EVEx Lisboa 2025

Mundo está 'cada vez mais dependente de várias formas de energia', diz presidente da Ense de Portugal

Transição energética pressupõe convívio entre renováveis e fósseis, na avaliação do presidente da Entidade Nacional para o Setor Energético (Ense), Alexandre Fernandes

LISBOA — A transição energética passa pela diversificação da matriz energética e isso pressupõe o convívio entre as fontes renováveis e fósseis, na avaliação do presidente da Entidade Nacional para o Setor Energético (Ense), de Portugal, Alexandre Fernandes.

Em entrevista exclusiva ao estúdio eixos, durante a EVEx Lisboa 2025, ele cita que, até pelo caráter intermitente da geração de fontes renováveis, como a solar e eólica, “cada vez estamos mais dependentes de várias formas de energia”. Assista na íntegra acima.

“Vai haver um dia em que não há vento, não há chuva ou não há sol. Pode acontecer… Obviamente, uma das componentes estará lá, mas pode não estar na quantidade que nós precisamos para arrancar o nosso sistema energético com a potência que queremos naquele dia.”

“E isso quer dizer o quê? Quer dizer que cada vez estamos mais dependentes de várias formas de energia”, comentou.

A Ense é a entidade responsável pela gestão das reservas estratégicas nacionais de petróleo e derivados em Portugal e assume a qualidade de Entidade Central de Armazenagem. Também responde pela fiscalização e supervisão do setor energético.

Fernandes cita o caso de Portugal, para ilustrar a interdependência das fontes renováveis e fósseis. Ele lembra que o país abandonou a geração a carvão, mas que é dependente da importação de energia.

“E aí pode ser que no país que nos está a vender tenha ainda a matriz carbônica. O que, na realidade, não é um problema. Faz parte da matriz”, comentou.

Renováveis serão importantes para urbanização

Fernandes destaca que a demanda per capita por energia, no mundo, deve triplicar em 2030, ante os patamares da década de 2010, impulsionada pelo crescimento urbano.

Ele cita que, nos dias atuais, cerca de 60% das pessoas já trabalham em centros urbanos e que essas cidades necessitam de tudo o que mantém seu funcionamento: transportes, energia para habitação, trabalho, iluminação pública, além de recursos para comunicação, telecomunicação e informática.

E alerta que, para atender a esse perfil de consumo, a energia “tem que ser fundamentalmente mais renovável”.

“Temos que entrar mais na componente hídrica, mais na componente solar, mais na componente eólica, mais na integração de bioenergia nos combustíveis. Ou seja, aquilo que é o nosso combustível, ele tem que ser mais bio”, detalha o presidente da Ense.

Mitigação local de emissões

A eletrificação de veículos em áreas urbanas também contribui para mitigar emissões.

Fernandes observa que, se 80% da matriz elétrica for renovável, a emissão de carbono dos veículos elétricos é teoricamente reduzida nessa proporção, ainda que seja necessário contabilizar a produção de baterias e veículos.

“Se nós começarmos a verificar que um em cada quatro, um em cada três veículos vendidos no ano já são elétricos, significa que, tendo a maioria da população vivendo em cidades, esse veículo, pelo menos nessa cidade, tem um nível carbônico mitigado”, destaca.

Do lado da oferta

Fernandes avalia que a produção global de petróleo e gás natural ainda consegue atender ao crescimento da demanda. Ele cita que o consumo mundial diário de produtos petrolíferos ultrapassou recentemente 100 milhões de barris, enquanto a produção de gás natural manteve crescimento de 2,8% em 2024.

“Nas energias convencionais, eu diria que há capacidade de aumentar essa produção e essa oferta. Depois, poderíamos dizer, é equilibrada? Não é equilibrada? Está já a ferir a sustentabilidade do planeta? É uma discussão”, pondera.

Fernandes reforça que a transição energética deve ser integradora, sem deixar setores ou regiões para trás, principalmente aqueles com maior intensidade de carbono.

Principais pontos da entrevista:

  • Crescimento global da demanda de energia deve triplicar nas próximas décadas.
  • urbanização de 60% da população mundial, exigindo energia para habitação e trabalho, transporte, iluminação, telecomunicações e informática etc
  • Crescimento da capacidade renovável como a hídrica, solar e eólica é essencial para expansão sustentável.
  • Necessidade de integração de bioenergia nos combustíveis para que se tornem cada vez mais “bio”
  • Eletrificação reduz emissões diretas de carbono, embora seja necessário considerar emissões associadas, como na produção de baterias e VEs.
  • Barreira tecnológica em motores de combustão limita incorporação de biocombustíveis em veículos e navios.
  • Transição energética de combustível marítimo fóssil para gás natural em cargueiros reduz intensidade de carbono, porém exige adaptação de motores.
  • Diversificação do suprimento evita fragilidade diante da intermitência de fontes renováveis e limita dependência de importações de energia fóssil.
  • Produção global de petróleo e gás ainda consegue acompanhar crescimento da demanda, com oferta crescente e impacto social e econômico positivo.
  • Expansão rápida de energias renováveis em países com agendas de transição, como Portugal, Alemanha, Brasil e China.
  • Transição energética deve ser integradora, sem deixar setores ou regiões mais intensivos em carbono para trás.
  • Eletrificação urbana, combinada com matrizes renováveis, contribui para reduzir emissões locais de carbono e melhora a qualidade do ar.

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