Caminhões a gás

Com aporte da Perfin, VirtuGNL acelera expansão e mira verticalização com investimento em liquefação de gás

Perfin entra com até R$ 450 milhões na empresa, que começa a rodar negócio de descarbonização de transporte de cargas

José de Moura Jr, CEo da VirtuGNL (Foto Divulgação)
José de Moura Jr, CEo da VirtuGNL | Foto Divulgação

RIO – Com o aporte de capital da Perfin Infra, a VirtuGNL espera escalar o desenvolvimento de corredores de transporte pesado a gás natural no Brasil e verticalizar ainda mais o negócio: a companhia tem planos de entrar no elo da liquefação em projetos futuros.

A VirtuGNL tem se posicionado no mercado como uma fornecedora de soluções de descarbonização no setor de transportes e aposta no uso de gás natural liquefeito (GNL) em substituição ao diesel, de olho em especial na demanda do agronegócio.

O primeiro projeto, nesse sentido, partiu de uma parceria com a Eneva, no Maranhão. Em entrevista à agência eixos, o CEO da VirtuGNL, José de Moura Júnior, conta que a empresa pretende agora ampliar sua presença por meio de novas parcerias.

A companhia, segundo ele, negocia com um outro produtor onshore de gás, para replicar o case. Dessa vez, porém, a ideia da Virtu é avançar mais um passo na cadeia de valor e investir em conjunto na planta de liquefação que abastecerá o novo projeto – no Maranhão, esse investimento coube à Eneva.

“Existem outras empresas de upstream [exploração e produção de gás] que estão querendo entrar nesse projeto de descarbonização de rodovia”.

“A VirtuGNL nasceu investindo no transporte. Aí, depois, investiu no posto [de abastecimento] e no caminhão. Agora, nós temos interesse em investir na liquefação: avançar na cadeia de valor. Do berço ao túmulo”, disse o executivo. 

Capital reforçado

A Perfin Infra anunciou nesta segunda (3/2) um investimento de até R$ 450 milhões de equity na VirtuGNL. Com o investimento, a Perfin assumirá 50% do capital da empresa e passará a exercer o co-controle da companhia.

O investimento será feito por meio de debêntures conversíveis em ações. A primeira fase do aporte será no valor de R$ 100 milhões – o aumento do investimento está atrelado ao cumprimento de gatilhos, como a conclusão de novos contratos.

“Daí para frente a gente vai crescendo à medida que a gente vai entendendo que o mercado está absorvendo bem o que a gente tem trazido”, afirma a COO da Perfin Infra, Carolina Rocha.

Só em 2025, o plano de investimento da VirtuGNL é de R$ 700 milhões. O foco está na entrega das primeiras centrais de descarbonização rodoviária (CDRs) – os pontos de abastecimento que sustentam a frota de caminhões a GNL da companhia.

A ideia é que a necessidade de capital para sustentar o plano de negócios seja complementada, no futuro, com a emissão de dívida – Banco do Nordeste (BNB), Banco da Amazônia (Basa) e BNDES são algumas das possibilidades.

Moura afirma que, com o aporte da Perfin, a VirtuGNL aumenta a sua capacidade de alavancagem para mais de R$ 2 bilhões.

Empresa começa a rodar o negócio

No fim de 2024, a GNL Brasil (joint venture entre VirtuGNL e Eneva) começou a atender os primeiros clientes industriais no Maranhão: Suzano e Vale, que consomem o gás produzido no Complexo Parnaíba.

O projeto de distribuição de GNL small-scale, nesse caso, prevê a entrega de gás via carretas (também movidas a gás) a partir da planta de liquefação construída pela Eneva no Complexo do Parnaíba até as fábricas das duas companhias, em Imperatriz e São Luís (MA), respectivamente. 

Este ano, a VirtuGNL começou a rodar uma segunda fase do projeto no Maranhão: o transporte de cargas variadas via caminhões a gás – em vez de transportar o GNL para grandes clientes, como Vale e Suzano, o plano é transportar qualquer tipo de mercadoria usando os caminhões a GNL, em substituição ao diesel.

A VirtuGNL tem, hoje, segundo Moura, R$ 2,5 bilhões em contratos assinados com clientes – dentre os quais a Yara Fertilizantes, Vibra e Cofco, companhia chinesa que opera com commodities agrícolas.

Os primeiros caminhões a serviço da Yara, na rota São Luís-Balsas, no Maranhão, começaram a rodar em janeiro. Em março, a expectativa é começar a prestar os serviços para a Vibra, em Paraupebas, no Pará.

Para sustentar o crescimento desse negócio, a VirtuGNL ampliou o volume de GNL contratado junto à Eneva, de 35 mil m3/dia para 150 mil m³/dia de gás equivalente – com a opção escalar esse volume em mais 600 mil m³/dia no futuro.

“A gente começa a materializar uma tese [de investimentos]”, comenta o diretor de Marketing, Comercialização e Novos Negócios da Eneva, Marcelo Lopes Cruz.

Por ora, a Virtu abastecerá com GNL apenas a sua frota própria de caminhões – e a ideia é atingir a marca de 700 veículos este ano e de 1,5 mil em 2026, a depender da evolução do negócio.

Hoje, a companhia tem autorização da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para um projeto piloto que só permite o auto-abastecimento de caminhões com GNL. No futuro, porém, a ideia é que o negócio evolua para abastecimento também de frota de terceiros.

Presença nacional

As três primeiras CDRs serão entregues pela VirtuGNL no Maranhão e no Pará entre março e abril. O plano da companhia é construir cerca de 35 centrais do tipo pelo país.

A próxima fronteira é a região Centro-Oeste, de olho na demanda por descarbonização da produção agrícola até o Porto de Santos.

A VirtuGNL tem um pré-acordo vinculante assinado com a Edge, para aquisição de 150 mil m3/dia, em gás natural equivalente, a partir do Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP), na Baixada Santista. 

Tendo o TRSP como fonte de suprimento, a Virtu GNL pretende instalar CDRs em Cubatão (SP), Limeira (SP), Uberlândia (MG) e Rio Verde (GO).

A expectativa da companhia é começar a construção desses pontos ainda este ano.

Assim, a empresa fecha o projeto de um grande corredor a gás que conectará, no futuro, o litoral de São Paulo ao Maranhão.

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