BRASÍLIA – O governo dos Estados Unidos quer estabelecer padrões mais rígidos para as emissões de CO2 oriundas do setor de transportes. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) propôs, nesta quarta (12/4), novas regras projetados para acelerar a transição para veículos elétricos (VEs).
O objetivo é incentivar as montadoras de carros e caminhões a avançarem na oferta de modelos a bateria para acelerar a transição energética nos EUA. As regras deverão valer para os veículos produzidos a partir de 2027.
Segundo a EPA, dependendo do caminho escolhido pelos fabricantes para atender aos padrões, os VEs podem representar 67% das vendas de novos carros leves e 46% das vendas dos modelos médios em 2032.
Ao mesmo tempo, a proposta quer resultar em uma queda de 56% nos níveis de gases de efeito estufa (GEE), no caso de veículos leves, e 44% considerando veículos médios, em comparação aos padrões de 2026.
O órgão também estima que os parâmetros evitariam a emissão de aproximadamente 10 bilhões de toneladas de CO2 até 2055, o equivalente a mais de duas vezes o total de emissões de GEE dos EUA em 2022.
Política de eletrificação
Em agosto de 2021, o presidente dos EUA, Joe Biden, emitiu uma ordem executiva pedindo que metade de todas as vendas de carros e caminhões novos nos EUA fossem modelos elétricos até o final da década.
Desde então, o comércio de VEs triplicou e o país viu um aumento de 40% no número de carregadores públicos, totalizando mais de 130.000 espalhados pelo território estadunidense.
Somente em 2022, a participação dos VEs do mercado de veículos novos se situou em cerca de 7%.
De olho nas oportunidades, as indústrias estão antecipando seus cronogramas de eletrificação. Fabricantes como General Motors, Ford e Stellantis se comprometeram a comercializar entre 40% a 50% de eletrificados nos EUA até 2030, investindo no desenvolvimento de tecnologias e na construção de fábricas.
De acordo com o administrador da EPA, Michael Regan, as metas mais rigorosas são consequências do programa federal Investing in America, do governo Biden, e poderão impulsionar os eletrificados e garantir a competitividade dos EUA no mercado global.
A iniciativa é mais um dos esforços da agenda de Biden para o combate à crise climática. Ano passado, o país aprovou a Lei de Redução da Inflação (IRA) para destinar US$ 369 bilhões para projetos voltados à transição e segurança energética.
Desde a sanção da IRA, o setor privado conferiu mais de US$ 120 bilhões em VEs e baterias em investimentos domésticos.
Independência dos fósseis
Os efeitos positivos das medidas são estimados em um valor significativamente maior do que os custos associados a sua implementação, segundo a avaliação da EPA.
A expectativa da agência é que a busca por opções mais limpas resulte na diminuição de cerca de 20 bilhões de barris nas importações de petróleo, reduzindo os custos em pelo menos US$ 1 trilhão.
Além disso, as novas regras podem reduzir os gastos com manutenção, proporcionando mais economia para motoristas e operadores de caminhões. A EPA calcula que os consumidores economizariam aproximadamente US$ 12 mil, em média, ao longo da vida útil de um veículo leve.
Apelo ambiental
As propostas também vão ajudar o país a cumprir as metas do Acordo de Paris, visto que o transporte gera mais GEE do que qualquer outro setor em território nacional. Os EUA poderão reduzir as emissões em 50% a 52% abaixo dos níveis de 2005 até 2030, diz a EPA.
As medidas pretendem gerar, ainda, melhorias na saúde pública, especialmente em comunidades afetadas pela má qualidade do ar, comentou o administrador da agência governamental.
“Estamos cumprindo a promessa do governo Biden-Harris de proteger as pessoas e o planeta, garantindo reduções críticas na poluição perigosa do ar e do clima e garantindo benefícios econômicos significativos, como menor consumo de combustível e manutenção de custos para as famílias”, assegurou Regan.
O que dizem os fabricantes?
O executivo-chefe da Alliance for Automotive Innovation, grupo comercial que representa as montadoras de automóveis e baterias, John Bozzella, classifica a proposta da EPA como “agressiva em qualquer medida”, em uma entrevista à Bloomberg.
Bozzella afirma que as propostas excedem a meta de 50% de vendas de veículos elétricos do governo Biden para 2030, anunciada há menos de dois anos. E questiona a velocidade em que as mudanças poderão ser feitas. “A rapidez dependerá quase exclusivamente de ter as políticas corretas e as condições de mercado em vigor”.
Na Europa, produtores de combustíveis em alerta
Em fevereiro de 2023, a União Europeia propôs uma atualização dos padrões graduais para a mitigação CO2 nos transportes pesados: 45% de redução de emissões a partir de 2030; 65% a partir de 2035; 90% a partir de 2040 em relação aos níveis de 2019.
O bloco trava uma disputa com as principais empresas de óleo e gás dos países-membros do bloco, que alegam restrição da atuação das indústrias de combustíveis.
A associação dos produtores europeus de combustíveis, FuelsEurope, pede a alteração da proposta, argumentando que as mudanças trariam riscos ao mercado de combustíveis líquidos.
Já em março, a UE aprovou uma lei para banir as vendas de novos veículos leves que emitem CO2 em 2035, em uma guinada para a eletrificação. O novo regulamento não bane totalmente os veículos a combustão, deixando espaço para eletrocombustíveis – isto é, derivados de hidrogênio e captura de CO2.
A partir de 2030, todos os carros novos vendidos nos países membros deverão emitir 55% menos CO2, em comparação com os níveis de 2021.