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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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O novo presidente da Frente Parlamentar de Recursos Naturais e Energia, senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB/PB), assume a cadeira deixada por Jean Paul Prates (PT), ex-senador pelo Rio Grande do Norte, com uma pauta cara a montadoras e usineiros: etanol protagonista na transição energética brasileira.
Em entrevista à agência epbr, o senador sinaliza uma preocupação com iniciativas estrangeiras que buscam a eletrificação total da frota e restrições severas ao uso de motores à combustão.
“Qual é esse impacto para uma economia que tem essa vasta dimensão de cultura canavieira, por exemplo? Você tem que levar em consideração a realidade do país”, questiona Vital do Rêgo.
“Não há dúvida que, onde couber esses investimentos [em transição da frota], serão bem vindos. Só não dá para substituir”. Leia na reportagem de Larissa Fafá
Na última semana, a União Europeia chegou a um acordo para proibir as vendas de carros novos que emitem CO2 em 2035, em uma guinada para a eletrificação. O novo regulamento não bane totalmente os veículos a combustão, deixando espaço para eletrocombustíveis – isto é, derivados de hidrogênio e captura de CO2.
Embora seja válida apenas para o mercado europeu, é uma decisão que preocupa segmentos da indústria em diferentes países, pelo potencial de influência nas discussões políticas locais.
Mobilização
Por aqui, setor sucroenergético e montadoras estão mobilizados para preservar o motor flex, quase hegemônico nos veículos leves vendidos no mercado nacional.
Estratégia é unir etanol, eletrificação e hidrogênio. Em janeiro, usineiros levaram ao novo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ideias para que diferentes rotas de descarbonização no transporte convivam de forma “estratégica e alinhada”.
- Agenda promete movimentar Congresso e Executivo em 2023: ‘PIB do hidrogênio verde’ se articula por política industrial
Silveira, por sua vez, tem um discurso alinhado com o do setor. “Vamos acelerar o processo de descarbonização da nossa matriz de combustíveis, ampliando o uso de biocombustíveis”, disse na sexta (31/3), durante um evento virtual sobre mobilidade na Costa Rica.
Segundo o ministro, o futuro da mobilidade de baixo carbono passa pela “coordenação de políticas públicas que valorizem o patrimônio tecnológico que o país possui na produção e uso de bioenergia”.
Estratégias
Os híbridos flex já lideram as vendas de eletrificados no Brasil: em 2022, responderam por 62% dos emplacamentos na categoria.
Outra aposta do mercado é a célula a combustível, a partir de uma tecnologia que permite a conversão do etanol em hidrogênio, no posto ou no próprio veículo, para geração de eletricidade.
Volkswagen, Raízen e Shell, por exemplo, são parceiras em um centro de P&D em biocombustíveis, cuja proposta é pesquisar fronteiras do uso do etanol como modelo de eletrificação via célula a combustível, com foco também na exportação.
Na Universidade de São Paulo (USP), Shell, Raízen, Hytron e Senai CETIQT estão investindo em plantas dedicadas à produção de hidrogênio a partir do etanol e um posto de abastecimento para ônibus que circula na Cidade Universitária, em São Paulo.
As plantas serão capazes de produzir inicialmente 5 kg/h de hidrogênio, mas há planos de escalar a produção para 44,5 kg/h. O combustível substituirá o diesel em um dos ônibus utilizados pelos estudantes no campus da USP.
A Toyota, líder nas vendas de híbridos flex no Brasil, também está investindo na célula a combustível hidrogênio. O projeto piloto que estuda a viabilidade no país foi apresentado em maio do ano passado.
Etanol vs elétricos:
- Eletrificação brasileira deve avançar em nichos
- Etanol está se reinventando para suprir demanda por novos combustíveis
- Biomassa com captura de CO2 na aposta brasileira para zerar emissões
- Montadoras estão distantes de 1,5°C, diz think tank
E ainda…
Só etanol
Montadoras cogitam lançar modelos populares (R$ 50 a R$ 60 mil) movidos exclusivamente a etanol. O segmento popular morreu em anos recentes e o setor enfrenta uma onda de baixa nas vendas, agravada pela persistência dos altos juros no Brasil. Assunto foi levado ao MDIC, segundo Eduardo Sodré, na Folha.
Removendo CO2
Plantio de cana no Brasil removeu 196 milhões de toneladas de CO2 em duas décadas, diz estudo realizado pela Unicamp, Embrapa e Agroicone. A redução da pegada de carbono da produção da cana-de-açúcar é parte de uma estratégia para tornar o etanol mais atrativo, diante da força da eletrificação como alternativa de transição para veículos leves.
RenovaBio
A ANP publicou, nesta segunda (3/4), as metas de aquisição de créditos de descarbonização (CBIOs) das distribuidoras de combustíveis em 2023. As aquisições correspondem à quantidade de emissões de gases do efeito estufa que cada distribuidora deve compensar pela comercialização de combustíveis fósseis no ano de 2022. Juntas, elas terão que adquirir 37,5 milhões de CBIOs este ano. Veja as metas individuais no Diário Oficial
Disputa verde
EUA e Europa discutem acordo de minerais críticos para evitar uma guerra comercial e reduzir as dependências comerciais da China e da Rússia. A ideia é que os EUA forneçam às empresas da UE maior acesso a alguns dos subsídios e créditos fiscais da Lei de Redução da Inflação.
O país norte-americano quer criar um clube de economias que concordem em reduzir sua dependência da China para matérias-primas como lítio, cobalto, níquel e magnésio, ingredientes-chave para motores elétricos e baterias. EUA e Japão assinaram um acordo semelhante em março. Bloomberg