BUENOS AIRES — A integração entre Brasil e Argentina no mercado de gás natural será construída a partir do protagonismo do setor privado, defendeu nesta quarta-feira (11/6) o subsecretário de Combustíveis Líquidos e Gasosos do país vizinho, Federico Veller.
Em entrevista ao estúdio eixos, durante o Midstream & Gas Day 2025, evento organizado pelo Econojournal, em Buenos Aires, Veller destacou que aos governos nacionais caberá o papel de assegurar a “convergência regulatória” e “tirar as pedras do caminho”.
“Acreditamos que as decisões têm que ser tomadas por atores privados assumindo e ponderando os riscos e benefícios”, disse.
É um caminho diferente do cenário em que se desenhou a integração gasífera entre Brasil e Bolívia, no fim da década de 1990 – marcada, na ocasião, por um protagonismo estatal assumido, sobretudo, pela Petrobras nos investimentos em infraestrutura e nos esforços comerciais para desenvolvimento da demanda no mercado interno.
Argentina mira convergência com regulação brasileira
Veller cita que uma das primeiras iniciativas assumidas pelo governo argentino para aumentar a competitividade do gás exportado ao Brasil foi reduzir o preço mínimo de exportação de gás natural.
As intervenções no preço mínimo são uma herança do governo de Alberto Fernández e estão previstas nos contratos assinados no Plano Argentino de Fomento à Produção de Gás Natural (Plan Gas.Ar) – que vencem em 2028.
Os próximos passos, segundo ele, passam pela busca por uma “convergência com a regulação tarifária brasileira” no transporte.
Nos primeiros testes de exportação de gás argentino ao Brasil, entre abril e maio, o custo da movimentação do gás pela malha de gasodutos dos três países envolvidos (Argentina-Bolívia-Brasil) se mostrou maior que o preço da molécula argentina, em si.
“Creio que há custos que se podem reduzir no transporte, na conexão com o Brasil. Também será importante trabalhar nisso”, afirmou Veller.
O subsecretário acrescentou, ainda, que a taxa do direito sobre a exportação de 8%, cobrada hoje pela Argentina, também poderá ser reduzida no futuro – mas que isso depende da evolução do quadro fiscal no país vizinho.
Testes impõem agenda de competitividade
Inaugurada a rota via Bolívia, pelos primeiros testes de importação de gás argentino, é hora, agora, de superar gargalos logísticos que ainda limitam os volumes; e avançar na agenda da competitividade para baixar os custos envolvidos, já que os primeiros testes ainda não refletem o nível de preço desejado, como mostrou a gas week.
O Ministério de Minas e Energia (MME) calcula que, pela estrutura atual de custos da cadeia do gás dos três países envolvidos, o gás argentino chega na fronteira do Brasil a entre US$ 8,96 e US$ 10,15 o milhão de BTU.
Para efeitos de comparação, o gás boliviano chega a US$ 6,6 o milhão de BTU e o preço da molécula da Petrobras era, ao fim de 2024, de cerca de US$ 9 o milhão de BTU.
Desde abril, alguns produtores argentinos já realizaram os primeiros testes de exportação ao Brasil:
- a estreia coube à TotalEnergies, numa operação com a MTX Comercializadora de Gás Natural, subsidiária da Matrix Energy, e que envolveu tanto o gás produzido em Vaca Muerta como no offshore da Bacia Austral, na Terra do Fogo;
- a Tecpetrol, empresa do Grupo Techint (controladora da Ternium, Usiminas e Tenaris), anunciou seu piloto, na sequência, com a Edge, comercializadora do grupo Compass, com gás oriundo da Bacia Noroeste; e depois com a MGás (joint venture entre o grupo J&F e a Inner Grow);
- a Pluspetrol enviou gás de Vaca Muerta para a Gas Bridge, seu braço de comercialização no Brasil;
- e a Pampa Energía testou um envio de gás, também de Vaca Muerta, para a Tradener
Além delas, a Pan American Energy (com o seu próprio braço de comercialização, a PAE do Brasil, além de acordos com a Tradener e Comgás) e a Oilstone Energía (com a MGás) também têm autorização do governo argentino para enviarem gás ao Brasil. Mais recentemente, foi a vez da YPF se posicionar, ao fechar acordo com a Tradener para envio de gás ao Brasil – a estatal argentina ainda aguarda o aval do governo local.
Do lado brasileiro, as autorizações para importação de gás argentino dispararam desde 2024. Foram 15 novas autorizações publicadas no período, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Veja a lista
O caso mais recente foi o da Eneva, que tem acordos celebrados com a Total Austral (TotalEnergies) e com a Pampa Energía para importar molécula da Argentina.