RIO — A Tecpetrol, produtora de óleo e gás do Grupo Techint, estima que o preço do gás natural argentino conseguirá chegar ao Brasil, no início do ano que vem, 19% mais barato do que o valor praticado nas primeiras operações de teste, em abril deste ano.
O ganho de competitividade virá, sobretudo, da redução do preço mínimo de exportação exigido pelo governo argentino, na Bacia de Neuquén, onde estão as reservas de gás não-convencional de Vaca Muerta.
Com isso, a expectativa, segundo a Tecpetrol, é que a molécula argentina chegue na fronteira com o Brasil a US$ 6,8 o milhão de BTU – o equivalente a 9,8% do preço do Brent.
A companhia se prepara para novas exportações para o Brasil, em regime interruptível, no verão – quando o país vizinho tem excedentes para comercializar.
O diretor-geral da Transportadora Gas del Norte (TGN), Daniel Ridelener, cita que, neste primeiro momento de integração energética entre os países, sem novos investimentos estruturais, a capacidade de exportação da Argentina ao Brasil, via Bolívia, no verão, limita-se a uma faixa de 4 milhões a 4,5 milhões de m³/dia.
Tecpetrol busca contratos de longo prazo
Ao mesmo tempo, a Tecpetrol tem se aproximado do mercado brasileiro, em busca de clientes dispostos a fechar contratos firmes de longo prazo para ancorar novos investimentos em infraestrutura na Argentina – e, assim, aumentar a capacidade de envio do gás de Vaca Muerta ao Brasil.
A expectativa da empresa é fechar esses contratos até o fim de 2026, para que seja possível fornecer gás firme ao Brasil a partir de 2028-2029.
A Tecpetrol estima que o preço do gás argentino, firme, possa ser negociado a US$ 5,5 e US$ 6 o milhão de BTU na fronteira entre Argentina e Bolívia.
Para que sua molécula ganhe mais competitividade, a companhia destaca que será preciso reduzir os custos de transporte cobrados pela Bolívia e no mercado brasileiro.
O vice-presidente comercial da Tecpetrol, Leopoldo Macchia, conta que, na venda de gás interruptível, o gás argentino consegue se manter competitivo, mesmo com a cobrança da tarifa de trânsito internacional da Bolívia, de US$ 1,4 o milhão de BTU.
“Mas depois será necessário, para as vendas firmes, investimentos no transporte do lado argentino. E aí será necessário baixar esse custo da Bolívia, para que se possa levar a um custo mais competitivo”, disse o executivo, em encontro com jornalistas no Rio de Janeiro, na quarta-feira (6/8).
TGN quer tirar gasoduto de US$ 2 bi do papel
A Tecpetrol é acionista da TGN, que desenhou um projeto de um novo gasoduto de 750 km (Neuquén-La Carlota), estimado em US$ 2 bilhões, e que visa aumentar a capacidade de exportação do gás da Bacia de Neuquén, de olho tanto na demanda por gás do Brasil quanto do próprio mercado interno.
A TGN está concebendo o gasoduto com uma capacidade incremental de 20 milhões de m³/dia, sendo a metade disso destinada ao mercado brasileiro.
Daniel Ridelener conta, no entanto, que o projeto pode ser redimensionado, a depender da demanda, para uma capacidade de 10 milhões a 15 milhões de m³/dia.
Junto com esse projeto, a transportadora também vê a necessidade de investir cerca de US$ 500 milhões na expansão do sistema atual – sobretudo a partir da instalação de estações compressoras.
Isso independe, segundo ele, se a rota de exportação se der por Bolívia ou outra – como o gasoduto pelo Chaco Paraguaio ou Uruguaiana (RS).
Tecpetrol vê potencial para aumentar produção
A Tecpetrol é operadora do maior campo de shale gas argentino: o Fortín de Piedra, localizado na Bacia de Neuquén.
O ativo produz, hoje, cerca de 24,6 milhões de m³/dia, mas tem potencial para produzir 40 milhões de m³/dia por cerca de 20 anos.
“O que falta é demanda e é por isso que estamos tentando desenvolver mercado no Brasil e projetos de gás natural liquefeito (GNL)”, comentou Macchia.
A produtora argentina tem acordos de fornecimento assinados com a Edge, Eneva, MGás e Tradener, no Brasil.
A companhia anunciou em abril a sua primeira exportação de gás ao Brasil, em regime de testes.
- A produtora argentina enviou gás à Edge, comercializadora do grupo Compass, com gás oriundo da Bacia Noroeste;
- e depois à MGás (joint venture entre o grupo J&F e a Inner Grow).
A expectativa é que, no verão, a partir de outubro deste ano, até abril de 2026, a janela de exportação de gás argentino ao Brasil volte a se abrir, na modalidade interruptível.