A Petrobras espera iniciar as operações do projeto de Sergipe Águas Profundas somente a partir de 2030, confirmou a estatal em seu novo Plano de Negócios 2025-2029.
A previsão do planejamento anterior era começar a produzir óleo e gás em SEAP em 2028, mas a companhia já vinha indicando que não conseguiria mais cumprir o prazo.
O projeto prevê uma produção de 240 mil barris/dia de petróleo, por meio de duas plataformas flutuantes (FPSOs); e a exportação de até 18 milhões de m³/d de gás natural a partir da construção de um gasoduto de escoamento até a costa.
Sergipe é a principal nova fronteira de produção de gás do país. A ampliação da produção nacional, segundo a petroleira, é o próximo passo para que o mercado tenha preços mais competitivos.
Em meio às discussões no Senado sobre a criação de um programa de gas release, para reduzir a concentração de mercado da Petrobras, a estatal tem recorrido ao investimento previsto em SEAP como argumento para deixar o gás doméstico produzido pela companhia de fora da iniciativa.
Licitação de plataformas em breve
A ideia da companhia é lançar a licitação das plataformas de SEAP em dezembro.
A Petrobras prevê que um primeiro FPSO entre em operação em 2030. O cronograma da segunda plataforma dependerá do modelo de contratação.
A empresa prevê a construção da primeira unidade de SEAP no modelo build-operate-transfer (BOT), no qual a contratada fica responsável pela construção, entrega e instalação da unidade, que depois é transferida para a operadora.
A diretora de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras, Renata Baruzzi, afirmou nesta sexta (22/11) que, da forma como a licitação está sendo desenhada, o vencedor da concorrência terá a opção de fornecer também o segundo FPSO, no mesmo modelo BOT.
Se isso se confirmar, a previsão é que a plataforma entre em operação em 2031. Caso contrário, será necessário abrir uma nova concorrência para o ativo e o segundo FPSO ficaria para 2032.
O planejamento estratégico cita, ainda, que o gasoduto de Sergipe entrará em operação a partir de 2030. Questionada sobre a data específica de entrada em operação do projeto, Baruzzi disse que a previsão é que a rota fique pronta juntamente com as plataformas.
A diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia dos Anjos, destacou que trabalhar com uma única modalidade de contratação para ambas as plataformas garantirá a antecipação do projeto e uma competitividade maior ao processo.
Originalmente, a estratégia da companhia era afretar as unidades. A opção pelo BOT ocorreu depois das dificuldades nas licitações, com preços considerados elevados.
Há três anos, a estatal enfrenta dificuldades na contratação das plataformas para o projeto. Em abril passado, lançou uma licitação que foi adiada três vezes, sem sucesso.
A dificuldade de financiamento é um dos fatores que tem atrasado a licitação das unidades. Mas os FPSOs vão poder acessar os recursos do Fundo de Marinha Mercante (FMM), no valor de R$ 8,56 bilhões para as duas plataformas.
Oferta de gás cresce
Com a recente entrada em operação do Rota 3, a estatal espera ampliar gradualmente a oferta de gás na malha integrada dos atuais 35 milhões de m3/dia para 50 milhões de m3/dia em 2026.
O próximo grande projeto de gás na carteira é Raia, operado pela Equinor na Bacia de Campos, e previsto para entrar em operação em 2028 – o que sustentará a curva crescente de disponibilidade de gás até o fim da década.
Ao todo, a Petrobras espera investir cerca de US$ 2,6 bilhões em gás e energia (sem contar o negócio de baixo carbono), entre 2025 e 2029 – um montante 16% menor que o plano anterior.
Retorno aos fertilizantes e petroquímica
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reiterou os planos da companhia de retomar investimentos em fertilizantes e petroquímica e de construir novas termelétricas dentro de uma estratégia de monetização dos volumes crescentes.
Nos fertilizantes, a estatal prevê para 2025 a aprovação final dos investimentos na UFN 3, em Três Lagoas (MS). O projeto deve entrar em operação em 2028, com uma capacidade de 3.600 toneladas/dia de ureia e 225 toneladas/dia de amônia.
Segundo Magda Chambriard, contudo, a ideia é que em meados de 2026 a empresa já “esteja fazendo alguma coisa na UFN 3”, ainda que não operando a plena carga. Ela não entrou em detalhes.
A petroleira também trabalha para retomar a operação da Ansa, de Araucária (PR), em 2025. E negocia com a Unigel o retorno das atividades das fafens de Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA), arrendadas ao grupo químico.
O diretor de Processos Industriais e Produtos, William França, disse que as partes negociam um acordo “bom e adequado” para retomar as operações o mais rápido possível.
Em paralelo, a companhia também aposta na indústria de química e petroquímica como estratégia de diversificação de portfólio, “agregando resiliência no longo prazo com produtos de baixa emissão de carbono”.
Dentre as oportunidades de negócios no segmento, a Petrobras cita a avaliação de posicionamento na Braskem; e o uso do gás processado na UPGN do Complexo de Energias Boaventura (ex-Comperj); além de unidades de FCC (Craqueamento Catalítico Fluido), para produção de Hidrocarbonetos Leves de Refinaria (HLR) e Propeno Verde.
No setor elétrico, a companhia mira a recontratação de seu atual parque de geração a gás, de 4,9 GW, e cujos contratos venceram ou estão por vencer nos próximos anos.
E projeta mais duas termelétricas no Complexo Boaventura. A contratação das usinas, existentes ou novas, depende, porém, do sucesso nos próximos leilões de reserva de capacidade. A primeira das novas térmicas está prevista para 2028.
O futuro do gás, segundo a Petrobras
Dentro de uma perspectiva de longo prazo, a estatal acredita que a matriz energética brasileira continuará sendo mais renovável do que a matriz global; e que a participação do gás natural na matriz será mantida em 8% até 2050.
A petroleira prevê um aumento gradual da inserção do gás na matriz energética do setor de transporte pesado nas próximas décadas. A estatal, no entanto, aposta num crescimento maior do diesel e do coprocessado, em substituição ao diesel – que se manterá predominante no setor.
Entre os veículos leves, por sua vez, a tendência é que o gás natural perca espaço para a eletrificação da frota.A Petrobras também aposta no crescimento do biometano nos próximos anos, com a implementação do programa de incentivo ao gás renovável previsto no Combustível do Futuro.
A ideia da companhia é integrar o biometano à descarbonização de suas operações, para cumprimento do mandato a partir de 2026.
A petroleira espera investir nos próximos cinco anos cerca de US$ 600 milhões em biometano e biodiesel.