente da Transportadora Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), Angélica Laureano.
Shell se une à YPF por projeto de GNL
A assinatura do acordo com a Eni, nesta segunda (14), ocorre em meio a uma reestruturação dos ativos de gás em Vaca Muerta. Em dezembro do ano passado, a ExxonMobil concluiu a venda de sua subsidiária na Argentina para a Pluspetrol e transferiu, em separado, sua participação no bloco Sierra Chata para a própria YPF, que agora detém 54% da concessão, em sociedade com a Pampa Energía, atual operadora do bloco.
Sierra Chata é, segundo a YPF, um dos ativos de gás de maior potencial em Vaca Muerta e contribuirá para a estratégia da estatal argentina de focar na região e fortalecer seu portfólio em gás, especialmente diante da decisão da companhia de investir no projeto de liquefação Argentina LNG, em Sierra Grande.
Em dezembro de 2024, a estatal argentina assinou também um acordo com a Shell para desenvolvimento do projeto. A multinacional anglo-holandesa, uma das líderes do mercado global de GNL e que também produz óleo e gás na Bacia de Neuquén, comprometeu-se a avançar com a primeira fase da planta de liquefação, com capacidade de 10 milhões de toneladas por ano.
A parceria com a Shell encerra a participação da Petronas como sócia da YPF no projeto de exportação.
A movimentação ocorreu paralelamente à entrada da Pluspetrol como nova acionista no projeto de infraestrutura Vaca Muerta Sur, liderado pela YPF, com a construção de um oleoduto de 437 km voltado ao escoamento de petróleo. A obra deve entrar em operação em 2027 e expandir a capacidade de exportação do país.
A Pluspetrol, que agora opera blocos como Bajo del Choique-La Invernada e Los Toldos, também mira o mercado brasileiro. A empresa possui autorização para exportar até 2 milhões de m³/dia de gás à modalidade interruptível até 2027 e projeta aumentar sua produção local de 10 milhões para 15 milhões de m³/dia em 2025.
Integração com a Argentina avança por rota via Bolívia
O projeto de exportação do gás argentino começa a se concretizar com as primeiras operações de comercializadoras brasileiras. Ontem (15/4), a Edge realizou sua primeira importação de gás da Argentina, como teste, via Bolívia, em parceria com a Tecpetrol, conforme noticiado com exclusividade pela agência eixos.
A carga, proveniente da Bacia Noroeste, foi transportada com apoio da YPFB, que lançou recentemente um serviço de trânsito internacional para escoar gás argentino ao Brasil. A tarifa cobrada ficou abaixo das expectativas iniciais de mercado, segundo a Edge.
A operação marca um movimento de diversificação da empresa, braço comercial da Compass, que tradicionalmente atua a partir do Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP), mas agora busca ampliar fontes de suprimento com gás da Bolívia, do pré-sal e, mais recentemente, da Argentina.
A Edge possui acordos interruptíveis com três supridores argentinos: Tecpetrol, Pan American Energy (PAE) e TotalEnergies. As autorizações envolvem até 500 mil m³/dia da Bacia Noroeste e até 1 milhão de m³/dia da Bacia Neuquén, a preços que variam entre US$ 7,1 e US$ 7,5 o milhão de BTU, considerando o Brent a US$ 80.
A Tecpetrol, fornecedora da operação, produz cerca de 25 milhões de m³/dia no país vizinho e controla o campo de Fortín de Piedra, principal polo de gás não convencional da Argentina, em Vaca Muerta. A empresa vê no Brasil um destino estratégico para os excedentes sazonais do gás argentino e aposta na ampliação da malha de transporte para expandir as exportações regionais.
A Matrix Energy (via MTX Comercializadora de Gás Natural) já havia realizado, no dia 1º de abril, a primeira operação de importação de gás argentino para o Brasil, utilizando o serviço de trânsito internacional da YPFB. A entrega marcou a estreia da rota boliviana para escoamento do gás argentino ao mercado brasileiro.
O fornecimento foi feito pela TotalEnergies, por meio das subsidiárias Total Austral e TotalEnergies Gas Cono Sur.