Diálogos da Transição

Falta política pública para novas energias se instalarem no Brasil

De eólica offshore a biocombustíveis avançados, investidores estão de olho no potencial brasileiro, mas indefinições regulatórias empurram negócios para os vizinhos

Eletrobras e Shell vão estudar eólica offshore juntas. Na imagem: Turbinas eólicas no mar (Foto: Divulgação/Fugro)
(Foto: Divulgação/Fugro)

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Editada por Nayara Machado
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Hidrogênio, amônia e metanol verdes, combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), eólicas offshore e captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS) são a nova fronteira tecnológica na transição energética e prometem movimentar trilhões de dólares nas próximas décadas.

Estados UnidosUnião Europeia, Japão, China, Austrália e até nossos vizinhos latinoamericanos Chile e Colômbia já estruturaram suas políticas para atrair esse capital e desenvolver a indústria doméstica verde e preparada para novos modelos de consumo.

O Brasil, no entanto, está ficando para trás.

Para Erasmo Carlos Battistella, o CEO da Be8, uma das primeiras coisas que o país precisa fazer é aprovar um marco legal que garanta que vamos produzir e utilizar biocombustíveis da nova geração, como SAF e diesel verde.

Política que está no radar do governo federal com o programa Combustível do Futuro, engavetado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) no final da gestão de Jair Bolsonaro (PL) e resgatado pela equipe do presidente Lula (PT).

Em entrevista à agência epbr, Battistella defende um marco para os biocombustíveis dando segurança ao etanol e biodiesel, que já existem, ao mesmo tempo em que traz previsibilidade de inserção de novas rotas tecnológicas na matriz.

O executivo é um dos 246 empresários que integram o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o “Conselhão”, recriado por Lula para auxiliar na formulação de políticas públicas.

O CEO conta que sua agenda no grupo será focada em três pontos: biocombustíveis como a principal rota de descarbonização e transição energética, o Brasil se posicionando como um dos grandes fornecedores globais desses produtos e aproveitar a influência brasileira para construir um alinhamento no Mercosul de políticas de produção e utilização dos renováveis. Leia a entrevista completa

Eólicas offshore

A ausência de um marco legal para a instalação de parques eólicos offshore é mais um empecilho para o avanço de projetos no Brasil, segundo executivos de empresas interessadas no negócio. Eles alertam que a competição por capital é global e o país pode perder oportunidades.

A insegurança se dá pela ausência de lei para concessão do direito de explorar as áreas marítimas.

Discute-se ainda se os projetos estarão sujeitos a cobranças adicionais pela energia gerada nas áreas públicas – uma espécie de royalties destinado à União, estados e municípios –, entre outros pontos.

“[O capital] é extremamente volátil. É fácil tomar decisões e falar: “na Colômbia, por exemplo, está andando bem mais rápido, vamos colocar então. [Ou] então, vamos jogar ali no Vietnã, que eles também já estão com apetite bem maior e bem mais rápido”, afirma Diogo Nóbrega.

O executivo está à frente dos projetos no Brasil da Copenhagen Infrastructure Partners (CIP) e da Copenhagen Offshore Partners (COP) no Brasil, gestoras de fundos europeus com US$ 20 bilhões sob administração.

“Esses dezenove bilhões [de euros] estão olhando para todos os países”, afirma Nóbrega. No Brasil, a CIP/COP estima aportes de US$ 6 bilhões para o desenvolvimento de quatro parques eólicos em alto mar, com 7 GW. Confira na reportagem de Gabriel Chiappini

Os sinais do governo Lula

A promessa é de uma reindustrialização verde, olhando justamente para essas tecnologias emergentes e o papel do Estado como indutor de investimentos.

A transição energética é tema recorrente nos discursos do Poder Executivo desde o primeiro dia de governo e foi incorporada na estrutura de mais de uma dezena de ministérios com a intenção de ser uma agenda transversal.

Petrobras no mesmo caminho

O presidente da petroleira, Jean Paul Prates, defende publicamente que a companhia deve “aplicar a experiência e a excelência técnica” no desenvolvimento de “bioprodutos e em novas fronteiras de energia renovável, em busca de oportunidades para diversificação das operações”.

O executivo reforça que novos negócios de energia, como o investimento da companhia em eólicas offshore, estão integrados com o perfil da Petrobras.

Passando do discurso à prática, a companhia criou a diretoria de Transição Energética e Energias Renováveis, chefiada por Maurício Tolmasquim, e estuda investimentos em eólicas offshore e captura de carbono.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Parceria renovável

A White Martins anunciou esta semana sua participação societária no Complexo Solar Futura I, da Eneva, em Juazeiro, na Bahia. A negociação foi aprovada sem restrições pelo Cade. O complexo fornecerá energia principalmente para a empresa de gases industriais. É um dos maiores parques fotovoltaicos das Américas e do mundo, com 1,5 milhão de placas solares instaladas em uma área equivalente a 1.550 campos de futebol.

Mercado livre aquecido…

O consumo de eletricidade no mercado livre de energia cresceu 10,7% nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro de 2023, quando atingiu 26.959 MW médios – o maior patamar de consumo já registrado, de acordo com a Abraceel. Em termos de unidades consumidoras, o mercado livre de energia cresceu 17% nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro, acumulando 4.609 novas unidades consumidoras no período.

Com isso, o ambiente de contratação passou a somar 32.142 unidades consumidoras, agrupadas em 11.265 consumidores. Cada unidade consumidora equivale a um medidor de energia. Em fevereiro de 2023, o custo da energia, que é um dos componentes da tarifa elétrica, foi de R$ 278/MWh no mercado regulado e de R$ 100/MWh do mercado livre, uma diferença de 64%.

…energia compartilhada também

A cooperativa de energia compartilhada Cogecom divulgou crescimento de 75% da sua energia total comercializada no primeiro trimestre de 2023 em relação ao ano anterior. Em 2022, a marca atingiu 200 milhões de kWh/mês comercializados desde 2017. Somente no primeiro trimestre deste ano, o acumulado chegou a 350 milhões.

A marca atingiu 130% de crescimento no primeiro semestre de 2022, encerrando o ano passado com 20 mil unidades consumidoras. Agora, no primeiro trimestre de 2023, esse número saltou para 30 mil UCs. A marca espera chegar a 600 milhões de kWh/mês e 60 mil unidades consumidoras até dezembro, em oito estados brasileiros.