BRASÍLIA e RIO — Problemas operacionais na plataforma de Mexilhão, cuja produção é enviada pela Rota 1 até a unidade de processamento de Caraguatatuba (UTGCA/SP), forçaram a Petrobras a mudar o fluxo de escoamento de parte do gás natural do pré-sal para o Rio de Janeiro e movimentaram o mercado de curto prazo nos últimos dias.
Conforme antecipado pelo eixos pro (conheça o serviço de cobertura exclusiva), o corte na oferta mobilizou comercializadoras e sócios da estatal no sistema de escoamento – que tiveram de se lançar numa corrida por contratos spot para cobrir compromissos de entrega e evitar, assim, problemas de suprimento, relataram fontes do mercado.
Ao menos um dos sócios da Petrobras em campos do pré-sal encontrou dificuldades para atender aos contratos. A situação foi regularizada.
O gargalo ocorreu em razão de uma combinação de restrições planejadas e não plenejadas no sistema de escoamento: as manutenções previstas nas rotas 2 (Cabiúnas/RJ) e 3 (Boaventura/RJ) e uma parada não-programada na Rota 1, que escoa tanto o gás do pós-sal (incluindo Mexilhão) quanto do pré-sal (como Tupi, o maior campo produtor do país).
Nessas situações, a Petrobras programa ofertas alternativas de gás para evitar oscilações no mercado, como ocorre nos próprios casos de manutenção preventiva na plataforma de Mexilhão. Não contava, porém, com os imprevistos na Rota 1.
Procurada, a companhia não respondeu até o fechamento da edição. O espaço segue aberto.
Problemas no Rota 1 são frequentes
O caso acendeu um alerta no mercado sobre a confiabilidade da infraestrutura de escoamento do gás do pré-sal, em parte minimizado pelo Rota 3 — que entrou em operação no fim do ano passado.
É normal que uma nova rota apresente instabilidades operacionais e não há sinais de problemas estruturais no escoamento para Itaboraí (RJ), segundo fontes.
Mexilhão-UTGCA, primeira grande rota do pré-sal, por sua vez, tem apresentado restrições na oferta de gás de forma frequente, relatam agentes do mercado.
A UTGCA tem capacidade para processar até 20 milhões de m³/dia de gás natural.
A unidade é também uma fonte de gás liquefeito de petróleo (GLP), escoado por meio do oleoduto Caraguatatuba-Vale do Paraíba (Ocvap I); e condensado (C5+), processado na Revap, em São José dos Campos (SP).
Em 2020, a Petrobras cancelou os planos de investimento na modernização da UTGCA.
A unidade de processamento vem operando, desde 2020, sob autorizações especiais da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que flexibilizaram a especificação do gás processado na UPGN.
Fruto da mudança no perfil de produção da estatal. Projetada originalmente para o gás do pós-sal da Bacia de Santos, a unidade passou a processar com o tempo mais gás do pré-sal, com composição diferente.
A autorização mais recente foi concedida em fevereiro. O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) calcula que devido a flexibilização do teor de metano, o ganho de oferta de gás com a autorização, nesses quase cinco anos, foi de cerca de 5 milhões de m³/dia — além de 35,8 mil m³ de GLP.
UTGCA no radar do planejamento estatal
Os investimentos na infraestrutura de gás natural são um tema prioritário do novo Comitê de Monitoramento do Setor de Gás Natural, previsto para estrear neste primeiro semestre.
E a expectativa é que o gás de Caraguatatuba seja um dos primeiros focos de atenção do novo Plano Nacional Integrado das Infraestruturas de Gás Natural e Biometano, sob responsabilidade da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
A estatal espera lançar nesta terça (18/3) a consulta pública da metodologia do plano, cuja primeira edição deve ser publicada em setembro.
Existe hoje um dilema entre o investimento ótimo no sistema: se a modernização da UTGCA ou o Corredor Pré-Sal, projeto da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) também chamado de Debottleneck.
O declínio da oferta de gás processado na UTGCA é uma das teses da NTS para investimento no projeto Corredor Pré-sal. A transportadora espera que a mudança nos ritos de outorgas trazida pelo novo decreto da Lei do Gás destrave seus investimentos.
A estação de compressão de Japeri é o primeiro passo e permitirá aumentar o fluxo de gás entre Rio e São Paulo dos atuais 12 milhões de m3/dia para 20 milhões de m3/dia.
A NTS está propondo ao mercado o faseamento do projeto Corredor Pré-sal. A ideia é distribuir o investimento em três fases a partir da construção da Ecomp Japeri e, com isso, diluir o seu impacto tarifário (uma preocupação externada pelos usuários) e mitigar incertezas referentes ao projeto, da ordem de R$ 7,8 bilhões.
No plano indicativo de gasodutos de transporte, publicado em fevereiro, a EPE sinaliza que o investimento deverá ser avaliado no plano integrado a partir de um olhar sistêmico sobre a infraestrutura de gás como um todo.
O plano indicativo cita que será importante avaliar os custos da adequação da UPGN de Caraguatatuba em relação aos custos de ampliação dos gasodutos prevista no projeto da NTS, “de forma a se indicar a melhor opção para o sistema de gás natural como um todo”.
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- Nova Transportadora do Sudeste (NTS)
- Oferta de gás
- Petrobras
- Plano Nacional Integrado das Infraestruturas de Gás Natural e Biometano
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