RIO – A demanda do Brasil vai viabilizar os investimentos necessários para a conexão dos gasodutos de transporte para a importação do gás natural da Argentina, disse o ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira (PSD), em coletiva de imprensa durante a Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (18/11).
“Nós estamos discutindo gasoduto de transporte, não gasoduto de distribuição. Então, o gasoduto de transporte é viabilizado pelo demandante, por quem faz a compra. Como nós temos demanda – e muita demanda – para produção, principalmente, de [fertilizante] nitrogenado, o Brasil vai viabilizar”, disse o ministro.
Com a mudança de governo, Brasil e Argentina chegaram a tratar do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) para obras no país, à época comandado por Alberto Fernández, aliado de Lula (PT).
“Se há interesse dos empresários, do governo e temos um banco de desenvolvimento para isso, eu quero dizer que nós vamos criar as condições para fazer o financiamento, [o] que a gente puder fazer para ajudar o gasoduto argentino”, disse Lula em janeiro de 2023, ao visitar o então então presidente da Argentina.
A possibilidade de o BNDES entrar nos projetos estudados em conjunto com a argentina não foi mencionada pelo ministro na coletiva desta segunda (18/11).
O acordo com a Argentina, por sua vez, saiu mesmo diante do fato de Javier Milei ter criticado seu colega brasileiro e ser ideologicamente contrário ao governo brasileiro. Lula recebeu Milei no G20 e o argentino decidiu assinar a declaração da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Do contrário, Milei ficaria isolado na cúpula do Rio. O governo argentino manifestou, contudo, uma lista de contrariedades à declaração conjunta.
Estudos iniciais avaliaram viabilidade de rotas
Silveira assinou um memorando de entendimento com o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, para a criação do grupo de trabalho que vai estudar as alternativas para viabilizar a chegada do gás natural da região de Vaca Muerta ao Brasil.
A análise inclui as rotas logísticas e a expansão da infraestrutura necessária para a movimentação de 2 milhões a 3 milhões de metros cúbicos por dia no curto prazo. A previsão é que o volume chegue a 10 milhões de m³/dia em três anos e a 30 milhões de m³/dia até 2030.
Há cinco rotas em estudo para a importação, segundo o Ministério de Minas e Energia, e que passam a compor a análise de viabilidade do grupo criado pelo MoU. Os resultados serão apresentados em 18 meses, prazo prorrogável por igual período.
- Pela Bolívia, por meio do Gasbol. É a rota de curto prazo que poderia aproveitar a infraestrutura existente nos três países;
- A interligação a partir do Rio Grande do Sul, a partir da fronteira entre a Argentina e a de Uruguaiana. Seria necessário tirar do papel a conexão Uruguaiana e Porto Alegre.
- Nova rota pelo Paraguai, com a construção de um novo gasoduto pelo Chaco Paraguaio;
- Nova rota pelo Uruguai até o Rio Grande do Sul;
- E a importação por navios, de gás natural liquefeito (GNL);
Segundo Silveira, já há pré-estudos sobre os valores necessários para todas as rotas, com exceção da que passa pelo Chaco Paraguaio. “Essa é a rota mais curta e já entra no centro consumidor, que é pelo Mato Grosso do Sul”, afirmou.
Fertilizantes e disputa na fronteira pela chegada do gás
O ministro afirmou que os governadores do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), estão interessados na entrada do gás argentino pelos estados. O governo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), também disputa a rota argentina, agenda que incluiu uma viagem ao país em 2023.
Questionado a respeito das controvérsias associadas à importação de gás natural produzido por meio de técnicas de fraturamento hidráulico (fracking), Silveira lembrou que o Brasil já importa dos Estados Unidos, que também produz por meio dessa técnica. Voltou também a defender estudos sobre o uso do fracking no Brasil.
“Eu ainda defendo que a gente deve ter, sim, estudos sobre a exploração de gás de fracking em qualquer parte do mundo, até que a gente faça a transição energética de forma segura”, afirmou.
Também presente na coletiva de imprensa, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro (PSD), afirmou que o acordo para a importação do gás argentino ajuda o país a avançar na redução da dependência da importação de fertilizantes.
“Comprar gás nos preços pactuados com Vaca Muerta é a garantia, também, de produção de alimentos, de combate à fome, preços justos, controle inflacionário”, defendeu.
“A dependência extrema de fertilizantes importados levava o Brasil a um risco muito grande na sua potencialidade de produzir alimentos. Então, foi um grande momento esse hoje de dar sinalização ao mercado de políticas de produção de fertilizantes que saem do discurso e voltam para a realidade do Brasil”, disse